quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 

A Doutrina do Inferno: um tema impopular nos dias de hoje. Por Thomas Boston (1676-1732) Parte I

Thomas Boston (1676-1732): Um Escocês, Ministro e Erudito, Presbiteriano. Autor de a Natureza Humana em seu Quádruplo Estado (1720), A Medula da Divindade Moderna (1726), e muitos outros tratados e sermões. Nascido em Duns Berwickshire. Este sermão foi retirado de: Obras completas de Thomas Boston, vol. 1. “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” Mateus 25:41 (ACF). 

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

INTRODUÇÃO:

Não havia outra morada eterna senão o céu. Eu deveria terminar por aqui o meu discurso sobre o estado eterno do homem, mas como no outro mundo há uma prisão para os pecadores, assim como há um palácio para os santos, nós devemos também pesquisar sobre esse estado eterno de miséria, do qual o pior dos homens deverá suportar sem choro - “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?”. “Pois ainda há acesso para fugir da ira vindoura”, e tudo o que pode ser dito sobre isso se resume ao que os condenados irão sentir, pois, “Quem conhece o poder da tua ira?”.

 

A última coisa que o nosso Senhor fez, antes dEle deixar a terra, foi, “E levou-os fora, até Betânia; e, levantando as suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu” Lucas 24:50,51 (ACF).

 

Mas a última coisa que Ele fará, antes dEle deixar o trono, é amaldiçoar e condenar Seus inimigos, assim como nós aprendemos do texto que contém a terrível sentença em que a eterna miséria dos pecadores está declarada. Das quais, três coisas podem ser notadas:

 

1ª. A ‘qualidade’ dos condenados - ‘vós que praticais o mal’. O Juiz encontra a ‘maldição da lei’ sobre eles como transgressores, e com sua maldição os expulsa de Sua presença, para o inferno, para que lá a lei seja totalmente aplicada sob eles.

 

2ª. A ‘punição’ da qual estão sentenciados, da qual estiveram sempre ligados em virtude da maldição. E a punição é dupla: A punição da ‘perda’, da separação de Deus e de Cristo – ‘Apartai-vos de Mim’. E a punição dos ‘sentidos’ – dos mais tristes e extremos tormentos – ‘Apartai-vos de Mim’, para o fogo eterno.

 

3ª. O ‘aumento’ dos seus tormentos:

 

a. Os tormentos estão prontos para eles, eles não devem esperar um momento sequer de alívio. O fogo está preparado para enlaçar aqueles no qual forem atirados.

 

b. Eles terão a comunidade de demônios em seus tormentos, sendo aprisionados com eles no inferno. Eles devem perecer no mesmo fogo, preparado para Belzebu, o príncipe dos demônios, e seus anjos; isto é, outros anjos predestinados à condenação que caíram com ele, e se tornaram demônios. Diz-se estar preparados para eles, pois os demônios pecaram e foram condenados ao inferno mesmo antes do homem pecar.

 

Isso causa ainda mais terror aos condenados, que eles devem passar pelos mesmos tormentos, e lugar de tormento, com o diabo e seus anjos. Eles deram ouvidos as tentações do diabo, e devem compartilhar dos tormentos do diabo - os trabalhos do diabo eles executaram, e eles devem receber o salário, que é a morte. Nesta vida eles se uniram aos diabos de forma maliciosa contra Deus e Cristo, e o caminho da santidade. E na eternidade, eles devem habitar com eles.

 

Dessa forma todos os bodes devem ser aprisionados juntos – pois esse nome é comum aos demônios e aos homens perversos, em Levíticos 17:7, onde a palavra destinada aos demônios significa propriamente cabeludos, ou bodes, na forma de tais criaturas é que demônios se deleitam em se apresentar aos seus adoradores.


c. O último agravamento do tormento deles é a duração eterna, sendo assim; eles devem dividir o fogo que nunca findará. Isso é o que coloca sobre eles a “última pedra” em sua miséria, nomeadamente, o fato de o tormento nunca ter fim.

 

Doutrina – os perversos devem ser aprisionados à maldição de Deus, em infindável miséria, com os diabos no inferno.


 

Depois de provar que deverá haver a ressurreição do corpo e um julgamento geral, eu penso que não é necessário insistir em provar a verdade sobre o julgamento vindouro. A mesma consciência que existe no homem sobre um julgamento vindouro acaba por testemunhar a verdade de uma punição que está por vir. (E que a punição dos condenados não deverá ser aniquilação, ou redução deles a nada, isto ficará claro ao longo do nosso discurso.) Tratando desse terrível assunto eu devo investigar estas quatro coisas:

 

 

I. A maldição sobre a qual os condenados serão aprisionados.

 

 

II.  A miséria deles debaixo de tal maldição.

 

 

III. A associação deles com os demônios neste estado de miséria.

 

 

IV.  A eternidade como um todo.

 

I. A maldição sob a qual os condenados devem ser aprisionados no inferno:

 

É a terrível sentença da lei pela qual eles estão ligados à ira de Deus, como transgressores. Esta maldição não vem pela primeira vez a eles quando estão em frente ao tribunal para receber sua sentença; mas eles nasceram sob essa maldição, eles guiaram suas vidas sob ela nesse mundo, eles morreram sob ela, e levantaram de suas sepulturas com ela.  E o Juiz encontrando a maldição sobre eles, expulsam-nos com ela para junto do abismo, onde a maldição deve permanecer sobre eles durante toda a eternidade. Por natureza todos os homens estão sob a maldição. Mas, ela é removida dos eleitos em virtude de sua união com Cristo. Ela permanece no resto da humanidade pecadora, e por ela eles são devotados à destruição, e separados para o mal. Sendo assim, amaldiçoados para sempre sejam os devotados à destruição! Separados e apartados do resto da humanidade, para o mal, vasos de ira. Postos como alvos para as flechas da ira divina! E feitos de receptáculos e desembarque para a vingança eterna. Essa maldição tem suas primícias na terra, que são uma promessa do todo que está por vir. Por isso que as misérias temporais e eternas dos inimigos de Deus, são algumas vezes inclusas em uma e mesma expressão na ameaça. Que cegueira judicial a qual muitos estão entregues é essa? “Dos quais o deus deste século cegou” (2 Coríntios 4:4), mas, e as primícias do inferno e da maldição? O sol delas está se pondo ao meio dia, sua escuridão está aumentando, como se não fosse parar até atingir a escuridão total.

 

A consciência chicoteia os ímpios em meio a escuridão, as quais o mundo não escuta - e o que seria aquilo senão o bicho que nunca morre já começando os roer? E não há um desses que não possa ser chamado José, pois ´O Senhor me acrescente outro filho´; ou então Gade, pois ´uma tropa vem´. Estas gotas de ira são terríveis pressentimentos do banho completo que está por vir. As vezes eles são entregues as suas vis afeições das quais eles já não têm mais controle (Romanos 1:26). Então sua luxúria cresce mais e mais em direção à perfeição, por assim dizer. Assim, como no céu a graça atinge sua perfeição, também no inferno o pecado chega ao seu pico; e como o pecado está, por tanto, avançando sobre o homem, o homem está o mais próximo e propenso ao inferno. Há três coisas que contém um aspecto temeroso aqui:

 

1. Quando tudo o que é benéfico à alma dos homens pode tornar-se maldito a eles, de forma que suas bênçãos são amaldiçoadas: sermões, orações, admoestações, e repreensão, que são poderosas nos outros, são bem ineficientes a eles.

 

2. Quando o homem insiste em pecar, ainda que em face das claras repreensões do Senhor às suas ordenanças e providências.

 

3. Quando tudo em seu destino é convertido em combustível às suas depravações. Sendo assim, adversidade e prosperidade, pobreza e riqueza, a falta de regras e o fato de se deleitar em não as ter, não faz nada além de nutrir a corrupção de muitos. Seus estômagos depravados corrompem tudo o que recebem e tudo que faz é potencializar seu humor nocivo. Mas, a colheita completa está por vir, naquela miséria da qual eles deverão permanecer para sempre no inferno, aquela ira que, em virtude da maldição, deve os atingir na totalidade—à qual será a maldição executada de forma completa. Esta nuvem negra se abre sob eles e o terrível raio os atinge, do qual a terrível voz que vem do trono diz, ‘Apartai-vos de mim, vós que praticais o mal’, o que dará ao mundo caído uma visão sombria do que está no cerne da maldição.

 

1. É uma voz de extrema indignação e ira, uma repreensão furiosa do Leão da tribo de Judá! Seus olhares serão extremamente terríveis sob eles; Seus olhos lançarão chamas de fogo neles; e Suas palavras irão despedaçar seus corações como flechas envenenadas! É quando Ele, então, os irá expulsar, pela sua palavra, de Sua presença para todo o sempre e por Sua palavra afugentá-los de diante do trono, eles verão quão intensa ira queima em Seu coração contra eles e seus pecados.

 

2. É uma voz de extremo desdém e desprezo que vem do Senhor. Era o tempo de terem piedade, admoestados a serem piedosos, e a pertencerem ao Senhor; porém eles desprezaram ao Senhor—eles não queriam nada dEle - mas agora eles devem ser soterrados fora das vistas do Senhor, sob desprezo eterno.

 

3. É uma voz de extremo ódio. Assim sendo o Senhor os expulsa de Seus atos de amor e misericórdia.  ‘Apartai-vos de mim, vós que praticais o mal’. Eu não suporto olhar para vocês, não há sequer um motivo de bondade para com vocês em Meu coração, e nunca mais deverão escutar nenhuma só palavra de esperança vinda de Mim.

 

4. É uma voz de rejeição eterna do Senhor. Ele os ordena a se apartarem e então os rejeita para sempre. Então as portas dos céus são fechadas para eles. O abismo é fixado entre eles e os céus e eles são levados à cova.

 

Agora, mesmo que eles chorassem com toda a honestidade— ‘Senhor, Senhor, abra-nos a porta’; eles escutariam nada além de — ‘Apartai-vos de Mim, vós que praticais o mal’. Então os condenados devem ser aprisionados à maldição.  Aplicação: A saber que todos aqueles que ainda estão em seu estado natural, estão sob a maldição, considere isso, e corra para Jesus Cristo enquanto é tempo, para que sejam libertos da maldição. Como vocês podem dormir nesse estado, sob a maldição?!

 

Jesus Cristo está ‘agora’ lhes dizendo: ´Venham, amaldiçoados, Eu tirarei de vós essa maldição e lhes darei a benção´. As águas do santuário estão fluindo agora, para curar o chão amaldiçoado; acautelai-vos, para que melhorem suas próprias almas, e temam com relação ao inferno, pois de outra forma; não tiraram vantagem espiritual delas. Lembre-se que os ‘charcos’, dos quais não são nem mar nem terra seca, são um bom exemplo dos hipócritas; e os ‘pântanos’ que nem produzem peixe, nem nascem árvores, porém, as águas do santuário os deixam, assim como os encontram, em sua esterilidade; ‘não serão feitos saudáveis’ os vendo rejeitar o único remédio. ‘Serão deixados para o sal’ – deixados sob a eterna esterilidade, feitos como obras de arte da ira de Deus, e para sempre consumados sob a maldição! (Ezequiel 47:11). Deixe com que todos os AMALDIÇOADORES considerem isso, dos quais as bocas estão cheias de maldição para si e para os outros.

 

Ele que ‘vestiu-se de maldição como de uma túnica’, deverá encontrar a maldição, ‘entre ela em seu corpo como água e em seus ossos como óleo ‘(Salmos 109:18), se o arrependimento não o impedir. Ele deverá ter suas imprecauções contra si mesmos totalmente respondidas, no dia em que ele estiver diante do tribunal de Deus - e deverá encontrar o peso mortal da maldição de Deus, da qual agora toma como leviana.

 

II. A miséria dos condenados, sob aquela maldição: 

 

É uma miséria da qual as línguas dos homens e dos anjos não conseguem expressar suficientemente. Deus sempre age da Sua forma - assim como favor algum pode ser comparado ao Seu, assim também Sua ira e terrores são sem medidas. Assim como os santos nos céus são elevados ao mais alto nível de alegria, assim também os condenados no inferno atingem a mais alta miséria.

 

Há duas coisas aqui que eu devo investigar de forma sóbria:  a punição da ‘perda’ e a punição do ‘sentido’, no inferno. Mas como também essas tais coisas o olho nunca viu, nem os ouvidos ouviram, nós devemos, assim como os geógrafos, deixar um grande vazio para a terra desconhecida, da qual naquele dia será descoberta.

 

a. A punição da `perda` da qual os condenados devem sofrer é a separação do senhor.

 

`Apartai-vos de mim, vós que praticais o mal`. Essa será uma pedra sobre o topo de suas sepulturas, como ‘a tampa de chumbo’ (Zacarias 5:7,8). Eles devem ficar eternamente separados de Deus e de seu Filho unigênito. Cristo é o caminho para o Pai – mas o caminho, para eles, deverá permanecer eternamente bloqueado. A ponte deverá ser retirada, e o grande abismo estabelecido, então, eles deverão ser aprisionados em um estado de eterna separação de Deus Pai, Filho, e Espírito Santo.  Eles estarão ‘localmente’ separados do Cristo homem e nunca deverão vir ao assento dos abençoados, onde Ele aparece em Sua glória, mas eles serão atirados nas trevas (Mateus 22:13).

 

Eles não podem, de fato, estar localmente separados de Deus, eles não podem estar em um lugar onde Ele não esteja; sendo que Ele está, e sempre estará presente em todos os lugares — ‘Se faço a minha cama no mais profundo abismo’ diz o salmista, ‘lá estás também’ (Salmos 139:8). Mas, eles devem estar em um estado de miséria além do imaginável, em uma ‘relativa’ separação de Deus. Apesar dEle estar presente no centro de suas almas (por assim dizer), enquanto eles estão envoltos em terríveis chamas, em meio as trevas - para serem somente alimentados com o vinagre de Sua ira, e para puni-los com o emanar de sua justa vingança. Eles nunca mais deverão provar da bondade e generosidade de Deus, nem mesmo ter a menor fagulha de esperança partindo dEle.

 

Eles verão o coração Dele ser absolutamente alienado deles, e que não poderá ser favorável a eles, que eles são o grupo contra quem Deus terá indignação eterna. Eles deverão ser privados da gloriosa presença e deleite de Deus — eles não deverão ter parte das beatitudes, nem mesmo ver nada de Deus para com eles a não ser uma onda de ira rolando atrás da outra! Isso trará sob eles uma esmagadora enchente de sofrimentos para todo o sempre. Eles nunca provarão o gosto dos rios de prazeres do qual os santos nos céus deleitam-se; mas terão um inverno eterno e uma noite perpétua, pois o Sol da Justiça se apartou deles e então eles são deixados em meio as trevas. Tão grande quanto a alegria dos céus é, tão grande será a perda deles — pois eles não poderão ter nada dela para sempre.

 

1. Esta separação será uma separação involuntária. ‘Agora’ eles se apartaram dEle. Eles não irão vir a Ele, apesar de serem chamados e suplicados a vir. Mas ‘então’ eles serão afastados dEle, quando eles, com prazer, permaneceriam com Ele. Porém, a pergunta Que é o teu amado mais que o outro amado? é frequente agora entre os que desprezam o Evangelho, não haverá tal questionamento entre os condenados; pois eles, então, verão que a felicidade do homem pode ser somente encontrada em deleitar a Deus, e que a perda dEle é uma perda que nunca poderá ser comparada.

 

2. Será uma total e completa separação. Apesar de os perversos estarem, nessa vida, separados de Deus, ainda há um tipo de troca entre eles — Ele dá a eles bons favores, e eles dão a Ele, ao menos, algumas boas palavras, então, até que a paz não é de todo trágica.

 

3. Será uma separação final. Eles vão se separar dEle, para nunca mais se encontrarem, sendo aprisionados sob eterno desespero e horror. A rivalidade entre Jesus Cristo e os incrédulos, da qual tem sido sempre levada adiante, e recuado, deverá então ser quebrada para sempre; e nunca mais nem sequer uma mensagem de favor ou boa vontade será trocada entre as partes.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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