Os Homens
no sínodo de Dort.
Autor: Rev. Prof. Dr. Hanko Hermann. Traduzido
e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
O Sínodo de Dort foi a maior assembleia de
igrejas reformadas que já se reuniu. Embora alguns possam argumentar que Dort
foi superada em grandeza pela Assembleia de Westminster, que se reuniu menos de
30 anos depois, Westminster não era, como Dort, uma reunião das igrejas reformadas
de toda a Europa. Tampouco os teólogos de Dort eram, em nenhum aspecto,
inferiores em erudição, habilidade no debate e ortodoxia bíblica genuína, do que
os melhores de pensadores de Westminster.
Mas o sínodo era necessário, afinal, por causa dos
hereges presentes na igreja, que estavam empenhados em destruir a fé reformada
porque odiavam as doutrinas da graça soberana. A maravilha é que estes e os fiéis foram
usados por Deus para nos dar nossos preciosos Cânones de Dort. A verdade de
Deus nunca é desenvolvida em uma torre de marfim, longe do campo de batalha em
que as grandes questões da verdade de Deus são decididas. As armas de nossa guerra
espiritual são forjadas em controvérsias doutrinárias. Sempre foi assim. Assim
foi em Dort. Muitas vezes refleti sobre o que faríamos hoje se não fosse o
Sínodo de Dort e os Cânones que ele nos deu. Estremeço ao pensar nisso.
Jacó
Armínio:
Embora Armínio tenha vivido e morrido antes da
reunião do Sínodo de Dort, ele foi o personagem mais importante do drama. A
controvérsia e a heresia que ocasionaram Dort são conhecidas por seu nome, e o
sínodo não teria sido convocado se ele não tivesse espalhado seu veneno pelagiano
pelas igrejas.
Nascido em 1560, ficou órfão quando seus pais foram
mortos pelos espanhóis. Uma *guilda (espécie de ONG); em Amsterdã na Holanda, assumiu
a responsabilidade de apoiá-lo em seus estudos, e isso lhe permitiu adquirir
uma boa e sólida educação reformada em Leiden, Genebra e Basileia.
É impossível dizer quando Armínio começou a
alimentar pensamentos de heresias pelagianas. Pode ter sido durante seus
estudos com Theodore Beza, sucessor de Calvino em Genebra, que era um professor
sensato de todas as verdades da graça soberana. Enquanto foi aluno deste
ilustre professor, seus sentimentos não foram revelados; até que ele se tornou
ministro da Igreja Reformada em Amsterdã na Holanda.
Uma característica dos hereges é a desonestidade.
Armínio nunca foi honesto com a igreja reformada. Quando lhe pediram para
refutar Dirk Coornhert, um teólogo que negava a doutrina da predestinação
soberana, Armínio nunca preparou a resposta e nunca revelou que o motivo era
seu próprio desacordo com essa doutrina crucial da Reforma.
*Recebiam o nome de guildas ou corporações de
ofício as associações formadas por artesãos profissionais e independentes, em igualdade
de condições, surgidas na Baixa Idade Média (séculos XII ao XV) destinadas a
proteger os seus interesses e manter os privilégios conquistados. Outras
guildas, sem relevância econômica, tinham caráter religioso, beneficente ou de
lazer. Além das guildas, existiam também as hansas, associações de comerciantes
que dominavam determinados segmentos do mercado.
Sua duplicidade também apareceu em sua
pregação. Enquanto pregava sobre o livro de Romanos, e particularmente sobre
Romanos 7, ele negou que a descrição de Paulo de si mesmo nos versículos 14-25
fosse uma descrição do apóstolo após sua regeneração. Paulo estava, assim afirmou
Armínio, descrevendo a si mesmo como não regenerado – uma interpretação que
abre a porta para uma negação da depravação total (“O bem que eu faria...”). E
quando ele chegou a Romanos 9, ele negou categoricamente a reprovação soberana.
Eu digo que isso foi duplicidade. Os credos (o
Catecismo de Heidelberg e a Confissão de Fé) que vinculavam as igrejas
reformadas ensinavam claramente essas doutrinas, e Armínio sabia disso. Mas ele
sempre afirmou concordar e ser fiel aos credos. Surpreendentemente, Armínio foi
nomeado professor de teologia na Universidade de Leiden e foi colega de
Gomarus, o homem que se tornou seu inimigo implacável. Aqui também, quando
chamado para dar conta de seus ensinamentos, Armínio foi menos que franco,
desonesto ao extremo e culpado de esconder seus verdadeiros sentimentos o máximo
possível, enquanto continuava a ensinar seus alunos seus pontos de vistas
errôneos. Quando Armínio morreu em 1609 (um ano antes que os cinco Artigos dos
Remonstrantes fossem redigidos), o veneno de seus ensinamentos se espalhou
pelas igrejas reformadas, especialmente através da pregação daqueles que
estudaram com ele e foram desencaminhados por seus ensinamentos das
heresias pelagianas; produzidas no inferno e trazida a mente dos hereges pelo
próprio satanás.
Armínio era um homem extremamente inteligente, muito
instruído, um pensador brilhante e um pregador talentoso. Ele era amigável e
uma pessoa de quem as pessoas achavam fácil gostar. Embora Armínio tenha usado
todos os seus dons extraordinários para trazer heresias condenáveis para a igreja,
Deus transformou a derrota quase certa em vitória e usou a heresia do
Arminianismo para nos dar nossos Cânones.
Jan
Uytenbogaert:
Além do próprio Armínio, ninguém teve mais
influência na causa arminiana do que Uytenbogaert. Nascido em 1557, três anos
antes de Armínio, ele se converteu do catolicismo romano quando as autoridades
católicas romanas o proibiram de participar dos cultos de um pastor de
inclinação protestante.
Uytenbogaert pretendia seguir a carreira de
advogado, mas, ao ingressar nas igrejas reformadas, decidiu investi na carreira
ministerial. Sob os estranhos caminhos da providência de Deus, ele estudou em
Genebra com Beza ao mesmo tempo que o herege Armínio. Armínio, não Beza, foi
quem influenciou Uytenbogaert, e ele voltou para a Holanda convicto, acreditando
firmemente; nas heresias de seu colega.
No entanto, ele se tornou um pregador nas igrejas
reformadas e, talvez por causa de sua reputação de piedade, foi convidado pelo
príncipe Maurício para se tornar ministro em Haia. Muitos dignitários do
governo frequentavam sua igreja e ele se tornou um amigo próximo de
Oldenbarnevelt, o governante efetivo da Holanda.
Sempre um amigo próximo de Armínio, Uytenbogaert
assumiu a liderança do partido arminiano quando Armínio morreu e foi o principal responsável por
compor os Cinco Artigos dos
Remonstrantes, que delineiam a posição doutrinária dos Arminianos e contra os
quais os cinco artigos (pilares da graça soberana de Deus); dos Cânones foram
escritos.
Quando Oldenbarnevelt, pouco antes do Sínodo de Dort,
foi preso e julgado por traição, Uytenbogaert achou melhor fugir do país. O
Sínodo o depôs à revelia, baniu-o e ordenou que seus bens fossem confiscados
para o estado Holandês.
Foi somente após uma mudança de governo que ele
voltou secretamente do exílio e se tornou pastor de uma igreja onde continuou
até sua morte, promovendo a causa do nefasto arminianismo na Holanda.
Simão Episcopio:
Episcopio nasceu em 1583 e estudou teologia com
Gomarus e Armínio na Universidade de Leiden. Os ensinamentos de Armínio o
atraíram mais do que os de Gomarus, e ele se tornou um seguidor de seu mentor e
um defensor eloquente de seus pontos de vista.
Em 1610, ano em que os Artigos dos Remonstrantes
foram redigidos, ele começou seu trabalho como pastor, mas logo assumiu o lugar
de Gomarus como professor em Leiden quando Gomarus renunciou. Ele era tão
amplamente conhecido como arminiano em seu pensamento que foi citado junto com
outros doze “pastores” para comparecer no Sínodo de Dort para prestar contas perante
o sínodo de seus pontos de vista.
Episcopio foi realmente o porta-voz dos arminianos
no sínodo e o estrategista de sua campanha para atrasar o sínodo e impedi-lo de
discutir os problemas reais. Quando, em fúria, Bogerman demitiu os arminianos
do sínodo, Episcopio saiu gritando piedosamente: "Com Cristo, manterei
silêncio sobre tudo isso. Deus julgará entre mim e este sínodo".
Ele também foi banido, mas retornou em 1626, quando
a antipatia pelo arminianismo havia diminuído. Ele estabeleceu uma congregação
arminiana e um seminário arminiano no qual ensinou, e escreveu uma Dogmática
Arminiana.
O que é de particular interesse é o fato de
que ele foi a prova viva de que o Arminianismo é um Modernismo incipiente, pois
seu Arminianismo o levou na direção do Socinianismo, que nega a Trindade e a
divindade de Cristo. Será que os arminianos de hoje aprenderiam essa lição da
história???
Pieter Plancius:
Pieter Plancius conhecia a perseguição. Ele nasceu
no que hoje é a Bélgica, mas fugiu quando a Igreja Católica Romana perseguiu os
reformados. Ele recebeu sua educação em escolas fortemente calvinistas na Alemanha
e na Inglaterra, e se tornou um defensor da fé reformada até o dia de sua
morte. Seu ministério inicial foi passado
em Brabante, Flandres e Bruxelas, todos sob domínio espanhol. Plancius ocupa um
lugar notável entre os grandes homens de Dort porque, além de ser eleito
delegado do sínodo, foi um dos primeiros a alertar as igrejas contra os
horrores da nefasta heresia arminiana.
Isso aconteceu porque ele foi chamado para ser
ministro da igreja reformada de Amsterdã na Holanda, onde Armínio também se
tornou ministro. Foi no púlpito da igreja em Amsterdã que Armínio começou a militar
em sua pregação contra a doutrina reformada. Plancius ficou alarmado e, quando
as respostas de Armínio se mostraram insatisfatórias, ele alertou as igrejas
para as perigosas doutrinas proclamadas por Armínio. Mas, infelizmente, as
autoridades não deram ouvidos, e Armínio e aqueles que ele influenciou foram
autorizados a propor seus pontos de vista por muitos anos antes que o Sínodo de
Dort finalmente os condenasse. O papel de Plancius foi importante, pois muitos
não estavam cientes dos graves perigos escondidos por trás dos ensinamentos
sutis e tortuosos daqueles que negam a grande verdade da soberania de Deus.
Plancius também trabalhou na revisão da tradução
holandesa da parte do Antigo Testamento do Staten-Bijbel, que é para os holandeses o que a ACF. (Almeida
Corrigida Fiel); é para nós
Trinitarianos. Mas igualmente interessante, a igreja em Amsterdã foi a igreja
que o chamou e orientou-lhe a enviar missionários junto com o apoio financeiro
dos comerciantes holandeses para todas as partes do mundo. Ele foi responsável
pelo desenvolvimento de conhecimentos e habilidades náuticas e geográficas que
foram dados aos capitães de mar holandeses período em que eles fizeram da
Holanda por um curto período de tempo "Rainha dos Oceanos".
Francisco
Gomarus:
Tão suave e amigável quanto Armínio era, tão
rude e contundente era seu principal oponente, Francisco Gomarus, Nascido na
Alemanha em 1563, era um refugiado do Palatinado. Sua educação foi extensa e a
melhor disponível, pois ele estudou em Strasburg, Oxford, Cambridge e
Heidelberg, recebendo instruções de Ursinus (um dos autores do Catecismo de
Heidelberg) e Jerome Zanchius (que escreveu um livro ainda popular sobre a predestinação).
Gomarus foi primeiro pastor em Frankfurt, mas
suas habilidades e aprendizado logo lhe trouxeram uma cátedra, primeiro em
Frankfurt, depois em Leiden. Em Leiden Gomarus foi colega de Armínio, e lutou
com ele como Plancius havia feito em Amsterdã. Quando Armínio morreu e Konrad
Vorstius, um herege maior que Armínio, foi nomeado para ocupar o lugar de
Armínio, Gomarus renunciou em total desgosto e assumiu o pastorado em
Middleburg, embora a pedido de várias escolas ele continuasse sua carreira no
ensino acadêmico teológico.
Ele foi um delegado professoral do Sínodo de
Dort e fez de seu profundo amor pela fé reformada e sua implacável oposição ao
arminianismo um fator determinante em todas as discussões.
Gomarus era um supralapsariano convicto, um profundo
teólogo hipercalvinista e um pregador talentoso e influente. Seu nome quase se
tornou sinônimo de calvinismo consistente, e ele emergiu do conflito em Dort
com a reputação justificável de alguém que amava o Senhor e a verdade do Senhor
mais do que qualquer coisa ou qualquer outra pessoa. Os arminianos muitas vezes
o desejavam morto. O Senhor o usou, com toda sua franqueza e aspereza, para
preservar as verdades gloriosas da graça soberana.
Johannes Bogerman:
Embora Johannes Bogerman seja um dos homens menos
conhecidos em Dort, seu nome será lembrado, por todos os que amam a fé
reformada, como o ardente presidente do sínodo que finalmente, totalmente
exasperado, dispensou os arminianos com palavras tão ferozes que eles
literalmente o odiaram. Bogerman nasceu
na Frísia Oriental em 1576 e serviu como pastor nas igrejas reformadas
holandesas. Ele foi um ardente defensor das verdades bíblicas da graça
soberana, e lutou de seu púlpito contra as heresias mortais de Armínio que
estavam estrangulando as igrejas. Delegado ao Sínodo de Dort, ele foi escolhido
como presidente por causa de seu compromisso com a fé reformada e sua grande
habilidade. Era um homem baixo e possuía uma barba que chegava à cintura. Ele
era uma figura imponente, devido principalmente ao fogo que brilhava em seus
olhos quando estava com raiva. E com raiva ele ficou – dos pervertidos arminianos.
Pacientemente e com toda a compreensão que pôde reunir, ele liderou o sínodo
durante os muitos dias durante os quais os arminianos usaram todas as táticas
de atraso que puderam pensar para impedir o sínodo de seu trabalho; quando
desabafaram seu ódio e rancor contra as doutrinas das confissões reformadas; e
quando tentaram com sutileza e astúcia satânica; ganhar influência e aprovação
entre os delegados estrangeiros e os representantes do Estado.
Mas finalmente ele teve o suficiente. Levantou-se
com justa indignação e, depois de um breve discurso, terminou com as palavras:
"Você começou com mentiras e termina com mentiras. Dimittimini, ite, ite!
(Você está dispensado! Saia! Saia!). " Tão poderosa era sua voz e tão
ardentes eram seus olhos brilhantes que os arminianos quase tropeçaram uns nos
outros ao sair do salão. Era o fim de sua presença no sínodo, e sem eles o sínodo
poderia agora continuar com seu trabalho. A maior parte dessa obra são os
Cânones, credo incomparável na defesa das doutrinas da graça soberana e
particular.
Autor: Rev. Prof. Dr. Hanko Hermann. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.