sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 

A Inglaterra e os Males do Ritualismo - Bispo J. C. Ryle / Parte VI

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

Kunsthistorisches, Caspar van Wittel, Museum Petersplatz in Rome, (c. 1700-1710). 

Mas afinal, o ritualismo está causando algum dano à Igreja da Inglaterra? Com todas as suas falhas e defeitos, o movimento não faz mais bem que o mal? Não é melhor sermos otimistas e deixar o ritualismo em paz? Não é indelicado e impertinente interferir com homens tão dedicados e talentosos? Essas são perguntas que muitos fazem em sua simplicidade, e são perguntas que exigem uma resposta clara. Alguns nos dizem que o Ritualismo reavivou a Igreja, trouxe os leigos de volta, infundiu um novo espírito no establishment, aumentou sua tenda e fortaleceu seus fundamentos.

Alguns nos dizem que a existência de um partido ritualístico em nossa Igreja é um indicativo saudável de que temos equilíbrio para ouvir todas as vozes; caso o Ritualismo saia da Igreja, estaremos perdidos. Minha opinião é diametralmente inversa. Acredito que o ritualismo causou e está causando enormes danos à Igreja da Inglaterra e que, a menos que seja sanado ou removido, nos conduzirá à destruição. O ritualismo está dividindo o clero em dois partidos distintos e fomentando o conflito interno. Enquanto as diferenças se limitaram apenas entre a Igreja Alta e a Igreja Baixa, pouco dano foi feito. Mas quando a luta é entre o papado e o protestantismo, a união é impossível. Estas duas coisas não podem beneficamente cooperarem, e é absurdo supor o contrário. Um dos dois partidos está no lugar errado. O que diz a Escritura? O próprio Mestre declarou: “Se uma casa se dividir contra si mesma, não poderá subsistir.” (Marcos 3:25). O ritualismo está pouco a pouco roubando a Igreja de alguns de seus melhores membros. Não poucos banqueiros, advogados, médicos e comerciantes estão abandonando o navio. Sua confiança encontra-se completamente abalada. Eles não podem entender como o serviço é papista em uma paróquia e protestante em outra. Eles estão enojados com a tolerância contínua frente as novidades papistas, as quais o próprio senso comum lhes diz serem tanto inescrupulosas quanto não bíblicas. Alguns estão indo para os Irmãos de Plymouth, alguns se juntam a dissidentes, e alguns se mantêm afastados e se recusam a tomar parte nos assuntos da Igreja. Esse estado de coisas é pernicioso. A vida da Igreja está sendo drenada. O ritualismo está afastando as classes média e baixa da Igreja da Inglaterra.

 

Milhares de comerciantes, fazendeiros e artesãos têm um horror instintivo ao papado. Eles podem não ser muito inteligentes ou profundamente letrados em questões teológicas, mas estão determinados a não aturar o papado. Eles não notam nuances teológicas ou nomeiam as coisas adequadamente: talvez chamem uma pá de espada. Mas, quando notam a menor tentativa de reintroduzir as cerimônias papistas em suas paroquiais, suas suspeitas surgem, e eles abandonam a capela. O ministro que permite que essas suspeitas surjam, seja ele bispo ou presbítero, pode ser sincero, bem intencionado e zeloso, mas não é um amigo verdadeiro da Igreja da Inglaterra. De uma vez por todas devo declarar que meus principais temores sobre o ritualismo surgem do efeito que ele produz nas mentes das classes baixa e média. Eles não gostam disso. Eles não o aceitarão. Eles o chamam de PAPISMO. Membros de mente rasa da aristocracia - ascetas mal-educados - membros obstinados e parcamente instruídos de famílias evangélicas, os quais querem mesclar diversão e mundanismo com o formalismo religioso; jovens ociosos; senhoras e moças descuidadas; aqueles que amam quaisquer coisas extravagantes, vistosas, sensacionalistas e teatrais no culto; ou que gostam de mostrar sua independência discordando de seus pais – todos estes podem permanecer fieis ao Ritualismo e apoiá-lo fortemente. São como crianças que admiram papoulas mais que milho, como bebês que valorizam mais os brinquedos do que a comida. Mas o ritualismo não atende às necessidades do trabalhador, do homem prático, das massas trabalhadoras, da classe média ou do artesão inteligente, que são cérebro e músculos da Inglaterra.


Esses homens querem comida para suas almas e descanso para suas consciências. Eles acham a vida difícil e desgastante demais para se contentarem com ninharias e brinquedos no culto. Se a Igreja só puder oferecer-lhes o ritualismo, eles se afastarão dela em desgosto. Se ela lhes der fielmente o Evangelho puro, eles nunca sairão e nunca a abandonarão. Deixe o ritualismo crescer e se espalhar por mais alguns anos e o fim virá. A Igreja perecerá por falta de membros. Generais, coronéis e bandas de música não compõem um Exército, nem Bispos, coristas e clérigos, por si só, formam uma Igreja. A Igreja da Inglaterra nunca ficará de pé se desprezar o povo de suas congregações. A queda virá como uma coisa natural. A Igreja de uma minoria não será poupada na Inglaterra mais do que na Irlanda. Dos estadistas aos oradores de turma, todos declararão que a Igreja estabelecida é "uma grande anomalia" e deve ser eliminada. A voz do povo exigirá nossa destruição; e segundo os princípios democráticos, será obedecida. A Igreja da Inglaterra, deixando de ser oficial, se dividirá em pedaços, ou se tornará uma mera seita, como a Igreja Episcopal Escocesa. Assim, as páginas da história registrarão que ela naufragou, caiu de toda a sua grandeza pela tentativa suicida de abandonar os princípios da Reforma e reintroduzir o papado.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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