A Doutrina do Inferno: um tema impopular nos dias de hoje. Por Thomas Boston (1676-1732) Parte I
Thomas Boston (1676-1732): Um Escocês, Ministro e Erudito, Presbiteriano. Autor de a Natureza Humana em seu Quádruplo Estado (1720), A Medula da Divindade Moderna (1726), e muitos outros tratados e sermões. Nascido em Duns Berwickshire. Este sermão foi retirado de: Obras completas de Thomas Boston, vol. 1. “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” Mateus 25:41 (ACF).
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
INTRODUÇÃO:
Não
havia outra morada eterna senão o céu. Eu deveria terminar por aqui o meu
discurso sobre o estado eterno do homem, mas como no outro mundo há uma prisão
para os pecadores, assim como há um palácio para os santos, nós devemos também
pesquisar sobre esse estado eterno de miséria, do qual o pior dos homens deverá
suportar sem choro - “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?”. “Pois ainda
há acesso para fugir da ira vindoura”, e tudo o que pode ser dito sobre isso se
resume ao que os condenados irão sentir, pois, “Quem conhece o poder da tua
ira?”.
A
última coisa que o nosso Senhor fez, antes dEle deixar a terra, foi, “E levou-os
fora, até Betânia; e, levantando as suas mãos, os abençoou. E aconteceu que,
abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu” Lucas 24:50,51 (ACF).
Mas
a última coisa que Ele fará, antes dEle deixar o trono, é amaldiçoar e condenar
Seus inimigos, assim como nós aprendemos do texto que contém a terrível
sentença em que a eterna miséria dos pecadores está declarada. Das quais, três
coisas podem ser notadas:
1ª.
A ‘qualidade’ dos condenados - ‘vós que praticais o mal’. O Juiz encontra a ‘maldição
da lei’ sobre eles como transgressores, e com sua maldição os expulsa de Sua
presença, para o inferno, para que lá a lei seja totalmente aplicada sob eles.
2ª.
A ‘punição’ da qual estão sentenciados, da qual estiveram sempre ligados em
virtude da maldição. E a punição é dupla: A punição da ‘perda’, da separação de
Deus e de Cristo – ‘Apartai-vos de Mim’. E a punição dos ‘sentidos’ – dos mais
tristes e extremos tormentos – ‘Apartai-vos de Mim’, para o fogo eterno.
3ª.
O ‘aumento’ dos seus tormentos:
a.
Os tormentos estão prontos para eles, eles não devem esperar um momento sequer
de alívio. O fogo está preparado para enlaçar aqueles no qual forem atirados.
b.
Eles terão a comunidade de demônios em seus tormentos, sendo aprisionados com
eles no inferno. Eles devem perecer no mesmo fogo, preparado para Belzebu, o
príncipe dos demônios, e seus anjos; isto é, outros anjos predestinados à condenação
que caíram com ele, e se tornaram demônios. Diz-se estar preparados para eles,
pois os demônios pecaram e foram condenados ao inferno mesmo antes do homem
pecar.
Isso
causa ainda mais terror aos condenados, que eles devem passar pelos mesmos tormentos,
e lugar de tormento, com o diabo e seus anjos. Eles deram ouvidos as tentações
do diabo, e devem compartilhar dos tormentos do diabo - os trabalhos do diabo
eles executaram, e eles devem receber o salário, que é a morte. Nesta vida eles
se uniram aos diabos de forma maliciosa contra Deus e Cristo, e o caminho da santidade.
E na eternidade, eles devem habitar com eles.
Dessa
forma todos os bodes devem ser aprisionados juntos – pois esse nome é comum aos
demônios e aos homens perversos, em Levíticos 17:7, onde a palavra destinada aos
demônios significa propriamente cabeludos, ou bodes, na forma de tais criaturas
é que demônios se deleitam em se apresentar aos seus adoradores.
c.
O último agravamento do tormento deles é a duração eterna, sendo assim; eles
devem dividir o fogo que nunca findará. Isso é o que coloca sobre eles a
“última pedra” em sua miséria, nomeadamente, o fato de o tormento nunca ter
fim.
Doutrina – os perversos
devem ser aprisionados à maldição de Deus, em infindável miséria, com os diabos
no inferno.
Depois
de provar que deverá haver a ressurreição do corpo e um julgamento geral, eu
penso que não é necessário insistir em provar a verdade sobre o julgamento
vindouro. A mesma consciência que existe no homem sobre um julgamento vindouro
acaba por testemunhar a verdade de uma punição que está por vir. (E que a
punição dos condenados não deverá ser aniquilação, ou redução deles a nada,
isto ficará claro ao longo do nosso discurso.) Tratando desse terrível assunto
eu devo investigar estas quatro coisas:
I.
A maldição sobre a qual os condenados serão aprisionados.
II. A miséria deles debaixo de tal maldição.
III.
A associação deles com os demônios neste estado de miséria.
IV.
A eternidade como um todo.
I. A maldição sob a qual os condenados devem ser
aprisionados no inferno:
É
a terrível sentença da lei pela qual eles estão ligados à ira de Deus, como transgressores.
Esta maldição não vem pela primeira vez a eles quando estão em frente ao
tribunal para receber sua sentença; mas eles nasceram sob essa maldição, eles
guiaram suas vidas sob ela nesse mundo, eles morreram sob ela, e levantaram de
suas sepulturas com ela. E o Juiz
encontrando a maldição sobre eles, expulsam-nos com ela para junto do abismo,
onde a maldição deve permanecer sobre eles durante toda a eternidade. Por
natureza todos os homens estão sob a maldição. Mas, ela é removida dos eleitos em
virtude de sua união com Cristo. Ela permanece no resto da humanidade pecadora,
e por ela eles são devotados à destruição, e separados para o mal. Sendo assim,
amaldiçoados para sempre sejam os devotados à destruição! Separados e apartados
do resto da humanidade, para o mal, vasos de ira. Postos como alvos para as
flechas da ira divina! E feitos de receptáculos e desembarque para a vingança
eterna. Essa maldição tem suas primícias na terra, que são uma promessa do todo
que está por vir. Por isso que as misérias temporais e eternas dos inimigos de
Deus, são algumas vezes inclusas em uma e mesma expressão na ameaça. Que cegueira
judicial a qual muitos estão entregues é essa? “Dos quais o deus deste século
cegou” (2 Coríntios 4:4), mas, e as primícias do inferno e da maldição? O sol
delas está se pondo ao meio dia, sua escuridão está aumentando, como se não
fosse parar até atingir a escuridão total.
A
consciência chicoteia os ímpios em meio a escuridão, as quais o mundo não
escuta - e o que seria aquilo senão o bicho que nunca morre já começando os
roer? E não há um desses que não possa ser chamado José, pois ´O Senhor me
acrescente outro filho´; ou então Gade, pois ´uma tropa vem´. Estas gotas de
ira são terríveis pressentimentos do banho completo que está por vir. As vezes
eles são entregues as suas vis afeições das quais eles já não têm mais controle
(Romanos 1:26). Então sua luxúria cresce mais e mais em direção à perfeição,
por assim dizer. Assim, como no céu a graça atinge sua perfeição, também no
inferno o pecado chega ao seu pico; e como o pecado está, por tanto, avançando
sobre o homem, o homem está o mais próximo e propenso ao inferno. Há três
coisas que contém um aspecto temeroso aqui:
1.
Quando tudo o que é benéfico à alma dos homens pode tornar-se maldito a eles,
de forma que suas bênçãos são amaldiçoadas: sermões, orações, admoestações, e
repreensão, que são poderosas nos outros, são bem ineficientes a eles.
2.
Quando o homem insiste em pecar, ainda que em face das claras repreensões do
Senhor às suas ordenanças e providências.
3.
Quando tudo em seu destino é convertido em combustível às suas depravações.
Sendo assim, adversidade e prosperidade, pobreza e riqueza, a falta de regras e
o fato de se deleitar em não as ter, não faz nada além de nutrir a corrupção de
muitos. Seus estômagos depravados corrompem tudo o que recebem e tudo que faz é
potencializar seu humor nocivo. Mas, a colheita completa está por vir, naquela
miséria da qual eles deverão permanecer para sempre no inferno, aquela ira que,
em virtude da maldição, deve os atingir na totalidade—à qual será a maldição
executada de forma completa. Esta nuvem negra se abre sob eles e o terrível
raio os atinge, do qual a terrível voz que vem do trono diz, ‘Apartai-vos de
mim, vós que praticais o mal’, o que dará ao mundo caído uma visão sombria do
que está no cerne da maldição.
1.
É uma voz de extrema indignação e ira, uma repreensão furiosa do Leão da tribo
de Judá! Seus olhares serão extremamente terríveis sob eles; Seus olhos lançarão
chamas de fogo neles; e Suas palavras irão despedaçar seus corações como
flechas envenenadas! É quando Ele, então, os irá expulsar, pela sua palavra, de
Sua presença para todo o sempre e por Sua palavra afugentá-los de diante do
trono, eles verão quão intensa ira queima em Seu coração contra eles e seus
pecados.
2.
É uma voz de extremo desdém e desprezo que vem do Senhor. Era o tempo de terem
piedade, admoestados a serem piedosos, e a pertencerem ao Senhor; porém eles desprezaram
ao Senhor—eles não queriam nada dEle - mas agora eles devem ser soterrados fora
das vistas do Senhor, sob desprezo eterno.
3.
É uma voz de extremo ódio. Assim sendo o Senhor os expulsa de Seus atos de amor
e misericórdia. ‘Apartai-vos de mim, vós
que praticais o mal’. Eu não suporto olhar para vocês, não há sequer um motivo
de bondade para com vocês em Meu coração, e nunca mais deverão escutar nenhuma
só palavra de esperança vinda de Mim.
4.
É uma voz de rejeição eterna do Senhor. Ele os ordena a se apartarem e então os
rejeita para sempre. Então as portas dos céus são fechadas para eles. O abismo
é fixado entre eles e os céus e eles são levados à cova.
Agora,
mesmo que eles chorassem com toda a honestidade— ‘Senhor, Senhor, abra-nos a porta’;
eles escutariam nada além de — ‘Apartai-vos de Mim, vós que praticais o mal’.
Então os condenados devem ser aprisionados à maldição. Aplicação: A saber que todos aqueles que
ainda estão em seu estado natural, estão sob a maldição, considere isso, e
corra para Jesus Cristo enquanto é tempo, para que sejam libertos da maldição.
Como vocês podem dormir nesse estado, sob a maldição?!
Jesus
Cristo está ‘agora’ lhes dizendo: ´Venham, amaldiçoados, Eu tirarei
de vós essa maldição e lhes darei a benção´. As águas do santuário estão
fluindo agora, para
curar o chão amaldiçoado; acautelai-vos, para que melhorem suas próprias almas,
e temam com relação ao inferno, pois de outra forma; não tiraram vantagem espiritual
delas. Lembre-se que os ‘charcos’, dos quais não são nem mar nem terra seca,
são um bom exemplo dos hipócritas; e os ‘pântanos’ que nem produzem peixe, nem
nascem árvores, porém, as águas do santuário os deixam, assim como os
encontram, em sua esterilidade; ‘não serão feitos saudáveis’ os vendo rejeitar o
único remédio. ‘Serão deixados para o sal’ – deixados sob a eterna
esterilidade, feitos como obras de arte da ira de Deus, e para sempre
consumados sob a maldição! (Ezequiel 47:11). Deixe com que todos os AMALDIÇOADORES considerem isso, dos quais as bocas estão cheias
de maldição para si e para os outros.
Ele
que ‘vestiu-se de maldição como de uma túnica’, deverá encontrar a maldição,
‘entre ela em seu corpo como água e em seus ossos como óleo ‘(Salmos 109:18),
se o arrependimento não o impedir. Ele deverá ter suas imprecauções contra si
mesmos totalmente respondidas, no dia em que ele estiver diante do tribunal de
Deus - e deverá encontrar o peso mortal da maldição de Deus, da qual agora toma
como leviana.
II. A miséria dos condenados, sob aquela
maldição:
É uma miséria da qual as línguas dos homens e dos anjos não conseguem expressar suficientemente. Deus sempre age da Sua forma - assim como favor algum pode ser comparado ao Seu, assim também Sua ira e terrores são sem medidas. Assim como os santos nos céus são elevados ao mais alto nível de alegria, assim também os condenados no inferno atingem a mais alta miséria.
Há
duas coisas aqui que eu devo investigar de forma sóbria: a punição da ‘perda’ e a punição do ‘sentido’,
no inferno. Mas como também essas tais coisas o olho nunca viu, nem os ouvidos
ouviram, nós devemos, assim como os geógrafos, deixar um grande vazio para a terra
desconhecida, da qual naquele dia será descoberta.
a. A punição da `perda` da qual os condenados devem
sofrer é a separação do senhor.
`Apartai-vos
de mim, vós que praticais o mal`. Essa será uma pedra sobre o topo de suas sepulturas,
como ‘a tampa de chumbo’ (Zacarias 5:7,8). Eles devem ficar eternamente
separados de Deus e de seu Filho unigênito. Cristo é o caminho para o Pai – mas
o caminho, para eles, deverá permanecer eternamente bloqueado. A ponte deverá
ser retirada, e o grande abismo estabelecido, então, eles deverão ser
aprisionados em um estado de eterna separação de Deus Pai, Filho, e Espírito
Santo. Eles estarão ‘localmente’
separados do Cristo homem e nunca deverão vir ao assento dos abençoados, onde
Ele aparece em Sua glória, mas eles serão atirados nas trevas (Mateus 22:13).
Eles
não podem, de fato, estar localmente separados de Deus, eles não podem estar em
um lugar onde Ele não esteja; sendo que Ele está, e sempre estará presente em todos
os lugares — ‘Se faço a minha cama no mais profundo abismo’ diz o salmista, ‘lá
estás também’ (Salmos 139:8). Mas, eles devem estar em um estado de miséria
além do imaginável, em uma ‘relativa’ separação de Deus. Apesar dEle estar
presente no centro de suas almas (por assim dizer), enquanto eles estão
envoltos em terríveis chamas, em meio as trevas - para serem somente
alimentados com o vinagre de Sua ira, e para puni-los com o emanar de sua justa
vingança. Eles nunca mais deverão provar da bondade e generosidade de Deus, nem
mesmo ter a menor fagulha de esperança partindo dEle.
Eles
verão o coração Dele ser absolutamente alienado deles, e que não poderá ser
favorável a eles, que eles são o grupo contra quem Deus terá indignação eterna.
Eles deverão ser privados da gloriosa presença e deleite de Deus — eles não
deverão ter parte das beatitudes, nem mesmo ver nada de Deus para com eles a
não ser uma onda de ira rolando atrás da outra! Isso trará sob eles uma esmagadora
enchente de sofrimentos para todo o sempre. Eles nunca provarão o gosto dos
rios de prazeres do qual os santos nos céus deleitam-se; mas terão um inverno
eterno e uma noite perpétua, pois o Sol da Justiça se apartou deles e então
eles são deixados em meio as trevas. Tão grande quanto a alegria dos céus é,
tão grande será a perda deles — pois eles não poderão ter nada dela para
sempre.
1.
Esta separação será uma
separação involuntária. ‘Agora’ eles se
apartaram dEle. Eles não irão vir a Ele, apesar de serem chamados e suplicados
a vir. Mas ‘então’ eles serão afastados dEle, quando eles, com prazer, permaneceriam
com Ele. Porém, a pergunta Que é o teu amado mais que o outro amado? é
frequente agora entre os que desprezam o Evangelho, não haverá tal
questionamento entre os condenados; pois eles, então, verão que a felicidade do
homem pode ser somente encontrada em deleitar a Deus, e que a perda dEle é uma
perda que nunca poderá ser comparada.
2. Será uma total e completa separação. Apesar de os perversos estarem, nessa vida, separados
de Deus, ainda há um tipo de troca entre eles — Ele dá a eles bons favores, e
eles dão a Ele, ao menos, algumas boas palavras, então, até que a paz não é de
todo trágica.
3. Será uma separação final. Eles vão se separar dEle, para nunca mais se encontrarem, sendo aprisionados sob eterno desespero e horror. A rivalidade entre Jesus Cristo e os incrédulos, da qual tem sido sempre levada adiante, e recuado, deverá então ser quebrada para sempre; e nunca mais nem sequer uma mensagem de favor ou boa vontade será trocada entre as partes.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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