A Bíblia e a Igreja / Ven. Taylor, D.D.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
A BÍBLIA E A IGREJA
Tratado Eclesiástico Escrito
Pelo:
Venerável Arquidiácono:
Taylor, D.D.
Uma
legítima questão a considerarmos é a verdadeira relação da Bíblia com a Igreja
e da Igreja com a Bíblia. Por Bíblia, nós entendemos “Palavra de Deus escrita”;
e por Igreja, o corpo visível de Cristãos professos. O assunto está na raiz das
maiores controvérsias dos dias presentes. O assunto não é novo. Na Reforma a
principal pergunta foi “Qual é a Regra de Fé?” e o juízo de significado dessa
regra “É a Igreja ou a consciência individual?” A Igreja de Roma sustenta que
devemos nos apegar a Bíblia deles: que ela, sozinha, pode-se dizer seu “cânon”,
garante a tradução correta e dar-nos a interpretação certeira. Os Ritualistas
não estão muito atrás; suas alegações são, substancialmente, as mesmas. Por
exemplo, no The Manual of The Catholic Religion, pelo Rev. V. Staley (sob os
auspícios de Canon Carter), nos é dito que “a Bíblia é a filha da Igreja”, a
saber:
“1. A Igreja escreveu os livros inspirados os quais
formam a Bíblia” (Nem os Romanistas vão tão longe como isso); 2. A Igreja separou os livros inspirados de outros escritos;
em outras palavras, determinou o cânon; 3.
A Igreja sozinha pode corretamente interpretar a Bíblia”.
A
Igreja Judaica, é dito, escreveu o Velho Testamento, e a Igreja Cristã escreveu
o Novo Testamento. Isso é simplesmente e absolutamente falso. A Igreja nunca
escreveu uma letra tanto de um quanto do outro. Os livros do Antigo Testamento
foram escritos pelos santos homens de Deus, que foram inspirados pelo Espirito
Santo para fazê-lo, e eles os deram para a Igreja de sua era para permanente
instrução e preservação deles. A eles foram concedidos os Oráculos de Deus. Mas
os profetas não eram a Igreja, nem a Igreja escreveu qualquer desses Oráculos.
A Igreja não poderia fazê-lo. A Igreja é uma comunidade de homens e mulheres e
está acima da capacidade de qualquer comunidade escrever um livro. Os profetas
individualmente escreveram separadamente cada livro, o fizeram sem qualquer
autorização da Igreja, antes entregaram a Mensagem, tanto falada quanto escrita,
pelo comando expresso de Deus. Longe da Igreja escrever os livros, seus membros
zombavam, usurpavam, perseguiam e matavam os profetas que Deus lhes enviava. A
Bíblia é “a Palavra de Deus escrita”, mas em muitos casos ela foi primeiro
falada, e então ela, ou a substância dela, era escrita, algumas vezes pelo
comando expresso de Deus, algumas vezes pela inspiração secreta do Espirito
Santo.
O
Pentateuco foi escrito por Moisés. Constantemente lemos: “Disse o Senhor a
Moisés”, “Escreva essas palavras”; porque é “de acordo com elas que faço
aliança com você e com Israel”. Quanto aos Salmos, diz Davi: “O Espírito do
Senhor falou por mim, e a sua palavra está na minha boca.” Nosso Senhor testifica
o mesmo: “Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor”. Quase todo
escrito profético do Antigo Testamento começa com essa fórmula: “A palavra do
Senhor veio a Isaías”, Jeremias, Ezequiel, Amós. E para alguns, nos encontramos
um comando expresso para “escrever”, embora isso nem sempre fosse necessário. A
inspiração secreta era bem suficiente. O Novo Testamento não foi escrito pela
Igreja, mas pelos apóstolos inspirados e profetas das Igrejas, e para as
Igrejas. Por isso, é ridículo falar de "A Igreja" como se houvesse
apenas uma Igreja visível na era Apostólica.
Nós
lemos das Igrejas da Galácia, Ásia e Judéia; de Filipos, Colosso, Roma e
Corinto. A Igreja Cristã visível nunca escreveu uma linha disso. Os apóstolos e
profetas da nova dispensação eram os mensageiros, por assim dizer, da nova revelação
e os sujeitos de uma inspiração sobrenatural; e, sob a influência do último,
eles escreveram o seguinte – vide Efésios 3:5 “O qual noutros séculos não foi
manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito
aos seus santos apóstolos e profetas; E novamente ele diz: “Mas Deus no-las
revelou pelo seu Espírito... As quais também falamos, não com palavras que a
sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as
coisas espirituais com as espirituais.” (1
Coríntios 2:10-13).
É
um absurdo, portanto, dizer que a Bíblia é a Filha da Igreja. Sua falsidade já
deveria ser revelada quando usamos a expressão “a Palavra de Deus” para nos
referirmos a “Bíblia”. A “Igreja” fiel é propriamente constituída pela fé em
Cristo. Mas “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” –
Romanos 10:17. Pregando, ouvindo, acreditando é a ordem da experiência, ou
seja, a Igreja é mais filha da Palavra do que a Palavra filha da Igreja. Assim
Paulo, “porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo.” (1 Coríntios
4:15). Assim Tiago, “Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da
verdade” (Tiago 1:18).
Assim
Pedro, “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da
incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1
Pedro 1:23). Como Thomas Rogers, o Reformador, que escreveu o primeiro
comentário aos 39 Artigos, diz: A Palavra é anterior a Igreja tanto por tempo
quanto por autoridade. Pois, a voz da Igreja é a voz do homem, que erra e que
pode se desviar da verdade; mas a voz da Palavra é a voz de Deus, que não pode
enganar nem ser enganada”. Nem é acurado dizer, como muitos fazem, que a Igreja
é anterior a Bíblia. Tal afirmação é enganosa; pois ela sugere que a Igreja é
independente da, e superior a, Bíblia, considerando que dois-terços, ao menos,
da Bíblia – o Antigo Testamento- foi escrito quatrocentos anos antes da Igreja
Cristã sequer existir. E como para o Novo Testamento, ele foi escrito pelos
mesmos homens inspirados que lançaram os fundamentos da Igreja, e foram
escritos – todos, menos os escritos de São João – dentro de trinta anos do dia
de Pentecostes, quando a Igreja foi primeiro, formalmente, estabelecida sob o
fundamento da fé em Cristo crucificado, renascido e exaltado.
Nesse
curto período de tempo eram apenas a comunidade infantil sem a Palavra escrita
do Novo Testamento, mas eles tinham o ensinamento pessoal de apóstolos e
profetas inspirados. E, ainda assim, heresias e cismas dividiram a Igreja –
vide Coríntios, Gálatas, Filipenses, e a Epistola de Pedro, Tiago e Judas.
Lucas escreveu “para que os novos convertidos possam saber as certezas das
coisas em que eles têm sido instruídos”; e Pedro que, “após a sua partida, seus
seguidores possam ter seus ensinamentos sempre em lembrança”. Mais tarde,
quando João ainda vivia, Anticristos e falsos mestres abundavam; as Igrejas da
Ásia foram corrompidas, e o mistério da iniquidade, que começara trinta anos
antes, crescia sem fim. Como para o cânon da Escritura Sagrada, isto é, os Livros
que deveriam ser considerados como inspirados não dependiam, de nenhuma forma,
de qualquer decisão da Igreja; nem nós os recebemos na autoridade de qualquer
Concílio, mas no fato histórico que os Livros do Novo Testamento são citados
por uma inquebrável sucessão de escritores Cristãos voltando dos dias presentes
até a época em que os Livros foram escritos. Cada um dos Livros do Novo
Testamento é citado pelos escritores do terceiro e segundo séculos, e alguns
deles ainda na segunda metade do primeiro século – Cipriano, Clemente de
Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Teófilo, Irineu, Justin Mártir, Inácio,
Policarpo e Clemente de Roma, o último um contemporâneo de São Paulo. Nós temos
a mesma evidência que o Concílio de Cartago tinha em 397 d.C.– e são tão competentes
quanto foram, talvez, ainda mais, para pronunciar sobre o cânon da Sagrada
Escritura.
O
Concílio de Cartago não deu autoridade alguma para a Escritura, nem nós estamos
em débito com ele ou para qualquer Igreja debaixo do céu pelo nosso conhecimento
do cânon. Nós pegamos o cânon assim como nós pegamos qualquer outro fato
histórico – pelo exame da evidência histórica. Quanto ao fato de apenas a
Igreja ser retamente hábil na interpretação da Bíblia, eu poderia simplesmente
perguntar: Qual Igreja? É a Igreja da Inglaterra ou a Igreja de Roma? Pois eles
interpretam Matheus 16:18,19, “Pois tu és Pedro”, e 26:26,28, “Esse é meu
corpo”, em sentidos diretamente opostos. A Igreja de Roma crê no ensinamento da
Supremacia Papal, a Igreja da Inglaterra nega-a.
Em
outro a Igreja de Roma crê no ensinamento da “Transubstanciação”, a Igreja da
Inglaterra rejeita-o. Quem deve decidir entre os ensinamentos dessas duas
Igrejas? Se isso for dito que nós devemos ficar com a Igreja da Inglaterra, eu
vou além na pergunta: A Igreja da Inglaterra atual, ou como ela ensinou antes
da Reforma? Essas são perguntas desconfortáveis. O Rev. R.L. Ottley, Diretor da
Pusey House, em seu panfleto The Bible in the Church, nos diz que Cristo é
representado no mundo pela Igreja ou Sociedade a qual existia muito antes de
haver a Bíblia Cristã, e ela é a guardiã visível da revelação feita por Cristo.
O
objeto dessa preposição parece ser a mesma colocada mais diretamente na “The Catholic
Religion”, a saber, que a Igreja é anterior no tempo, e superior em autoridade,
em relação ao Novo Testamento. Substitua a expressão “Novo Testamento” por
“Palavra de Deus”, falada pelos apóstolos e a falácia é percebida. A Palavra
não escrita era anterior a Igreja, como algum tempo necessariamente passou
antes que pudesse ser escrita; mas antes dos apóstolos morrerem eles escreveram
a Palavra e a deixaram para instrução e orientação da Igreja. Quanto à Igreja
ser a representante de Cristo, sem dúvida que deveria ser, e seus verdadeiros
membros, em alguns aspectos, o são; mas nós aqui encontramos a confusão usual
entre a verdadeira Igreja e os professos. Esses não são idênticos em nenhum
sentido. Ritualistas e Romanistas parecem sempre perder de vista a pesada
distinção expressa por Hooker: “Pela falta de observação diligente da
diferença, primeiro entre a Igreja de Deus mística e entre a visível, e então
entre a substância verdadeira e o substância corrupto, as vezes mais, as vezes
menos, os erros que foram cometidos não são poucos, nem são leves”. Nada pode
ser mais fatal do que esse tipo de confusão, e ainda, é mais do que comum
encontrar Romanistas e outros tomando friamente as promessas e privilégios que
pertencem exclusivamente a Igreja mística, a verdadeira e única Noiva de Cristo,
e as aplicam a um mero ramo da Igreja visível, o qual é, no melhor dos casos,
apenas uma mistura de bem e mal: para qual, como tal, nenhuma promessa
pertence; e à qual é muitas vezes uma multidão misturada de meros professos,
firmados em ignorância e pecado, superstições e idolatria.
A
Palavra de Deus escrita é milhões de vezes a melhor representação de Cristo do
que qualquer Igreja, não importa quão pura. Ela é a absolutamente pura e
perfeita representação de Jesus, o imaculado espelho da Divina verdade e do ser
de Deus. A Igreja e a Bíblia não “coexistem no mundo como duas autoridades que
se corroboram mutuamente, e nem corretivas entre si no que diz respeito à interpretação
individual de cada uma”. A Bíblia pode, e faz onde suas lições são obedecidas, corrigir
a Igreja, mas a Igreja não pode corrigir a Bíblia; e fazer tal assertiva seria,
em minha mente, uma linguagem muito imprópria, se não blasfema. Existe uma
profunda diferença entre os dois – a Bíblia é absolutamente perfeita; a Igreja,
conturbada, imperfeita, errante e falível. Senhor Ottley diz que a Igreja é
necessária, primeiro para transmitir aos filhos “o correto ponto de vista”, e,
então, imprimir neles a importância do estudo privado das Escrituras. Mas nós
temos certeza que a Igreja sempre nos dá “o correto ponto de vista”? No quarto
e quinto século o ponto de vista variava muito, não apenas entre os bispos,
padres e igrejas, mas até mesmo entre Concílios; algumas vezes Ariano, algumas
vezes ortodoxo – agora Apolinariano, e novamente Nestoriano, não muito depois
Euticiliano.
Ou,
numa questão menor, qual era o “ponto de vista” no Concílio de Constantinopla
(1414 d.C.), no qual declarou que Concílios eram superiores aos Papas, e
prontamente depuseram três e elegeram outro? Ou o Concílio Vaticano em 1870, no
qual declarou a Infalibilidade pessoal do Papa sob qualquer circunstância, sua
superioridade sob o Concílios, e seus julgamentos ex-cathedra
como irreformáveis? Mais um caso. Qual era o “ponto de visto” da Igreja da
Inglaterra no reinado de Henrique VIII, no de Eduardo VI ou no de Maria e,
então, no de Elizabeth? Qual era o “ponto de vista” de Cranmer e Ridley, que
sofreram por negarem a transubstanciação, a Presença Real e a Missa, e os muitos
do clero da Igreja agora? Que coisa estranha e incerta é esse “ponto de vista”,
tão necessário, de acordo com o Diretor da Pusey House, para possibilitar-nos a
entender a Bíblia corretamente. Ele cita Hooker, que diz “a autoridade do homem
é, se a marcarmos, a chave que abre a porta de entrada para o conhecimento da Escritura.
A Escritura não nos pode ensinar as coisas que são de Deus, a menos que
tenhamos creditado aos homens que nos ensinaram que as palavras das Escrituras
significam essas coisas”. Isso parece colocar a autoridade do homem, isto é, da
Igreja, anterior a Escritura, mas outra citação de Hooker será útil para a
apreciação correta do assunto e da relação de uma coisa com a outra. Ele diz:
“A Escritura realmente ensina-nos coisas acima da Natureza, coisas as quais
nossa razão, por ela mesma, não poderia alcançar. Ainda acreditamos nessas
coisas, sabendo pela razão que a Escritura é a Palavra de Deus”. Aqui o ponto
certo é abordado. Nós não recebemos a Escritura meramente, ou principalmente, na
autoridade da Igreja, mas na autoridade da razão.
“Razão”,
diz o Bispo Butler, “é a única faculdade que nós temos com que julguemos a
evidência ou significado da revelação”. Isto é um princípio nobre, a verdadeira
fundação. Isso deve ser escrito em evidência, em letras de ouro, e melhor
ainda, nas tábulas da memória e nas convicções do intelecto. Nós acreditamos
que a Bíblia é a Palavra de Deus, porque nós temos boas razões para fazê-lo.
A
evidência histórica de seus milagres, especialmente o da ressureição de Cristo,
a grande fundação factual na qual o Evangelho se baseia; a realização de suas
profecias, a qual a razão pode julgar; o esquema do próprio Evangelho, que
carrega o poder auto evidente de Deus para a salvação e carregando o selo de
sua Divina sabedoria em suas características de santidade, sabedoria, verdade,
divindade e poder que são estampadas em cada página; seus maravilhosos efeitos
em indivíduos e nações onde seus princípios são abraçados e obedecidos – todos
estes são declarações auto evidentes da Bíblia; e sua absoluta independência de
qualquer Igreja ou autoridade humana. Sem dúvida, como diz Hooker, “o primeiro
a incentivar homens a estimar as Escrituras é a autoridade da Igreja de Deus...
Além
do mais, quanto mais nos doamos em nosso trabalho na leitura ou ouvindo os
mistérios dela, quanto mais nos encontramos com a coisa em si que responde a
nós a opinião recebida a respeito, de modo que o antigo incentivo, prevalecendo
antes um pouco conosco, agora prevalece muito mais, quando a mesma coisa
serviu-se de mais razões... Os pais antigos eram constantemente constrangidos a
manter a autoridade dos Livros pela argumentação, assim como os próprios
descrentes precisam pensar razoavelmente...
Portanto,
se acredito no Evangelho, ainda é motivo de uso singular, pois isso confirma
ainda mais essas minhas crenças; contudo, se ainda não acredito para ser
constituído na multidão de crentes, imaginar que a razão ajuda de alguma
maneira e é um instrumento que Deus usa para tais propósitos, como deveria ser
o começo de uma discussão com pessoas sem Deus com fins a sua conversão?” Pode
ser dito com mais verdade que a autoridade de nossos pais é o primeiro motivo
externo que nos induz a acreditar na Bíblia como sendo a Palavra de Deus, mas
após a evidência de sua verdade. A primeira indução externa é uma coisa, a
razão final é outra. Apenas para interpretação: Hooker insiste na necessidade
da razão pois “Entre as formulações falsas e verdadeiras, a razão deve mostrar
a diferença. O homem Cristão pode fazer aquilo que Pedro exige de suas mãos? É
possível que devessem tanto acreditar e serem hábeis, sem o uso da razão, para
“transmitir a razão da fé de vocês”? A razão sólida é suficiente para responder
àqueles que exigem, sejam aos que comungam da mesma fé conosco ou aos inimigos
dela.” O Sr. Ottley admite que a Escritura é “o irrevogável critério do
ensinamento da Igreja” em assunto de fé; mas ele apela fortemente para a
instrução da Igreja e sua tradição de doutrinas.
Isso
implica em que não “rejeitemos, na busca pela verdade, a ajuda da Igreja de
Cristo”, mas nós sabemos que todas as igrejas visíveis são capazes de errar, e
erraram, mesmo nas coisas pertinentes a Deus, e, então, nós requeremos provas
de serem supridas pela Escritura, que seus ensinamentos estejam de acordo com
ela. Não nos sentimentos “mesmo encorajados a nos colocar sob a instrução da
Igreja na medida em que ela se apresenta”, mas apenas na medida em que está em
acordo com a Palavra de Deus. Admitimos que devemos ser “cuidadosos para não
exagerar na diversidade de ensinamentos, os quais prevalecem em porções
particulares da Igreja”, mas não podemos consentir no que diz respeito aos
“pontos fundamentais de fé e prática”, como ele o faz, ou parece fazer, na
“Invocação dos Santos, Transubstanciação e as alegações temporais do Papado”
(p.33). Mas para traçar uma conclusão.
A
Igreja da Inglaterra, nos Artigos XIX, XX e XXI, coloca a relação da Bíblia e
da Igreja clara aos seus membros: “A Igreja visível de Cristo é a congregação
de pessoas de fé, na qual a pura Palavra de Deus é pregada e os Sacramentos são
devidamente administrados, de acordo com a ordenança de Cristo”. Isso nos dá a
definição do que é a Igreja visível, ou o que qualquer ramo dela deve ser,
certamente não o que sempre é de fato. Prossegue o Artigo: “Como as Igrejas de
Jerusalém, Alexandria e Antioquia erraram, assim também a Igreja de Roma tem
errado, não apenas nas práticas e nas maneiras das cerimônias, mas também em matéria
de fé”. Isso é, em efeito, toda a Igreja visível de Cristo, para todos inclusos
sob essa quádrupla divisão patriarcal.
Novamente:
“A Igreja tem poder para decretar ritos e cerimonias e autoridade em matérias
de fé” Sim; autoridade para declarar seu julgamento sobre isso, ainda que não
uma autoridade absoluta ou infalível. A autoridade dela é limitada. Para ela
“não pode ordenar nada contrário a Palavra escrita de Deus”; ou fazer a
Escritura contradizer a si mesma, nem, ao lado da mesma, requerer algo para se
crer como um artigo de fé. Seu ofício é de ser testemunha da Escritura Sagrada,
isto é, o fato de que tais livros já foram considerados por ela como divinos ou
sagrados desde o início; e que ela é cuidadosa para preservar os mesmos e
mantê-los longe da corrupção e espalhar ao mundo suas verdades sagradas. Mas
tudo isso não dá à igreja autoridade sobre ela, ou sua interpretação, ou seus
leitores. A Igreja visível deve ser o pilar e o terreno da verdade, e enquanto
é pura e verdadeira ela o é. Mas, infelizmente,
não é sempre assim. Ela é muitas vezes pilar de falsas doutrinas, a fonte e fundação
de erros, o suporte de superstições e idolatrias. E passar de Igrejas
particulares para Concílios Gerais, compostos por, pode ser, centenas de bispos
de muitas igrejas: “Quando estão reunidos, na medida em que são uma assembleia
de homens da qual nem todos são governados pela Palavra e pelo Espírito de
Deus, eles podem errar e, às vezes, erraram, mesmo nas coisas pertencentes a
Deus. Portanto, as coisas por eles ordenadas não têm força nem autoridade, a
menos que possa ser declarado 'com verdade' que elas são tiradas da Palavra de
Deus”. Seiscentos bispos no Concílio Vaticano em 1870 declararam o Papa
infalível. Isso o faz? Por último, nós admitimos que a Igreja tem uma obrigação
e uma autoridade para ensinar; mas ela também é compelida a provar, para a
satisfação de todas as pessoas razoáveis, que seus ensinamentos estão em
estrito acordo com a infalível Palavra de Deus. A obrigação dela não vai além
da concedida aos apóstolos:
“Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”, a saber, estas coisas que registramos pela escrita inspirada do Novo Testamento, e em nenhum outro lugar. Ela não pode ir além da Palavra do Senhor, nem mais nem menos. Não admitimos a afirmada equivalência da assim chamada tradição Apostólica ou Eclesial. “A Bíblia, e somente a Bíblia, é”, ou talvez de forma mais acurada, contém “a Religião dos Protestantes”.
Artigo escrito pelo Ven. William Francis Taylor, D. D., LL. D (1820 - 1906). Dr. Taylor foi um teólogo reformado do tipo de Cranmer, Ridley e Jewel, com cujas obras seu ensinamento, tanto do púlpito quanto do meio de publicações, provou-o completamente familiar. Em combinação com este conhecimento, ele trouxe um modelo de evangelismo mais profundo e espiritual dos grandes puritanos do século XVII, tais como Owen, Howe e Goodwin, cujos volumes maciços sobre as coisas profundas de Deus ele obviamente leu com prazer e grande vantagem. Ele serviu como Capelão do Bispo de Liverpool, Reitor Rural de Walton, Cânon Honorário da Catedral de Liverpool, Arquidiácono de Warrington e finalmente Arquidiácono de Liverpool.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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