Capacitação Espiritual para o Trabalho Espiritual / Rev. Thomas Smith.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
“Admoestar” – assim como “instruir” - é uma parte muito importante do trabalho ao qual os ministros do Evangelho de Cristo se comprometeram. Antes de sermos admitidos no Ofício do Presbiterato, fomos seriamente lembrados pelo Supremo Pastor que iriamos assumir os deveres de “sentinelas”, e fomos expressivamente exortados a cumprir isso com fidelidade e diligência. Devemos cuidadosamente e em oração, nos esforçarmos a “discernir os sinais dos tempos” - entendendo-os à luz dos ensinamentos da Santa Palavra de Deus e da orientação que o Abençoado Espírito Santo lança sobre esses – e quando observarmos a existência ou a aproximação de algum erro ou mal em especial, devemos alertar claramente e em alta voz aqueles a quem diz respeito, e exortá-los a empregar os cuidados que possam ajudar a protege-los do mal, do dano e da derrota que os ameaçam.
Parece
existir nos dias de hoje, um erro muito real e muito grande, o qual predomina
extensivamente, induzindo ao erro e influenciando significativa e gravemente
muitos Cristãos professos. Refiro-me a uma tendência que menospreza e ignorar o
elemento espiritual na religião pessoal e quase – se não completamente – o
elimina e exclui do culto que devemos prestar e do serviço que devemos dedicar
ao nosso Mestre que está no céu. Uma forte crença é que este erro existe e está
em prática, conforme a oportunidade me permite e a ocasião requer, sinto-me motivado
e obrigado a alertá-los contra isto, apresentando a única verdade oposta que pode
por si só neutralizá-lo. Então, tendo aceitado o convite de falar a vocês hoje,
eu resolvi que este deveria ser o tópico do qual eu vou pedir sua atenção – “Capacitação
espiritual para o trabalho espiritual”. A palavra “capacitação” é usada em um
sentido amplo, pretende incluir informações preliminares essenciais para a
preparação e qualificação do próprio obreiro, para se dedicar ao trabalho de Deus,
bem como capacitá-lo com o que irá adequá-lo, auxiliá-lo e capacitá-lo a prosseguir
com eficiência e sucesso. Isto, a qualquer um de vocês, parece estranho –
talvez até pareça “um ditado
difícil” – que a preparação e a
qualificação do próprio obreiro sejam necessárias?
Muitas
vezes o trabalho é realizado sem que tal pensamento surja na mente, e por esse
princípio, seja lá qual for o caso, o referido erro já se instalou. “O que as Escrituras dizem?” Lembre-se das sérias palavras dirigidas a Timóteo por São Paulo, ao
conceder-lhe orientação em relação ao direcionamento de seu trabalho. “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina.” Primeiro, “a ti mesmo”, então “a doutrina”. Primeiro, compreenda “a si mesmo”, então, sirva aos outros. Primeiro, seja correto; e então, ensine o que
é correto. Lembre-se, também, daquela ocasião bastante solene em que nosso
próprio Abençoado Mestre deu a São Pedro importante responsabilidade,
referindo-se a obra de vida que ele estava prestes a iniciar: “Quando te converteres,
fortalece aos teus irmãos”. Primeiro, o trabalho em seu interior; então, o
trabalho em favor dos outros. Primeiro, tendo o seu coração verdadeiro para com
Deus; então, esforça-te para trazer outros a conhecer, confiar, amar e servir a
Ele. Primeiro, ser convertido, para depois tentar ajudar outros. É importante
que vejamos de forma clara o quão enfaticamente e o quão surpreendentemente
esta visão nos é apresentada na Palavra de Deus. “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não
estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em
vós”.
“Permaneça em mim”, diz o Salvador, “e eu permanecerei em vós. Como não pode o
ramo produzir fruto de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vós o
podereis dar, se não permanecerdes em mim. Quem permanecer em mim, e eu, nele,
esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” O pecador, em sua condição natural, não convertida e não regenerada, é
duplamente desqualificado e incapacitado de servir e agradar a Deus. Ele é
espiritualmente morto, e está sob condenação. Assim sendo, em ambos os casos,
ele não pode prestar nenhum serviço, ou nenhum trabalho, do qual Deus possa se agradar
ou ser favorável. Mesmo que tivesse vontade ou fosse capaz de fazer – ainda assim,
não haveria nenhum fundamento pelo qual pudesse manter a esperança de que seu
trabalho seria aceito e aprovado por Deus. Mas, quando o pecador recebe o
Salvador, no gracioso e glorioso ofício no qual Ele se revela a nós através do
Abençoado Evangelho – recebendo a Ele sinceramente e verdadeiramente, fielmente
e com todo o coração – recebendo a Ele, repousando toda a esperança do agora e
da eternidade nEle, e somente nEle – então, o pecador não só é perdoado, mas
também justificado; não meramente livre da condenação, mas “nascido de novo”,
através da influência regeneradora e da operação do Espírito Santo.
Ele
é convertido a Deus, unido com Cristo, e habitado pelo Espírito. A
incapacidade e incompatibilidade anteriores são removidas. Agora, ele está “vivo
para Deus, através de Jesus Cristo nosso Senhor”. Ele é “aceito no amado” e
Deus, pelo amor do Salvador, aprova e aceita seu “dever e serviço sagrados”.
Não tem somente o poder, a qualidade e a aptidão vivificantes, que o habilitam
a servir a Deus – ele é também “um vaso de honra, preparado para toda boa obra,
santificado e adequado para o uso do Mestre” – pois é agora uma pessoa
espiritual, feito deste modo pela vida espiritual infundido nele pelo Espírito
Santo que habita dentro de nós.
Assim,
o primeiro passo em direção à capacitação necessária para o trabalho de Deus, é
começar pelo Obreiro tornando-se espiritual. Então, é muito necessário
ter a clara e correta compreensão do trabalho que deve ser feito. Nós
estamos considerando a “capacitação
espiritual para o trabalhado espiritual”.
Qual é o “trabalho espiritual ?” Na mente de muitos cristãos a ideia é estritamente limitada a assuntos
nominal e declaradamente conectadas a religião. Se tivermos a Fé, esta
faculdade espiritual que nos dá discernimento do invisível, veremos que todo o
serviço que aparece no decorrer de nossa vida diária tem um aspecto espiritual
e uma influência espiritual. Deus nos diz. “Quer comais,
quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. Deus nos diz que devemos cumprir correta e diligentemente todo o
serviço que incide sobre nós, “Servindo de
boa vontade, como ao Senhor e não como a homens”.
Deus
estabelece isso para nós como uma aspiração, não para que às vezes “fazer algo grande” para Ele, ou mesmo com frequência, mas para “que Deus em todas as coisas seja glorificado”
em nós e por nós. Deus nos submete à Sua
vontade para que, no cotidiano e no lugar do mundo em que Ele nos colocou,
possamos cumprir o trabalho habitual que nos atribui. E Ele nos ordena a fazer
o trabalho, seja ele qual for, por Ele e para Ele. Isto pode parecer muito
insignificante e humilde. Isto pode realmente ser muito humano e muito mundano;
mas, quando isto for visto em direta relação com Deus e feito com referência
direta a Deus, assume-se um aspecto único e especial. Adquire-se um significado
espiritual, um interesse espiritual, um valor espiritual; e com o desejo de se
fazer bem, como deve ser feito, o trabalho atribuído; também surge um profundo
senso de incapacidade própria e de uma urgente necessidade de ajuda, para “servir a Deus adequadamente, com reverência e
temor”. “Quem é capacitado para estas coisas? Não que por nós mesmos, sejamos
capazes de pensar alguma cousa, como se partisse de nós”, é tanto uma expressão da experiência humana como é da verdade da
Revelação Divina. E é uma declaração encorajadora, como uma doce melodia para o servo
provado, tentado, atribulado, mas que tem fé:
“Nossa suficiência vem de Deus”.
É um prover Divino que certamente é concedido. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto”. E é Deus, o Espírito Santo quem administra os “Múltiplos dons da graça” de Deus, “distribuindo-os,
como lhe apraz, a cada um, individualmente”. Então,
São Paulo suplicou aos Efésios para que eles “sejam fortalecidos com poder, mediante
o Espírito de Deus no homem interior”. Esta é a fonte da qual eles deveriam
tirar suas forças – a presença, a influência, o poder do Espírito Santo neles –
iluminando o entendimento, convencendo a razão, cativando as afeições, subjugando
à vontade e trazendo todo o seu ser à disposição, amorosa submissão e devoção a
Deus. E o Apóstolo não somente orou por eles, como também os encarregou
seriamente de “se encherem
do Espírito”. Deveriam ceder
inteiramente à Sua influência, se “submeterem
integralmente à Sua Santa Vontade”,
e seguir Sua orientação “com pleno
propósito e firmeza de coração”. E
o que Deus disse a São Paulo para os Efésios, Ele claramente diz para nós agora
– “Sejam cheios do
Espírito”. Deixe que Ele ocupe a Sua
morada dentro de nós. Que Ele reine e governe sobre nós. Deixe os pensamentos,
sentimentos, objetivos, esperanças, motivos, métodos, palavras e ações serem
totalmente submetidas a Ele e colocadas sob Seu controle.
O
Espírito Santo veio ao mundo para ser O Paracleto – O Consolador. Ele está
disposto a ser isso para todos nós. Cada um de nós pode, se quisermos, ter este
Divino Amigo habitando dentro de nós; sempre acessível, sempre disponível, sempre
capaz e disposto a atender ao nosso apelo
e nos dar a ajuda que precisarmos a qualquer momento; nos lembrando o
que devemos fazer; nos mostrando como devemos fazê-lo; nos inclinando e nos
capacitando a seguir Sua direção; sempre
nos dando força de acordo com nossos dias, e adequada e suficiente graça para todo
“tempo de necessidade”. A “sabedoria de Deus” para nos guiar; o “poder de
Deus” para nos fortalecer; a “força de Deus” para nos sustentar; a “paz de Deus” para nos confortar; o “amor de
Deus” para nos alegrar; tudo
isso e muito mais – mais do que o coração do homem pode conceber – é a “Capacitação Espiritual” que Deus nos deixa a disposição, e nos incita, em Sua Santa Palavra, a
adotar e empregar fiel e diligentemente para a guerra e para o trabalho para o
qual Ele nos vocaciona. “Sejam cheios
do Espírito Santo”. Não meramente
instruídos, ou guiados, ou influenciados pelo Espírito. “Cheios com o Espírito”. Não dotados com estes ou aqueles dons e graças do Espírito; mas
revestidos com Ele e somente Ele. “Cheios do
Espírito”.
Aquele
que é cheio não tem espaço para nenhuma adição. Se nós formos “cheios do Espírito”, tudo que é ofensivo a Deus e prejudicial a nós, será absolutamente expurgado
e excluído de nós. Nenhum motivo egoísta, nem princípios errôneos, nem desejos
impuros, ou nenhuma ambição inferior jamais terá lugar em nós. Enquanto tudo o
que é “honesto, amável e de boa
fama”, irá crescer, abundar,
fortalecer e espalhar, tanto em nosso caráter interior, como também em nossa
conduta em relação àqueles ao nosso redor.
Quais
seriam as nossas orações – se sempre “Orarmos no
Espírito Santo?” Como seriam nossos
estudos na Santa Palavra de Deus, com o Espírito Santo sempre nos ensinando?
Como seria Ouvir a Pregação com o Espírito Santo sempre guiando e ajudando aos que
pregam, abrindo e preparando os corações dos que ouvem? Como seria o Serviço na
Casa de Deus se sempre adorássemos “em Espírito
e Verdade?” Como seria nossa Comunhão
com Deus sem nenhuma inquietação, distração ou interferência? Andando “em novidade de vida”; servindo “em novidade
de vida”; enriquecido com “as insondáveis riquezas de Cristo”; “cheio de toda plenitude
de Deus”; nossa “Capacitação Espiritual” certamente será perfeita e completa; e nós seremos de fato trabalhadores
para Deus, eficientes e bem sucedidos se estivermos sempre “cheios do Espírito Santo”, sempre animados por Ele, tendo Sua presença em nosso interior; sempre
impulsionados por Ele, usando Seu poder no trabalho. Você acha que este é um ideal muito alto? Certamente
é; e deve ser. Se nos propormos a ideais baixos, nosso objetivo será baixo,
nossas realizações e conquistas serão ainda menores.
Se nós elevarmos os nossos ideais, se nossa vontade for sincera, nosso objetivo será elevado, e Deus irá abençoar nossos esforços honestos para servir a Ele, nos dando sucesso naquilo que Ele considera correto, nos capacitando a agradar a Ele tanto em vontade como em Ações, aprovando favoravelmente o que fazemos para Ele, por amor ao nosso querido Salvador. Mas a escolha de um ideal não convém a nós. Deus mesmo coloca um diante de nós; e é assim que Ele nos apresenta: “Seja cheio do Espírito”. “Irmãos, vedes, pois, a vossa vocação”. Deus auxilia todos nós a “esforçar-se a cumprir diligentemente nosso chamado e eleição”, e sempre “andar de modo digno da vocação a qual somos chamados”! “Espírito de pureza e graça, Nossa fraqueza, com piedade, veja; Faze do nosso coração o lugar da tua morada; E pleno de Ti!”
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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