A Doutrina do Inferno: um tema impopular nos dias de hoje. Por Thomas Boston. (1676-1732). Parte IV
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
III. Os condenados terão a companhia do diabo em seu estado miserável no inferno:
Pois,
eles deverão ser apartados para ´o fogo preparado para o diabo e seus anjos´.
Oh, companhia terrível! Oh, aterrorizante associação! Quem se atreveria a
habitar em um palácio assombrado por demônios? Ser confinado no lugar mais
agradável na terra, com o diabo e suas fúrias infernais, seria o confinamento
mais terrível. Como o coração dos homens os enganariam e seus cabelos em pé,
encontrando-se ambientados com a companhia infernal! Mas, ah! Quanto mais
terrível deve ser, ser lançado com os demônios no fogo, preso com eles em um
calabouço, aprisionados com eles em uma cova! Ser trancado em um covil de leões
rugindo, envolto a serpentes, circundado de víboras venenosas, e ter o coração
comido por víboras, tudo de uma só vez, é uma comparação muito pequena para mostrar
a miséria dos condenados, presos no inferno com o diabo e seus anjos! Eles
andam ao derredor como leões rugindo, procurando a quem possam devorar.
Todavia, eles deverão ser confinados em suas covas com suas presas. Eles
deverão ser enchidos da ira de Deus, e receber o seu completo tormento (Mateus
8:29), dos quais eles tremem na expectativa (Tiago 2:19), sendo atirados no
fogo preparado para eles.
Quanto
esses leões irão rugir e rasgar! Quanto essas serpentes irão chiar! Esses
dragões lançam fogo! Que angústia terrível irá perseguir os condenados, encontrando-os
no lago de fogo com o diabo que os enganou! Atraídos para lá com os cordões da
tentação por esses espíritos caídos! E amarrados a eles nas correntes eternas
sob a escuridão! ´O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de
fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso
profeta; e serão atormentados de dia e
de noite, pelos séculos dos séculos ´ (Apocalipse 20:10). Oh! Que os homens
considerem nesse tempo, renunciem o diabo e suas concupiscências, e unam-se ao
Senhor em fé e santidade! Por que deveriam os homens escolher tal companhia
nesse mundo, e desfrutar em tal sociedade, se eles não desejariam se associar a
ela no mundo vindouro? Aqueles que não gostam da companhia dos santos na terra
não terão essa companhia na eternidade; mas como a falta da companhia de Deus é
seu prazer agora, eles, então, terão em abundância essa falta, quando eles
tiverem a eternidade para passar em meio aos grunhidos e blasfêmias da
sociedade dos demônios e predestinados a condenação no inferno! Deixe com que
aqueles que costumam invocar o diabo ficar com eles, sobriamente considerar que
a companhia tão frequentemente convidada será terrível em fim, quando chegar.
IV.
A eternidade de tudo: E, por último, vamos considerar a eternidade de
tudo, a continuação eterna do miserável estado dos condenados no inferno.
a.
Se eu pudesse, eu mostraria o que é a eternidade,
quero dizer, a eternidade da criatura. No entanto, quem é que pode medir as
águas do oceano? Ou quem pode lhe dizer os dias, anos, e eras da eternidade,
que são infinitamente mais do que as gotas que há no oceano? Ninguém pode
compreender a eternidade além do Deus eterno. Eternidade é um oceano do qual
nunca veremos a costa; é uma profundidade da qual não conseguimos encontrar o
fundo; um labirinto de onde não conseguimos achar a saída, e do qual nós sempre
erraremos a porta. Há duas coisas que devemos dizer sobre isso:
1.
Tem um início. A eternidade de Deus não tem início, mas a da
criatura tem. Houve um tempo que não havia lago de fogo; e aqueles que lá
estiveram por algumas centenas de anos, estiverem uma vez em um tempo, assim
como estamos agora.
2.
Não deverá ter fim. O primeiro que adentrar a eternidade da aflição estará tão
longe do fim dela quanto o último que entrar estará na sua entrada. Aqueles que
foram lançados o mais longe dentro do oceano, estão tão longe da terra seca
quanto o primeiro momento que entraram no oceano, milhares de eras depois eles
ainda estarão tão longe quanto nunca. Portanto, a eternidade, que está diante
de nós, tem uma duração que tem um início, mas não tem um fim.
É
um início sem um meio, um início sem um fim. Depois de milhões de anos passados
nela, ainda é o início! A ira de Deus no inferno será sempre a ira que está por
vir! Não há meio na eternidade! Quando milhares de eras se passarem na
eternidade, o que passou não gera proporção alguma pelo que ainda está por vir —
não, nem ao menos uma gota de água, caindo da ponta do dedo de alguém, comparado
com todas as águas do oceano. Não há fim para a eternidade —enquanto Deus é, a
eternidade será.
É
uma entrada sem uma saída, uma sucessão continua de eras, um espelho sempre
passando, do qual nunca findará. Observe a continua sucessão das horas, dias,
meses e anos, como um segue o outro; e pense na eternidade, onde há contínua
sucessão sem fim. Quando você sai à noite e vislumbra as estrelas do céu, elas
não podem ser contadas dada sua multidão, pense nas eras da eternidade;
considere também, há um certo número definido de estrelas, mas não há número de
eras na eternidade. Quando você vê a água correndo em um rio, pense quão vão
seria sentar sobre o rio e esperar que seque; observe como novas águas ainda sucedem
em passar por você — e então você tem uma imagem da eternidade, que é um rio
que nunca seca.
Aqueles
que usam anéis tem uma imagem da eternidade em seus dedos; e aqueles que lidam
com rodas tem um emblema da eternidade diante de si — pois seja qual for a
parte para que olhamos de um anel ou roda, ainda vemos uma parte que sucede; e
em qualquer momento da eternidade da qual você meditar, sempre haverá outra
parte que sucede. Quando você está no campo e vislumbra as folhas de grama na
terra, da qual nenhum homem pode contar, pense consigo mesmo, que, se houvesse
milhares de anos por vir, quanto folhas de grama no chão, ao menos teria um fim
em vista; mas a eternidade não terá esse fim em vista.
Quando
vocês olham para uma montanha, imagine em seus corações quanto tempo levaria
para que um pequeno pássaro a removesse, vindo ele a cada mil anos, e
carregando um grão de terra, somente — a montanha pelo menos um dia seria
removida, e levada a um fim; mas a eternidade nunca acabará. Suponha isso a
respeito de todas as montanhas da terra, não, a respeito de todo o globo em si —
os grãos de terra dos quais todas são feitas não são infinitos; e, portanto, o
último grão, seria, em algum momento, levado embora, como vimos acima — a
eternidade, porém, estaria, em efeito, no início. Estes são alguns rudes emblemas
da eternidade! E agora adicione miséria e angústia a essa eternidade, que
língua pode expressar isso? Que coração pode conceber isso? Como podem ser
medidas tamanha miséria e angustia?
b.
Vamos ver o que é eterno no estado dos condenados no inferno:
Seja
lá o que estiver incluído nas temerosas tormentas de seu estado, será eterno — portanto,
todos os tristes ingredientes de seu estado miserável serão eternos — eles
nunca irão acabar. O texto expressamente declara o fogo, para o qual eles
deverão ser apartados, sendo fogo eterno. E nosso Senhor em outro lado nos diz,
que no inferno, o fogo nunca deverá se extinguir (Marcos 9:43). Ele tinha um
olho no vale de Hinom, no qual, além do já mencionado fogo para queimar as
crianças à Moloque, havia também um outro fogo que ardia continuamente, para
consumir as carcaças e sujeiras de Jerusalém, então, a Escritura, representando
o fogo do inferno pelo fogo daquele vale, fala, não somente, que era o fogo
mais intenso, mas também que era eterno. Vendo, assim, que os condenados
deverão ser apartados, como amaldiçoados, no fogo eterno, é evidente que:
(1)
Os próprios condenados deverão ser eternos, eles serão um ser para sempre, e
nunca serão substancialmente destruídos ou aniquilados. Para que fim o fogo
seria eterno, se aqueles que fossem jogados nele, não ficassem eternamente
nele? Está claro que, a eterna continuidade do fogo é um agravo à miséria dos condenados.
Mas, certamente, se eles fossem aniquilados, ou substancialmente destruídos,
seria o mesmo para eles, sendo o fogo eterno ou não. Não, mas eles são
apartados para o fogo eterno, para serem eternamente punidos, ´E irão estes
para o tormento eterno´ (Mateus 25:46).
Portanto,
a execução da sentença é a certa descoberta de seu significado. O bicho que
nunca morre, precisa ter uma matéria para viverem — eles, que não deverão ter
descanso, dia e noite (Apocalipse 14:11), mas deverão ser ´atormentados dia e
noite para os séculos dos séculos´ (Apocalipse 20:10). Eles certamente deverão
ter um corpo para todo o sempre, e não serem
trazidos a um estado de descanso em aniquilação. Serão Destruídos de fato, a
destruição deles será uma destruição eterna (2 Tessalonicenses 1:9); uma
destruição de seu bem-estar, mas não de seu ser. O que é destruído, não é,
portanto, aniquilado, ´Vieste a destruir-nos? ´, disse o diabo para Jesus Cristo
(Lucas 4:34). Os demônios têm medo do tormento, não de aniquilação, ´Vieste
aqui atormentar-nos antes do tempo? ´ (Mateus 8:29).
O
estado dos condenados é, de fato, um estado de morte; mas, tal morte é oposta
somente a uma vida feliz, como fica evidente em outras noções do estado deles,
que necessariamente inclui existência eterna. Como eles estão mortos em pecado
estão mortos para Deus e para a santidade, porém, ainda vivos para o pecado — então
morrendo no inferno eles vivem, mas separados de Deus e Seu favor, no qual há
vida (Salmo 30:5). Eles devem sempre estar sob as dores do pecado; sempre morrendo,
mas nunca mortos, ou absolutamente vazios de vida. Quão desejável seria tal
morte para eles! Não obstante, ela irá fugir deles para sempre. Poderiam eles
matarem um ao outro lá, ou poderiam eles, com suas próprias mãos, picar a si
mesmos em pedaços sem vida, se assim fosse a miséria deles estaria rapidamente
próxima de um fim. Contudo, eles devem viver, aqueles que escolheram a morte e
recusaram a vida; pois, lá vive a morte, e o fim sempre começa.
(2)
A maldição deverá estar sob eles eternamente, como a corrente eterna deverá os
manter amarrados ao fogo eterno — uma corrente que nunca será afrouxada, sendo
fixa para sempre sobre eles pela terrível sentença do julgamento eterno. Essa corrente,
que despreza a força unida dos demônios amarrados firmemente por ela, é muito
forte para ser quebrada por homens, que sendo solenemente amaldiçoados e
devotados a destruição, nunca poderá ser recuperada para qualquer outro uso.
(3)
Sua punição deverá ser eterna. ´Estes deverão ser apartados para a punição
eterna´. Eles serão para sempre separados de Deus e Cristo, e da sociedade dos
santos anjos e dos santos, entre eles um intransponível abismo será fixado — ´E,
além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que
quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para
cá. ´ Eles deverão, para sempre, ter a horrível companhia do diabo e dos seus
anjos.
Não
haverá mudança de companhia, para sempre, naquela região de escuridão. O
tormento deles no fogo será eterno — eles deverão viver para sempre nele. Vários
autores, ambos antigos e modernos, nos falam sobre amianto, ou cabelos de salamandra,
aquele tecido feito disso, sendo atirado no fogo, é resistente a ser queimado
ou consumido, na realidade são limpos dessa forma, assim como outras coisas são
limpas sendo lavadas. Seja lá o que for
isso, é certo que os condenados deverão ser atormentados para todo o sempre no
fogo do inferno e não serão substancialmente destruídos (Apocalipse 20:10). E
de fato nada é aniquilado pelo fogo, mas somente dissolvido. Seja lá de que
natureza o fogo do inferno seja, sem dúvida, o mesmo Deus que preservou o corpo
de três crianças de queimar na fornalha ardente de Nabucodonosor, pode também
preservar os corpos dos condenados de qualquer dissolução pelo fogo do inferno
tendo em conta que pode inferir a privação da vida.
(4) O conhecimento e ´senso´ da miséria deles deverá ser eterno, e eles deverão, com certeza, saber que será eterno. Quão desejável para eles seria ter o seu ´senso´ bloqueado para sempre, e perderem a consciência de sua própria miséria — como racionalmente é de se supor, na punição da morte infligida neles na terra, e como é com algumas pessoas insanas; mas isso não concorda com a noção do tormento para todo o sempre, nem com o bicho que nunca morre. Não, eles terão, para sempre, um vivido sentimento sobre sua miséria e fortíssimas impressões da ira de Deus contra eles. E aquela terrível intimação da eternidade de sua punição, feita para eles pelo seu Juiz, em sua sentença, fixará tais impressões da ´eternidade do seu estado miserável´ em suas mentes e eles nunca serão capazes de as deixar de lado; irão continuar com eles para todo o sempre, para completar sua miséria. Isto os irá preencher de desespero eterno; a mais atormentadora paixão, que irá continuamente rasgar seus corações, como em milhares de pedações. Haverá enchentes de ira sempre a vir e nunca findar; estar para sempre em uma tormenta e saber que nunca, nunca haverá libertação, será a pedra posta ao topo da miséria dos condenados! Se ´A esperança que se adia faz adoecer o coração´ (Provérbios 13:12), quão doloroso será ver a esperança apodrecer, morta por completo, e enterrada para sempre para longe das vistas da criatura! Isso os deixara com ódio e raiva contra Deus, o seu conhecido e irreconciliável inimigo; e sob isso, eles irão rugir para sempre, como touros selvagens presos em uma rede e preencherão a cova com blasfêmias para sempre.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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