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Por: Vincent Cheung. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C. Ph.D. Th.D.
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Eu tenho
falado muito sobre Calvinismo “inconsistente”, tanto em meus livros como
artigos, e em meu blog. Aqui eu gostaria de usar A.A. Hodge para lhe dar um
exemplo do que um Calvinismo inconsistente pode fazer você dizer.
Mas primeiro, tiremos algo do caminho. Ao usar
Hodge como um exemplo, não estou desafiando sua ortodoxia, ou sua dedicação à
Escritura, ao Cristianismo e ao Calvinismo. De fato, é precisamente porque a
sua ortodoxia é geralmente incontestável que prefiro usá-lo como um exemplo, de
forma que você verá que o problema não é encontrado somente em heréticos arminianos loucos;
ou idiotas pentecostais e neopentecostais confusos “úteis”.
Assim, aqui está o nosso exemplo. No contexto da
discussão da criação, Hodge escreve:
“Embora a absoluta origem de toda nova existência a
partir do nada seja para nós confessadamente inconcebível, ela não é nem um
pouco mais do que a relação do pré-conhecimento infinito, pré-ordenação, ou
controle providencial de Deus com a livre agência do homem, nem mais do que
muitas outras verdades que somos todos forçados a crer”. A.A. Hodge, Outlines
of Theology (The Banner of Truth Trust, 1999 reprint), p. 240. [publicado no
Brasil pela Editora PES, com o título Esboços de Teologia].
Em outras
palavras, a doutrina bíblica da criação é “inconcebível”, mas está tudo certo,
pois muitas outras doutrinas bíblicas também são inconcebíveis — e isto faz
tudo melhor!!!
Esperamos
engolir isto? A melhor pergunta seria se a Bíblia fala sobre suas próprias
doutrinas desta forma. A Bíblia diz que suas próprias doutrinas são
racionalmente inconcebíveis (eu adicionei “racionalmente” porque este é o
sentido no qual Hodge está falando)? A Bíblia diz que suas próprias doutrinas
são racionalmente tão difíceis de crer que devemos ser “forçados a crer” nelas?
Se a resposta for negativa, então neste exemplo, e
em todos os outros exemplos quando Hodge escreve desta forma, ele não está
representando o que a Bíblia realmente ensina. Antes, ele está mensurando as
doutrinas bíblicas contra algum padrão anti-bíblico, e visto que o que é
bíblico é incompatível com o que é anti-bíblico, então, se ele insiste em
afirmar ambos, certamente todas as doutrinas bíblicas se tornarão subitamente
“inconcebíveis”, e certamente alguém se sentiria como se ele fosse “forçado a
crer” nelas. Mas o problema está na própria mente de Hodge, e não no sistema
bíblico de doutrinas.
Muitos
Calvinistas falam como Hodge — PAREM! Não é um sinal de fé e reverência soar
como um lunático e então arrastar Deus para dentro.
O que?
Você está tentando defender a doutrina cristã, e você está chamando sua própria
cosmovisão de “inconcebível”, e que você é “forçado a crer” nela? É este tipo
de declarações anti-bíblicas e irracionais que não-cristãos frequentemente
exploram. Agora, o que você pensa que eu deveria fazer se alguém trouxesse esta
citação acima para um debate? Para a defesa correta do evangelho, devo
renunciar Hodge, pelo menos neste ponto. E devo dizer que, pelo menos neste
ponto (e na realidade também sobre muitos outros pontos), ele não fala por mim
nem pela Escritura; ele está errado.
Em
contraste, digo que embora elas nunca possam ser exaustivamente captadas (visto
que a mente de Deus é infinitamente maior do que a nossa, e, portanto, não
podemos aprender exaustivamente todo o seu conteúdo), tudo o que Deus revelou —
todas as doutrinas bíblicas — são concebíveis, compreensíveis, racionais,
defensíveis e inegáveis.
Porque os
incrédulos são pecaminosos e irracionais, é impossível para eles afirmar o que
é santo e racional, e, portanto, a menos que Deus aja diretamente sobre as suas
mentes e as mude, eles nunca poderão crer. Contudo, todas as doutrinas bíblicas
são fáceis para os eleitos crer, pois Deus lhes concedeu o dom da fé.
As doutrinas bíblicas são somente inconcebíveis se mensuradas contra alguma premissa ou padrão irracional. O que precisamos fazer é deixar de lado estes falsos princípios e suposições que não fazem parte da nossa cosmovisão. Mas se você for tomar princípios e suposições de duas cosmovisões contraditórias e tentar uni-las, então, sim, você terminará com algo inconcebível. Apenas não chame isto de Cristianismo ou Calvinismo.