Primórdios do Movimento Reformado no Brasil
Por: Alderi Souza de Matos.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
Os primeiros calvinistas chegaram ao Brasil
ainda no começo da sua história. No final de 1555, um grupo de franceses
liderados por Nicolas Durand de Villegaignon instalou-se em uma das ilhas da
baía de Guanabara. Um ano e meio mais tarde, chegou à "França
Antártica" um grupo de colonos e pastores reformados enviados pelo próprio
João Calvino, em resposta a um pedido de Villegaignon. No dia 10 de março de
1557 esses evangélicos realizaram o primeiro culto protestante no Brasil e
possivelmente no Novo Mundo. Eventualmente, surgiram desavenças teológicas
entre Villegaignon e os calvinistas. Cinco deles foram presos e forçados a
escrever uma declaração de suas convicções. O resultado foi a bela
"Confissão de Fé da Guanabara." Com base nessa declaração, três dos
calvinistas foram executados e um deles foi poupado por ser o único alfaiate da
colônia. O quinto autor da confissão de fé, Jacques le Baleur, conseguiu fugir,
mas eventualmente foi preso e mais tarde enforcado. Dentre os que conseguiram
retornar para a França estava o sapateiro Jean de Léry, que mais tarde
tornou-se pastor e escreveu a célebre obra Viagem à Terra do Brasil.
A próxima tentativa de introdução do
calvinismo no Brasil ocorreu em meados do século XVII através dos holandeses.
No contexto da guerra contra a Espanha, a Companhia das Índias Ocidentais
ocupou o nordeste brasileiro por vinte e quatro anos (1630-1654). O mais famoso
governante do Brasil holandês foi o príncipe João Maurício de Nassau-Siegen
(1637-1644). Embora os residentes católicos e judeus tenham gozado de
tolerância religiosa, a igreja oficial da colônia foi a Igreja Reformada da
Holanda, que realizou uma grande obra pastoral e missionária. Ao longo dos anos
foram criadas 22 igrejas e congregações, dois presbitérios (Pernambuco e
Paraíba) e até mesmo um sínodo (1642-1646). Além da assistência aos colonos
europeus, a igreja reformada fez um grande trabalho missionário junto aos
indígenas. Ao lado da pregação e ensino, houve a preparação de um catecismo na
língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução das Escrituras e a ordenação
de pastores indígenas, o que não chegou a efetivar-se. Com a expulsão dos
holandeses, as igrejas nativas vieram a extinguir-se e por um século e meio
desapareceram os vestígios do calvinismo no Brasil.
O protestantismo em geral e o presbiterianismo
em particular só puderam estabelecer-se definitivamente no Brasil após a
chegada da família real em 1808. Em 1810, Portugal e a Inglaterra firmaram um
Tratado de Comércio e Navegação cujo artigo XII pela primeira vez em nossa
história concedeu liberdade religiosa aos imigrantes protestantes. Logo, muitos
deles começaram a chegar de diversas regiões da Europa, inclusive reformados
franceses, suíços e alemães. Em 1827, por iniciativa do cônsul da Prússia, foi
fundada no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, que
congregava luteranos e calvinistas.
Durante várias décadas, o calvinismo ficou
restrito às comunidades imigrantes, sem atingir os brasileiros. Os poucos
pastores reformados ou presbiterianos que por aqui passaram restringiram suas
atividades religiosas aos estrangeiros. Tal foi o caso do Rev. James Cooley
Fletcher, um pastor presbiteriano norte-americano que teve uma longa e
frutífera ligação com o Brasil a partir de 1851. Ele deu assistência religiosa
a marinheiros e imigrantes europeus, procurou aproximar o Brasil e os Estados
Unidos nas áreas diplomática, comercial e cultural e escreveu o livro O Brasil
e os Brasileiros, publicado em 1857. Através de seus contatos com políticos e
intelectuais brasileiros, Fletcher contribuiu indiretamente para a introdução
do protestantismo no Brasil. Foi por sua sugestão que o missionário congregacional
inglês Robert Reid Kalley veio para o Brasil em 1855.
Finalmente, o presbiterianismo foi implantado
entre os brasileiros graças ao trabalho do Rev. Ashbel Green Simonton
(1833-1867), que chegou ao Brasil em 12 de agosto de 1859 e dois anos e meio mais
tarde organizou a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (12-01-1862). Em março
de 1865, seu colega e cunhado Alexander Latimer Blackford organizou a segunda
comunidade presbiteriana em terras brasileiras, a Igreja Presbiteriana de São
Paulo.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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