segunda-feira, 8 de agosto de 2022

 

Os Homens no sínodo de Dort.

 Autor: Rev. Prof. Dr. Hanko Hermann. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

O Sínodo de Dort foi a maior assembleia de igrejas reformadas que já se reuniu. Embora alguns possam argumentar que Dort foi superada em grandeza pela Assembleia de Westminster, que se reuniu menos de 30 anos depois, Westminster não era, como Dort, uma reunião das igrejas reformadas de toda a Europa. Tampouco os teólogos de Dort eram, em nenhum aspecto, inferiores em erudição, habilidade no debate e ortodoxia bíblica genuína, do que os melhores de pensadores de Westminster.

Mas o sínodo era necessário, afinal, por causa dos hereges presentes na igreja, que estavam empenhados em destruir a fé reformada porque odiavam as doutrinas da graça soberana. A maravilha é que estes e os fiéis foram usados ​​por Deus para nos dar nossos preciosos Cânones de Dort. A verdade de Deus nunca é desenvolvida em uma torre de marfim, longe do campo de batalha em que as grandes questões da verdade de Deus são decididas. As armas de nossa guerra espiritual são forjadas em controvérsias doutrinárias. Sempre foi assim. Assim foi em Dort. Muitas vezes refleti sobre o que faríamos hoje se não fosse o Sínodo de Dort e os Cânones que ele nos deu. Estremeço ao pensar nisso.

Jacó Armínio:

Embora Armínio tenha vivido e morrido antes da reunião do Sínodo de Dort, ele foi o personagem mais importante do drama. A controvérsia e a heresia que ocasionaram Dort são conhecidas por seu nome, e o sínodo não teria sido convocado se ele não tivesse espalhado seu veneno pelagiano pelas igrejas.

Nascido em 1560, ficou órfão quando seus pais foram mortos pelos espanhóis. Uma *guilda (espécie de ONG); em Amsterdã na Holanda, assumiu a responsabilidade de apoiá-lo em seus estudos, e isso lhe permitiu adquirir uma boa e sólida educação reformada em Leiden, Genebra e Basileia.

É impossível dizer quando Armínio começou a alimentar pensamentos de heresias pelagianas. Pode ter sido durante seus estudos com Theodore Beza, sucessor de Calvino em Genebra, que era um professor sensato de todas as verdades da graça soberana. Enquanto foi aluno deste ilustre professor, seus sentimentos não foram revelados; até que ele se tornou ministro da Igreja Reformada em Amsterdã na Holanda.

Uma característica dos hereges é a desonestidade. Armínio nunca foi honesto com a igreja reformada. Quando lhe pediram para refutar Dirk Coornhert, um teólogo que negava a doutrina da predestinação soberana, Armínio nunca preparou a resposta e nunca revelou que o motivo era seu próprio desacordo com essa doutrina crucial da Reforma.

*Recebiam o nome de guildas ou corporações de ofício as associações formadas por artesãos profissionais e independentes, em igualdade de condições, surgidas na Baixa Idade Média (séculos XII ao XV) destinadas a proteger os seus interesses e manter os privilégios conquistados. Outras guildas, sem relevância econômica, tinham caráter religioso, beneficente ou de lazer. Além das guildas, existiam também as hansas, associações de comerciantes que dominavam determinados segmentos do mercado.

Sua duplicidade também apareceu em sua pregação. Enquanto pregava sobre o livro de Romanos, e particularmente sobre Romanos 7, ele negou que a descrição de Paulo de si mesmo nos versículos 14-25 fosse uma descrição do apóstolo após sua regeneração. Paulo estava, assim afirmou Armínio, descrevendo a si mesmo como não regenerado – uma interpretação que abre a porta para uma negação da depravação total (“O bem que eu faria...”). E quando ele chegou a Romanos 9, ele negou categoricamente a reprovação soberana.

Eu digo que isso foi duplicidade. Os credos (o Catecismo de Heidelberg e a Confissão de Fé) que vinculavam as igrejas reformadas ensinavam claramente essas doutrinas, e Armínio sabia disso. Mas ele sempre afirmou concordar e ser fiel aos credos. Surpreendentemente, Armínio foi nomeado professor de teologia na Universidade de Leiden e foi colega de Gomarus, o homem que se tornou seu inimigo implacável. Aqui também, quando chamado para dar conta de seus ensinamentos, Armínio foi menos que franco, desonesto ao extremo e culpado de esconder seus verdadeiros sentimentos o máximo possível, enquanto continuava a ensinar seus alunos seus pontos de vistas errôneos. Quando Armínio morreu em 1609 (um ano antes que os cinco Artigos dos Remonstrantes fossem redigidos), o veneno de seus ensinamentos se espalhou pelas igrejas reformadas, especialmente através da pregação daqueles que estudaram com ele e foram desencaminhados por seus ensinamentos das heresias pelagianas; produzidas no inferno e trazida a mente dos hereges pelo próprio satanás.

Armínio era um homem extremamente inteligente, muito instruído, um pensador brilhante e um pregador talentoso. Ele era amigável e uma pessoa de quem as pessoas achavam fácil gostar. Embora Armínio tenha usado todos os seus dons extraordinários para trazer heresias condenáveis ​​para a igreja, Deus transformou a derrota quase certa em vitória e usou a heresia do Arminianismo para nos dar nossos Cânones.

Jan Uytenbogaert:

Além do próprio Armínio, ninguém teve mais influência na causa arminiana do que Uytenbogaert. Nascido em 1557, três anos antes de Armínio, ele se converteu do catolicismo romano quando as autoridades católicas romanas o proibiram de participar dos cultos de um pastor de inclinação protestante.

Uytenbogaert pretendia seguir a carreira de advogado, mas, ao ingressar nas igrejas reformadas, decidiu investi na carreira ministerial. Sob os estranhos caminhos da providência de Deus, ele estudou em Genebra com Beza ao mesmo tempo que o herege Armínio. Armínio, não Beza, foi quem influenciou Uytenbogaert, e ele voltou para a Holanda convicto, acreditando firmemente; nas heresias de seu colega.

No entanto, ele se tornou um pregador nas igrejas reformadas e, talvez por causa de sua reputação de piedade, foi convidado pelo príncipe Maurício para se tornar ministro em Haia. Muitos dignitários do governo frequentavam sua igreja e ele se tornou um amigo próximo de Oldenbarnevelt, o governante efetivo da Holanda.

Sempre um amigo próximo de Armínio, Uytenbogaert assumiu a liderança do partido arminiano quando Armínio morreu e foi o principal responsável por compor os Cinco Artigos dos Remonstrantes, que delineiam a posição doutrinária dos Arminianos e contra os quais os cinco artigos (pilares da graça soberana de Deus); dos Cânones foram escritos.

Quando Oldenbarnevelt, pouco antes do Sínodo de Dort, foi preso e julgado por traição, Uytenbogaert achou melhor fugir do país. O Sínodo o depôs à revelia, baniu-o e ordenou que seus bens fossem confiscados para o estado Holandês.

Foi somente após uma mudança de governo que ele voltou secretamente do exílio e se tornou pastor de uma igreja onde continuou até sua morte, promovendo a causa do nefasto arminianismo na Holanda.

Simão Episcopio:

Episcopio nasceu em 1583 e estudou teologia com Gomarus e Armínio na Universidade de Leiden. Os ensinamentos de Armínio o atraíram mais do que os de Gomarus, e ele se tornou um seguidor de seu mentor e um defensor eloquente de seus pontos de vista.

Em 1610, ano em que os Artigos dos Remonstrantes foram redigidos, ele começou seu trabalho como pastor, mas logo assumiu o lugar de Gomarus como professor em Leiden quando Gomarus renunciou. Ele era tão amplamente conhecido como arminiano em seu pensamento que foi citado junto com outros doze “pastores” para comparecer no Sínodo de Dort para prestar contas perante o sínodo de seus pontos de vista.

Episcopio foi realmente o porta-voz dos arminianos no sínodo e o estrategista de sua campanha para atrasar o sínodo e impedi-lo de discutir os problemas reais. Quando, em fúria, Bogerman demitiu os arminianos do sínodo, Episcopio saiu gritando piedosamente: "Com Cristo, manterei silêncio sobre tudo isso. Deus julgará entre mim e este sínodo".

Ele também foi banido, mas retornou em 1626, quando a antipatia pelo arminianismo havia diminuído. Ele estabeleceu uma congregação arminiana e um seminário arminiano no qual ensinou, e escreveu uma Dogmática Arminiana.

O que é de particular interesse é o fato de que ele foi a prova viva de que o Arminianismo é um Modernismo incipiente, pois seu Arminianismo o levou na direção do Socinianismo, que nega a Trindade e a divindade de Cristo. Será que os arminianos de hoje aprenderiam essa lição da história???

Pieter Plancius:

Pieter Plancius conhecia a perseguição. Ele nasceu no que hoje é a Bélgica, mas fugiu quando a Igreja Católica Romana perseguiu os reformados. Ele recebeu sua educação em escolas fortemente calvinistas na Alemanha e na Inglaterra, e se tornou um defensor da fé reformada até o dia de sua morte. Seu ministério inicial foi passado em Brabante, Flandres e Bruxelas, todos sob domínio espanhol. Plancius ocupa um lugar notável entre os grandes homens de Dort porque, além de ser eleito delegado do sínodo, foi um dos primeiros a alertar as igrejas contra os horrores da nefasta heresia arminiana.

Isso aconteceu porque ele foi chamado para ser ministro da igreja reformada de Amsterdã na Holanda, onde Armínio também se tornou ministro. Foi no púlpito da igreja em Amsterdã que Armínio começou a militar em sua pregação contra a doutrina reformada. Plancius ficou alarmado e, quando as respostas de Armínio se mostraram insatisfatórias, ele alertou as igrejas para as perigosas doutrinas proclamadas por Armínio. Mas, infelizmente, as autoridades não deram ouvidos, e Armínio e aqueles que ele influenciou foram autorizados a propor seus pontos de vista por muitos anos antes que o Sínodo de Dort finalmente os condenasse. O papel de Plancius foi importante, pois muitos não estavam cientes dos graves perigos escondidos por trás dos ensinamentos sutis e tortuosos daqueles que negam a grande verdade da soberania de Deus.

Plancius também trabalhou na revisão da tradução holandesa da parte do Antigo Testamento do Staten-Bijbel, que é para os holandeses o que a ACF. (Almeida Corrigida Fiel); é para nós Trinitarianos. Mas igualmente interessante, a igreja em Amsterdã foi a igreja que o chamou e orientou-lhe a enviar missionários junto com o apoio financeiro dos comerciantes holandeses para todas as partes do mundo. Ele foi responsável pelo desenvolvimento de conhecimentos e habilidades náuticas e geográficas que foram dados aos capitães de mar holandeses período em que eles fizeram da Holanda por um curto período de tempo "Rainha dos Oceanos".

Francisco Gomarus:

Tão suave e amigável quanto Armínio era, tão rude e contundente era seu principal oponente, Francisco Gomarus, Nascido na Alemanha em 1563, era um refugiado do Palatinado. Sua educação foi extensa e a melhor disponível, pois ele estudou em Strasburg, Oxford, Cambridge e Heidelberg, recebendo instruções de Ursinus (um dos autores do Catecismo de Heidelberg) e Jerome Zanchius (que escreveu um livro ainda popular sobre a predestinação).

Gomarus foi primeiro pastor em Frankfurt, mas suas habilidades e aprendizado logo lhe trouxeram uma cátedra, primeiro em Frankfurt, depois em Leiden. Em Leiden Gomarus foi colega de Armínio, e lutou com ele como Plancius havia feito em Amsterdã. Quando Armínio morreu e Konrad Vorstius, um herege maior que Armínio, foi nomeado para ocupar o lugar de Armínio, Gomarus renunciou em total desgosto e assumiu o pastorado em Middleburg, embora a pedido de várias escolas ele continuasse sua carreira no ensino acadêmico teológico.

Ele foi um delegado professoral do Sínodo de Dort e fez de seu profundo amor pela fé reformada e sua implacável oposição ao arminianismo um fator determinante em todas as discussões.

Gomarus era um supralapsariano convicto, um profundo teólogo hipercalvinista e um pregador talentoso e influente. Seu nome quase se tornou sinônimo de calvinismo consistente, e ele emergiu do conflito em Dort com a reputação justificável de alguém que amava o Senhor e a verdade do Senhor mais do que qualquer coisa ou qualquer outra pessoa. Os arminianos muitas vezes o desejavam morto. O Senhor o usou, com toda sua franqueza e aspereza, para preservar as verdades gloriosas da graça soberana.

Johannes Bogerman:

Embora Johannes Bogerman seja um dos homens menos conhecidos em Dort, seu nome será lembrado, por todos os que amam a fé reformada, como o ardente presidente do sínodo que finalmente, totalmente exasperado, dispensou os arminianos com palavras tão ferozes que eles literalmente o odiaram.  Bogerman nasceu na Frísia Oriental em 1576 e serviu como pastor nas igrejas reformadas holandesas. Ele foi um ardente defensor das verdades bíblicas da graça soberana, e lutou de seu púlpito contra as heresias mortais de Armínio que estavam estrangulando as igrejas. Delegado ao Sínodo de Dort, ele foi escolhido como presidente por causa de seu compromisso com a fé reformada e sua grande habilidade. Era um homem baixo e possuía uma barba que chegava à cintura. Ele era uma figura imponente, devido principalmente ao fogo que brilhava em seus olhos quando estava com raiva. E com raiva ele ficou – dos pervertidos arminianos. Pacientemente e com toda a compreensão que pôde reunir, ele liderou o sínodo durante os muitos dias durante os quais os arminianos usaram todas as táticas de atraso que puderam pensar para impedir o sínodo de seu trabalho; quando desabafaram seu ódio e rancor contra as doutrinas das confissões reformadas; e quando tentaram com sutileza e astúcia satânica; ganhar influência e aprovação entre os delegados estrangeiros e os representantes do Estado.

Mas finalmente ele teve o suficiente. Levantou-se com justa indignação e, depois de um breve discurso, terminou com as palavras: "Você começou com mentiras e termina com mentiras. Dimittimini, ite, ite! (Você está dispensado! Saia! Saia!). " Tão poderosa era sua voz e tão ardentes eram seus olhos brilhantes que os arminianos quase tropeçaram uns nos outros ao sair do salão. Era o fim de sua presença no sínodo, e sem eles o sínodo poderia agora continuar com seu trabalho. A maior parte dessa obra são os Cânones, credo incomparável na defesa das doutrinas da graça soberana e particular.

 Autor: Rev. Prof. Dr. Hanko Hermann. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.


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