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Por: Vincent Cheung. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C. Ph.D. Th.D.
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Apologética
é fácil, mas ela é frequentemente dificultada por tradições anti-bíblicas e
suposições irracionais.
Quando cristãos reformados são questionados sobre
se Deus é o “autor do pecado”, eles são muito rápidos em dizer, “Não, Deus
não é o autor do pecado”, e então eles se torcem, se viram e se contorcem
no chão, tentando dar ao homem algum poder de “auto-determinação” (e.g.
Hodge, Dabney, Shedd, etc.), algum tipo de liberdade que torne o homem culpado (mesmo
quando não há nenhuma relação lógica, estabelecida entre liberdade e
culpabilidade), e, todavia, ainda deixar Deus em seu trono de soberania,
total e absoluta.
Por outro lado, quando alguns alegam que minha
visão da soberania divina faz de Deus o autor do pecado, minha primeira reação
tende a ser, “E daí?”. Cristãos que discordam de mim cantarolam
estupidamente, “Mas ele faz de Deus o autor do pecado, ele faz de Deus o
autor do pecado...”. Contudo, uma descrição não se eleva a um argumento ou
objeção, e eu nunca me deparei com uma explicação nem sequer meio-decente do
que há de errado em Deus ser o autor do pecado em nenhuma obra teológica ou
filosófica, escrita por qualquer um, de qualquer perspectiva. Seja Deus o autor
do pecado ou não, não há literalmente; nenhum problema bíblico, racional,
teológico, ou mesmo lógico em relação a isto.
Para isto ser um problema, ele deve tornar algum
ponto do Cristianismo falso, ou contradizer alguma passagem da Escritura. Mas
se Deus é o autor do pecado, como isto faz o Cristianismo falso? Alguém deve
construir um argumento mostrando isto citando premissas estabelecidas que
necessariamente levem à conclusão de que o Cristianismo seria falso se Deus for
o autor do pecado. Qual é este argumento? E qual passagem da Escritura ele
contradiz? Você pode citar a passagem que quiser, mas você terá que mostrar que
ela necessariamente se aplica à questão e que ela torna impossível Deus ser o
autor do pecado. Onde está esta passagem na Escritura?
Entre as muitas respostas falaciosas está o apelo à
Tiago 1:13. Usar este verso para negar que Deus é o autor do pecado é um dos
maus usos da Escritura sobre os quais eu adverti no post anterior do meu blog,
e em muitas outras ocasiões. Ela não é tão escandalosa como o abuso que
Avanzini faz de Isaías, mas, todavia, é um mau uso do verso, e no sentido de
que este mau uso é muito mais popular e influente, ele tem sido um erro muito
mais danoso.
Considere o contexto. Tiago está discutindo o
desenvolvimento prático da fé cristã em sua carta, e assim, ele frequentemente
enfatiza a responsabilidade direta do cristão, e de uma perspectiva cristã
imediata. Tiago está apontando que o cristão deve considerar e agir em suas
lutas como um cristão; ele não está tratando com metafísica. Em outras
palavras, ele está tratando seus assuntos do ponto de vista de um cristão com
relação às suas considerações e responsabilidades imediatas, e não com relação
à princípios metafísicos mais amplos.
Contudo, quando estamos discutindo a soberania
divina VS. a liberdade humana, causa e efeito, etc., nós estamos
tratando de fato com metafísica!!! (e aqui, podemos ser: platônicos ou
aristotélicos); Certamente, as conclusões alcançadas neste nível carregam
implicações necessárias para a vida prática, e o que a Bíblia ensina sobre metafísica
e vida prática é completamente consistente uma com a outra; todavia, é verdade
que enquanto a discussão permanecer num nível metafísico, o ponto de
referência será diferente, de forma que alguém deve ser cuidadoso para não
inferir invalidamente um princípio metafísico de um verso sobre instrução
prática.
Com isto em mente, leia a passagem novamente. Ela
não afirma ou nega que Deus seja o autor do pecado — ela não aborda o assunto
de forma alguma, mas sua preocupação é completamente diferente. Ela apenas te
diz que Deus não é o tentador, o que é totalmente diferente de dizer que Deus
não é o autor do pecado.
Isto é, se
Deus diretamente te faz pecar, isto O faz o “autor” do pecado (pelo menos no
sentido que as pessoas frequentemente usam a expressão), mas o “pecador” ou
“praticante-do-erro” ainda é você. Visto que o pecado é a transgressão da lei
divina, para Deus ser um pecador ou praticante-do-erro neste caso, Ele deve
decretar uma lei moral que proíba a Si mesmo de ser o autor do pecado, e então,
quando Ele agir como o autor do pecado de qualquer jeito, Ele se torna um
pecador ou praticante-do-erro.
Mas a menos que isto aconteça, Deus ser o autor do
pecado não O faz um pecador ou praticante-do-erro. Os termos “autor”,
“pecador”, “praticante-do-erro” e “tentador” são relativamente precisos — pelo
menos precisos o suficiente para serem distinguidos uns dos outros, e o fato de
Deus ser o “autor” do pecado não diz nada se Ele é também um “pecador”,
“praticante-do-erro” ou um “tentador”. E alguém não ser um praticante-do-erro
significa, por definição, que Ele não faz nada errado. Portanto, mesmo que Deus
seja o autor do pecado, não se segue automaticamente que haja algo de errado
nisso, ou que Ele seja um praticante-do-erro.
Certamente, ser “autor” do pecado implica um
controle muito maior sobre o pecador e sobre o pecado do que ser um tentador.
Apesar do diabo e a cobiça poderem ser o tentador, e você ser o pecador, é Deus
quem diretamente e completamente controla ambos, o tentador e o pecador, e a
relação entre eles. E embora Deus,
literalmente; não seja Ele mesmo o tentador, Ele deliberadamente e
soberanamente envia espíritos maus para tentar (1 Reis 22:19-23) e para
atormentar (1 Samuel 16:14–23, 18:10, 19:9). Mas em tudo isto Deus é justo por
definição.
O verso está lhe dizendo
que quando você trata com a tentação, você deve tratar diretamente com a sua
cobiça, e não simplesmente culpar Deus e não fazer nada depois, ou permanecer
em seu pecado. Leia todo o capítulo 1 de Tiago e veja se esta não é a ênfase
óbvia. Ele trata com alegria, fé, perseverança, dúvida, orgulho, desejo mau
(cobiça), ira, corrupção moral e ser um praticante da Palavra. Ele está
tratando com as responsabilidades diretas do cristão na vida prática, e ele faz
isto as relacionando aos motivos internos e características da pessoa.
No verso
13, ele está instruindo o crente sobre como se aproximar corretamente de uma
tentação: ele não está tentando
explicar a metafísica por detrás disso. Ou, ele está considerando a
responsabilidade do crente com respeito aos fatores interiores na santificação,
e não a causa metafísica ou princípio para estes. Mas a causa metafísica ou
princípio é exatamente o que estamos discutindo quando consideramos se Deus é o autor do pecado.
Portanto, Tiago 1:13 não é diretamente aplicável ao nosso assunto; se alguém
ainda deseja negar que Deus é o
autor do pecado, ele terá que usar outro verso.
Aqueles que citam Tiago 1 para afirmar que Deus não
pode ser o autor do pecado podem usar o verso 17 para reforçar o entendimento
deles do verso 13; contudo, se o verso 17 for interpretado de uma forma que
seja consistente com a interpretação deles do verso 13, então, isto faria com
que o verso 17 contradissesse Isaías 45:7. Mas se o verso 17 for corretamente
interpretado, de forma que não mais contradiga Isaías 45:7, então, ele não mais
reforça a falsa interpretação deles do verso 13.
Um exame mais detalhado do
verso 17 terá que esperar até outra hora, mas o que eu tenho simplesmente dito
já torna a interpretação deles do verso 17 impossível, de forma que não preciso
dizer mais nada para o nosso presente propósito. O ponto é que nada nesta
passagem de Tiago nega (ou afirma); que Deus é o autor do pecado.
O motivo e efeito admitido da resposta reformada
popular é para satisfazer os padrões humanos de justiça e retidão. Dabney,
Shedd, e outros... admitem que a resposta deles tem em vista satisfazer a intuição
humana!!! Não fosse o fato da soberania absoluta de Deus ser repugnante
para a intuição humana pecaminosa, (principalmente para os montanistas,
amiraldianos, pelagianos, gnósticos e arminianos); feita defeituosa pelos
efeitos noéticos do pecado, a questão sobre o “autor do pecado” não teria
nenhum ponto de entrada lógico nas discussões teológicas de forma alguma.
Em
contraste, o método bíblico para este tipo de perguntas e objeções não é
justificar Deus, mas, em primeiro lugar, repreender o homem por questionar e
objetar.
Nossa passagem de Isaías 45 é um exemplo claro:
“Eu sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim, não
há deus...eu sou o SENHOR, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; eu
faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas essas coisas.” (v. 5-7).
“Porventura, dirá o barro ao que o formou: Que
fazes? Ou a tua obra: Não tens mãos?” (v.9).
“Ai daquele que diz ao pai: Que é o que geras? E à
mulher: Que dás tu à luz?” (v. 10).
Em outras palavras; “Eu
sou o único Deus. Seja na prosperidade ou desastre, Eu sou o criador de todas
estas coisas — não há outro Deus para fazê-las. Você ousa me questionar sobre
isto? Quem é você para objetar?”.
Note que
embora este verso possa não estabelecer conclusivamente cada detalhe,
diferentemente de Tiago 1:13, ele tem algo a ver com metafísica. Ele é o único
Deus, e isto está inseparavelmente conectado ao fato de que é este um e único
Deus quem causa “todas estas coisas”, incluindo tanto a prosperidade como o
desastre.
Ele é o
criador de todas elas. Isto é uma negação plena e absoluta de qualquer tipo de
dualismo — não há outro poder que possa causar prosperidade ou desastre.
(Alguns fazem uma distinção entre mal natural e moral, mas a Bíblia diz que
Deus causa ambos. Veja meu artigo, “O Problema do Mal”).
Deus não
diz, “Oh, não, Eu não sou o autor do pecado. Embora Eu seja a causa última de
todas as coisas, Eu me distancio de causar diretamente o mal ao estabelecer
causas secundárias e agentes livres. Assim, embora eu crie e sustente todas as
coisas, os homens pecam livremente, pensando e agindo segundo as suas próprias
disposições. As disposições maléficas vêm de Adão. Quanto à como Adão
adquiriu suas disposições maléficas.... bem, isto simplesmente terá que
permanecer um mistério
metafisico para você”. Se esta é a resposta, por que não pular direito para
o mistério e nos economizar algum tempo útil?
A Bíblia nunca responde este tipo de questões e
objeções dessa forma. Há muitas passagens bíblicas dizendo que Deus causa todas
as coisas, e a metafísica por detrás disso é explicada pela onipotência de Deus
— a mesma onipotência criou tudo. Por outro lado, todas as passagens que as
pessoas usam para negar que Deus é o autor do pecado ou para provar o ilógico; compatibilíssimo,
são apenas descrições de eventos e motivos, sem tratar com a causa metafísica
daqueles eventos e motivos.
Ao invés
de dar a resposta popular, que é fraca, evasiva, incoerente, e confusa, Deus
sem embaraço algum diz, “Sim, Eu faço todas as coisas. O que você vai fazer a
respeito disso? Quem é você para sequer me questionar sobre isso?”. Quando
chegamos na metafísica, incluindo a relação de Deus com as decisões humanas,
seja para o bem ou para o mal, isto é, como a Bíblia responde.
Então,
leiamos Romanos 9:19–21:
“Dir-me-ás,
então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade?”.
“Mas, ó
homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que
a formou: Por que me fizeste assim?”.
“Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da
mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?”.
Novamente, isto tem algo a ver com metafísica
(determinismo, liberdade, etc.), visto que o contexto tem a ver com eleição e
reprovação, e o criar do eleito e não-eleito, como o oleiro faz o vaso à partir
do barro.
Paulo não diz, “Oh, não,
você não entende. Embora Deus determine todas as coisas, Ele causa todas as
coisas apenas te permitindo tomar decisões livremente segundo a sua própria
natureza, que veio de Adão, cuja natureza misteriosamente de santa se tornou
má, de forma que Deus não é o autor do pecado, e você é responsável pelas suas
próprias decisões e
ações”.
Pelo contrário, Paulo diz
que o controle de Deus sobre os “vasos para honra” e os “vasos para desonra” é
como o controle do oleiro sobre uma massa de barro. (Certamente, isto é apenas
uma analogia; na realidade, o controle de Deus sobre nós é muito maior do que o
controle de um oleiro sobre o seu barro, visto que o oleiro não criou o barro e
seu controle sobre ele é limitado — por exemplo, ele não pode fazer com que o
barro se torne ouro — mas Deus criou o próprio material com o qual Ele trabalha
e Ele tem controle completo sobre ele). E assim como a massa de barro não pode
questionar o oleiro, a resposta de Paulo ao objetor não é, “Mas você se tornou
mal por si mesmo” ou “Mas você pratica o mal segundo a sua própria natureza”;
mas, pelo contrário, ele diz, “Porventura, a coisa formada dirá ao que a
formou: Por que me fizeste assim?” (afirmando assim que os réprobos são feitos
réprobos por Deus e que eles não têm direito de reclamar). E Paulo não diz,
“Mas Deus não é o autor do pecado”, mas, pelo contrário, ele diz, “Deus tem o
direito de fazer uma pessoa justa e outra pessoa má, de salvar
uma e condenar outra. Certamente ninguém pode resistir Sua vontade! Mas quem é
você para replicar?”.
Esta é a
atitude da Bíblia. Ela repreende o objetor e responde a objeção ao mesmo tempo.
Mas a resposta não nega que Deus é a causa direta do pecado; pelo contrário,
ela ousadamente diz que Deus tem o direito de fazer tudo o que Ele quer e que
Ele faz tudo o que Ele quer. Ao invés de dar um passo para trás ou para o lado,
ela dá um passo em direção ao objetor e dá-lhe uma bofetada seca, na cara!!!
E esta é a
resposta de Deus. Ela é forte, direta, simples, coerente e irrefutável. Ela é 100%
perfeita.