Compaixão apenas para os eleitos!!!
Autor: Rev. Prof. Dr. Herman
Hanko. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr.
Albuquerque G. C.
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“Mas, vendo a multidão, compadeceu-se deles, porque desmaiaram e andaram dispersos como ovelhas que não têm pastor”. (Mateus 9:36).
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A pergunta que consideramos desta vez é: "Por
que o Senhor Jesus teve compaixão da multidão se Deus não tem compaixão dos
ímpios réprobos?" O texto que acabamos de citar é referido
especificamente. Que não haja dúvida de que Deus só tem compaixão de Seu povo.
Compaixão é o mesmo que piedade ou misericórdia.
E misericórdia é aquele atributo de Deus segundo o
qual Ele vê a miséria de Seu povo por causa de seu pecado, anseia livrá-los de
sua miséria e se propõe a torná-los eternamente felizes. A misericórdia de Deus
é, no entanto, sempre soberana. Ou seja, a misericórdia de Deus não é apenas
uma mera atitude enquanto Deus é incapaz de realizar aquilo que deseja. A
misericórdia de Deus realmente salva.
Não existe uma figura adequada à qual possamos
recorrer como ilustração dessa verdade. Mas podemos chegar perto com o ato de
salvar um homem se afogando. Se um homem está se afogando em águas profundas e
alguém na praia vê a situação do homem que está se afogando, ele pode ser
movido pela compaixão. Mas a verdadeira compaixão não é ficar na praia torcendo
as mãos e esperando que o homem tenha forças suficientes para nadar até a
praia.
A compaixão não é nem mesmo dar ao homem uma
tábua de salvação quando ele sabe de antemão que o homem está muito perto da
morte para segurá-lo. (Embora isso seja o que os professores da oferta
bem-intencionada sustentam). Não, compaixão é enfrentar as ondas quebrando,
nadar até o homem, agarrá-lo e arrastá-lo para fora do mar bravio. Esta é a
compaixão de Jesus, assim como a de Deus. A compaixão ou misericórdia de Jesus
realmente salva. Esse é o poder de Sua cruz. Mas por que então o texto fala de
compaixão pelas multidões???
Devemos entender, antes de tudo, que a razão
da compaixão de Jesus é dada no texto: "desmaiaram e foram dispersos como
ovelhas que não têm pastor". Essas palavras são uma terrível acusação aos
escribas e fariseus ímpios que afirmavam ser os líderes do povo, mas que eram
falsos pastores que espalhavam o rebanho e apenas tosquiavam as ovelhas - para
seu próprio benefício. Mas Jesus é o bom Pastor, que conhece os seus e é
conhecido por eles. Ele se compadece dos que estão dispersos e se propõe a
conduzi-los aos verdes pastos da salvação.
Mas por que a compaixão pela multidão? Isso
não implica que Jesus tem compaixão de todos naquela multidão, cabeça por
cabeça, incluindo os réprobos na multidão?
Não, não significa isso, e não pode significar
isso. A resposta está em uma grande verdade das Escrituras que, se as pessoas
tivessem acesso, nunca seriam arminianas em seu pensamento. Essa verdade é que
Deus sempre lida "individualmente" com os homens.
Não gosto de introduzir uma palavra que quase
ninguém entende em nossos dias de individualismo crasso; mas é um termo
crucial. Posso apenas sugerir as ideias aqui, e nossos leitores podem perguntar
mais sobre isso e me darem a oportunidade de discutirmos em outros artigos.
O texto olha a multidão do ponto de vista de
sua unidade orgânica. Fazemos isso o tempo todo em nossas próprias vidas. Nós
olhamos para famílias e nações do ponto de vista de sua unidade como um
organismo. Podemos dizer, por exemplo, que a Inglaterra se tornou apóstata.
Isso significa que não há povo de Deus na Inglaterra? Claro que não. Mas
significa que a nação, tomada como uma unidade corporativa ou orgânica, é
apóstata.
Podemos dizer que nos dias que se seguiram à
primeira Assembleia Geral na Escócia, a nação se tornou cristã. Isso significa
que todos na nação foram eleitos? Claro que não. Mas significa que a nação,
tomada como um todo, viveu de acordo com as Escrituras.
É esta ideia orgânica que a Escritura usa
quando compara a igreja com várias criaturas no mundo de Deus. A igreja é uma
videira (Salmo 80, Jo 15), embora os ramos sejam cortados e a videira quase
destruída. A igreja é uma vinha (Is 5:1-7), embora tenha produzido frutos
silvestres. É uma vinha porque Deus tem Seus eleitos lá e Ele olha para Sua
igreja como um todo do ponto de vista de Seu propósito com a igreja, ou seja,
levá-la à glória.
As Escrituras chamam a igreja em Corinto (ou
Éfeso, ou Colossos, ou qualquer outra coisa) a igreja de Cristo, santos,
redimidos, etc. Isso significa que não havia réprobos em Éfeso? ou Corinto? ou
Colosso? Não, mas é a igreja e é chamada de igreja. As Escrituras falam do amor
de Deus por aquela igreja e da compaixão de Cristo. Isso significa que Deus ama
os réprobos? Claro que não.
Suponho que de certa forma se possa falar da
"compaixão" que
um agricultor tem por seu campo de trigo. Ele cuida bem dele, faz o que é
necessário para que o trigo cresça, está profundamente preocupado que nenhuma
peste, doença ou granizo o destrua, e se deleita com seu bem-estar. Isso
significa que o agricultor ama as ervas daninhas que estão lá? tem compaixão
das ervas daninhas? cuida bem das ervas daninhas? Claro que não. É o seu campo
e ele olha para ele e o trata como seu campo de trigo. Assim, Jesus se
compadece da multidão, pois eram como ovelhas sem pastor. Mas essa compaixão
tem o propósito de salvar Seus eleitos.
Autor: Rev. Prof. Dr. Herman Hanko. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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