quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 

A Doutrina do Inferno: um tema impopular nos dias de hoje. Por Thomas Boston. (1676-1732). Parte IV

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

III. Os condenados terão a companhia do diabo em seu estado miserável no inferno:

Pois, eles deverão ser apartados para ´o fogo preparado para o diabo e seus anjos´. Oh, companhia terrível! Oh, aterrorizante associação! Quem se atreveria a habitar em um palácio assombrado por demônios? Ser confinado no lugar mais agradável na terra, com o diabo e suas fúrias infernais, seria o confinamento mais terrível. Como o coração dos homens os enganariam e seus cabelos em pé, encontrando-se ambientados com a companhia infernal! Mas, ah! Quanto mais terrível deve ser, ser lançado com os demônios no fogo, preso com eles em um calabouço, aprisionados com eles em uma cova! Ser trancado em um covil de leões rugindo, envolto a serpentes, circundado de víboras venenosas, e ter o coração comido por víboras, tudo de uma só vez, é uma comparação muito pequena para mostrar a miséria dos condenados, presos no inferno com o diabo e seus anjos! Eles andam ao derredor como leões rugindo, procurando a quem possam devorar. Todavia, eles deverão ser confinados em suas covas com suas presas. Eles deverão ser enchidos da ira de Deus, e receber o seu completo tormento (Mateus 8:29), dos quais eles tremem na expectativa (Tiago 2:19), sendo atirados no fogo preparado para eles.

 

Quanto esses leões irão rugir e rasgar! Quanto essas serpentes irão chiar! Esses dragões lançam fogo! Que angústia terrível irá perseguir os condenados, encontrando-os no lago de fogo com o diabo que os enganou! Atraídos para lá com os cordões da tentação por esses espíritos caídos! E amarrados a eles nas correntes eternas sob a escuridão! ´O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados   de dia e de noite, pelos séculos dos séculos ´ (Apocalipse 20:10). Oh! Que os homens considerem nesse tempo, renunciem o diabo e suas concupiscências, e unam-se ao Senhor em fé e santidade! Por que deveriam os homens escolher tal companhia nesse mundo, e desfrutar em tal sociedade, se eles não desejariam se associar a ela no mundo vindouro? Aqueles que não gostam da companhia dos santos na terra não terão essa companhia na eternidade; mas como a falta da companhia de Deus é seu prazer agora, eles, então, terão em abundância essa falta, quando eles tiverem a eternidade para passar em meio aos grunhidos e blasfêmias da sociedade dos demônios e predestinados a condenação no inferno! Deixe com que aqueles que costumam invocar o diabo ficar com eles, sobriamente considerar que a companhia tão frequentemente convidada será terrível em fim, quando chegar.

 

IV. A eternidade de tudo: E, por último, vamos considerar a eternidade de tudo, a continuação eterna do miserável estado dos condenados no inferno.

 

a. Se eu pudesse, eu mostraria o que é a eternidade, quero dizer, a eternidade da criatura. No entanto, quem é que pode medir as águas do oceano? Ou quem pode lhe dizer os dias, anos, e eras da eternidade, que são infinitamente mais do que as gotas que há no oceano? Ninguém pode compreender a eternidade além do Deus eterno. Eternidade é um oceano do qual nunca veremos a costa; é uma profundidade da qual não conseguimos encontrar o fundo; um labirinto de onde não conseguimos achar a saída, e do qual nós sempre erraremos a porta. Há duas coisas que devemos dizer sobre isso:

 

1. Tem um início. A eternidade de Deus não tem início, mas a da criatura tem. Houve um tempo que não havia lago de fogo; e aqueles que lá estiveram por algumas centenas de anos, estiverem uma vez em um tempo, assim como estamos agora.

 

2. Não deverá ter fim. O primeiro que adentrar a eternidade da aflição estará tão longe do fim dela quanto o último que entrar estará na sua entrada. Aqueles que foram lançados o mais longe dentro do oceano, estão tão longe da terra seca quanto o primeiro momento que entraram no oceano, milhares de eras depois eles ainda estarão tão longe quanto nunca. Portanto, a eternidade, que está diante de nós, tem uma duração que tem um início, mas não tem um fim.

 

É um início sem um meio, um início sem um fim. Depois de milhões de anos passados nela, ainda é o início! A ira de Deus no inferno será sempre a ira que está por vir! Não há meio na eternidade! Quando milhares de eras se passarem na eternidade, o que passou não gera proporção alguma pelo que ainda está por vir — não, nem ao menos uma gota de água, caindo da ponta do dedo de alguém, comparado com todas as águas do oceano. Não há fim para a eternidade —enquanto Deus é, a eternidade será.

 

É uma entrada sem uma saída, uma sucessão continua de eras, um espelho sempre passando, do qual nunca findará. Observe a continua sucessão das horas, dias, meses e anos, como um segue o outro; e pense na eternidade, onde há contínua sucessão sem fim. Quando você sai à noite e vislumbra as estrelas do céu, elas não podem ser contadas dada sua multidão, pense nas eras da eternidade; considere também, há um certo número definido de estrelas, mas não há número de eras na eternidade. Quando você vê a água correndo em um rio, pense quão vão seria sentar sobre o rio e esperar que seque; observe como novas águas ainda sucedem em passar por você — e então você tem uma imagem da eternidade, que é um rio que nunca seca.

 

Aqueles que usam anéis tem uma imagem da eternidade em seus dedos; e aqueles que lidam com rodas tem um emblema da eternidade diante de si — pois seja qual for a parte para que olhamos de um anel ou roda, ainda vemos uma parte que sucede; e em qualquer momento da eternidade da qual você meditar, sempre haverá outra parte que sucede. Quando você está no campo e vislumbra as folhas de grama na terra, da qual nenhum homem pode contar, pense consigo mesmo, que, se houvesse milhares de anos por vir, quanto folhas de grama no chão, ao menos teria um fim em vista; mas a eternidade não terá esse fim em vista.

 

Quando vocês olham para uma montanha, imagine em seus corações quanto tempo levaria para que um pequeno pássaro a removesse, vindo ele a cada mil anos, e carregando um grão de terra, somente — a montanha pelo menos um dia seria removida, e levada a um fim; mas a eternidade nunca acabará. Suponha isso a respeito de todas as montanhas da terra, não, a respeito de todo o globo em si — os grãos de terra dos quais todas são feitas não são infinitos; e, portanto, o último grão, seria, em algum momento, levado embora, como vimos acima — a eternidade, porém, estaria, em efeito, no início. Estes são alguns rudes emblemas da eternidade! E agora adicione miséria e angústia a essa eternidade, que língua pode expressar isso? Que coração pode conceber isso? Como podem ser medidas tamanha miséria e angustia?

 

b. Vamos ver o que é eterno no estado dos condenados no inferno:

 

Seja lá o que estiver incluído nas temerosas tormentas de seu estado, será eterno — portanto, todos os tristes ingredientes de seu estado miserável serão eternos — eles nunca irão acabar. O texto expressamente declara o fogo, para o qual eles deverão ser apartados, sendo fogo eterno. E nosso Senhor em outro lado nos diz, que no inferno, o fogo nunca deverá se extinguir (Marcos 9:43). Ele tinha um olho no vale de Hinom, no qual, além do já mencionado fogo para queimar as crianças à Moloque, havia também um outro fogo que ardia continuamente, para consumir as carcaças e sujeiras de Jerusalém, então, a Escritura, representando o fogo do inferno pelo fogo daquele vale, fala, não somente, que era o fogo mais intenso, mas também que era eterno. Vendo, assim, que os condenados deverão ser apartados, como amaldiçoados, no fogo eterno, é evidente que:

 

(1) Os próprios condenados deverão ser eternos, eles serão um ser para sempre, e nunca serão substancialmente destruídos ou aniquilados. Para que fim o fogo seria eterno, se aqueles que fossem jogados nele, não ficassem eternamente nele? Está claro que, a eterna continuidade do fogo é um agravo à miséria dos condenados. Mas, certamente, se eles fossem aniquilados, ou substancialmente destruídos, seria o mesmo para eles, sendo o fogo eterno ou não. Não, mas eles são apartados para o fogo eterno, para serem eternamente punidos, ´E irão estes para o tormento eterno´ (Mateus 25:46).

 

Portanto, a execução da sentença é a certa descoberta de seu significado. O bicho que nunca morre, precisa ter uma matéria para viverem — eles, que não deverão ter descanso, dia e noite (Apocalipse 14:11), mas deverão ser ´atormentados dia e noite para os séculos dos séculos´ (Apocalipse 20:10). Eles certamente deverão ter um corpo para todo o sempre, e não serem trazidos a um estado de descanso em aniquilação. Serão Destruídos de fato, a destruição deles será uma destruição eterna (2 Tessalonicenses 1:9); uma destruição de seu bem-estar, mas não de seu ser. O que é destruído, não é, portanto, aniquilado, ´Vieste a destruir-nos? ´, disse o diabo para Jesus Cristo (Lucas 4:34). Os demônios têm medo do tormento, não de aniquilação, ´Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo? ´ (Mateus 8:29).

 

O estado dos condenados é, de fato, um estado de morte; mas, tal morte é oposta somente a uma vida feliz, como fica evidente em outras noções do estado deles, que necessariamente inclui existência eterna. Como eles estão mortos em pecado estão mortos para Deus e para a santidade, porém, ainda vivos para o pecado — então morrendo no inferno eles vivem, mas separados de Deus e Seu favor, no qual há vida (Salmo 30:5). Eles devem sempre estar sob as dores do pecado; sempre morrendo, mas nunca mortos, ou absolutamente vazios de vida. Quão desejável seria tal morte para eles! Não obstante, ela irá fugir deles para sempre. Poderiam eles matarem um ao outro lá, ou poderiam eles, com suas próprias mãos, picar a si mesmos em pedaços sem vida, se assim fosse a miséria deles estaria rapidamente próxima de um fim. Contudo, eles devem viver, aqueles que escolheram a morte e recusaram a vida; pois, lá vive a morte, e o fim sempre começa.

 

(2) A maldição deverá estar sob eles eternamente, como a corrente eterna deverá os manter amarrados ao fogo eterno — uma corrente que nunca será afrouxada, sendo fixa para sempre sobre eles pela terrível sentença do julgamento eterno. Essa corrente, que despreza a força unida dos demônios amarrados firmemente por ela, é muito forte para ser quebrada por homens, que sendo solenemente amaldiçoados e devotados a destruição, nunca poderá ser recuperada para qualquer outro uso.

 

(3) Sua punição deverá ser eterna. ´Estes deverão ser apartados para a punição eterna´. Eles serão para sempre separados de Deus e Cristo, e da sociedade dos santos anjos e dos santos, entre eles um intransponível abismo será fixado — ´E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. ´ Eles deverão, para sempre, ter a horrível companhia do diabo e dos seus anjos.

 

Não haverá mudança de companhia, para sempre, naquela região de escuridão. O tormento deles no fogo será eterno — eles deverão viver para sempre nele. Vários autores, ambos antigos e modernos, nos falam sobre amianto, ou cabelos de salamandra, aquele tecido feito disso, sendo atirado no fogo, é resistente a ser queimado ou consumido, na realidade são limpos dessa forma, assim como outras coisas são limpas sendo lavadas.  Seja lá o que for isso, é certo que os condenados deverão ser atormentados para todo o sempre no fogo do inferno e não serão substancialmente destruídos (Apocalipse 20:10). E de fato nada é aniquilado pelo fogo, mas somente dissolvido. Seja lá de que natureza o fogo do inferno seja, sem dúvida, o mesmo Deus que preservou o corpo de três crianças de queimar na fornalha ardente de Nabucodonosor, pode também preservar os corpos dos condenados de qualquer dissolução pelo fogo do inferno tendo em conta que pode inferir a privação da vida.

 

(4) O conhecimento e ´senso´ da miséria deles deverá ser eterno, e eles deverão, com certeza, saber que será eterno. Quão desejável para eles seria ter o seu ´senso´ bloqueado para sempre, e perderem a consciência de sua própria miséria — como racionalmente é de se supor, na punição da morte infligida neles na terra, e como é com algumas pessoas insanas; mas isso não concorda com a noção do tormento para todo o sempre, nem com o bicho que nunca morre. Não, eles terão, para sempre, um vivido sentimento sobre sua miséria e fortíssimas impressões da ira de Deus contra eles. E aquela terrível intimação da eternidade de sua punição, feita para eles pelo seu Juiz, em sua sentença, fixará tais impressões da ´eternidade do seu estado miserável´ em suas mentes e eles nunca serão capazes de as deixar de lado; irão continuar com eles para todo o sempre, para completar sua miséria. Isto os irá preencher de desespero eterno; a mais atormentadora paixão, que irá continuamente rasgar seus corações, como em milhares de pedações. Haverá enchentes de ira sempre a vir e nunca findar; estar para sempre em uma tormenta e saber que nunca, nunca haverá libertação, será a pedra posta ao topo da miséria dos condenados! Se ´A esperança que se adia faz adoecer o coração´ (Provérbios 13:12), quão doloroso será ver a esperança apodrecer, morta por completo, e enterrada para sempre para longe das vistas da criatura! Isso os deixara com ódio e raiva contra Deus, o seu conhecido e irreconciliável inimigo; e sob isso, eles irão rugir para sempre, como touros selvagens presos em uma rede e preencherão a cova com blasfêmias para sempre.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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