A Criação do Mundo / Herman Bavinck.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
I. As criaturas, porque são
criaturas, estão sujeitas ao tempo e ao espaço, embora nem todas o estejam da
mesma forma. O tempo torna possível que uma coisa continue existindo em uma
sucessão de momentos, para que uma coisa suceda outra. O espaço torna possível que
algo se dissemine para todos os lados, que uma coisa exista ao lado da outra. O
tempo e o espaço, portanto, começaram a existir ao mesmo tempo que as
criaturas, como modos indissociáveis da existência. Eles não existiam de
antemão como moldes vazios a serem preenchidos pelas criaturas, pois, quando
não há nada também não há tempo nem espaço. Eles não foram feitos de forma independente,
como um acompanhamento, por assim dizer, a parte das criaturas e posteriormente
anexados. Em vez disso, eles foram criados em e com as criaturas como os meios
em que essas criaturas devem necessariamente existir como criaturas limitadas,
finitas.
Agostinho
estava certo quando disse que Deus não criou o mundo no tempo, como se ele
fosse criado em um molde ou condição previamente existente, mas que Ele o fez
junto com o tempo e o tempo junto com o mundo.[1]
II.
Embora não possamos falar sobre este ponto com absoluta certeza, podemos
considerar provável que o céu dos céus, a morada de Deus, tenha sido trazido à
existência pelo primeiro ato criativo de Deus relatado em (Gênesis 1: 1) e que,
então, os anjos também passaram a existir. Pois, em (Jó 38: 4-7) o Senhor, a
partir de um turbilhão, responde a Jó que ninguém estava presente quando lançou
os fundamentos e estabeleceu os alicerces da terra, mas que completou esse
trabalho acompanhado pelo canto das estrelas da manhã e os brados de alegria dos
filhos de Deus. Estes filhos de Deus são os anjos. Os anjos, portanto, estavam
presentes na conclusão da terra e na criação do homem. No mais, pouquíssimo nos
é dito sobre a criação do céu dos céus e seus anjos. Depois de mencioná-lo
brevemente no primeiro versículo, o relato de Gênesis prossegue no segundo versículo
com o relato amplo sobre a finalização da terra. Tal finalização ou organização
era necessária, pois, embora a terra já estivesse pronta, existiu por um tempo
num estado vazio e desabitado, estando coberta de trevas. Não lemos que a terra
se tornou desabitada, isto é, sem forma. Alguns defenderam isso e, ao assumirem
essa posição, pensaram num julgamento pela queda dos anjos que recaiu sobre a
terra já aperfeiçoada. Mas (Gênesis 1: 2) relata meramente que a Terra estava
sem forma, isto é, que existia em um estado amórfico ou disforme,
indiferenciada na luz e nas trevas, nos vários corpos de água, terra seca e
mar.
Foram
apenas as obras de Deus, descritas em (Gênesis 1:3-10), que acabaram com a falta
de forma da terra. Só assim é relatado que a terra original era um vazio. Faltava
o adorno das plantas e das árvores, e ainda não era habitada por nenhum ser
vivo. As obras de Deus, resumidas em (Gênesis 1:11ss.), puseram fim a esse vazio
da terra, pois, Deus não criou a terra para que fosse um vazio, mas para que os
homens vivessem nela (Isaías 45:18). Claramente, portanto, as obras de Deus na
organização e finalização dessa terra sem forma e vazia são divididas em dois
grupos. O primeiro grupo de obras ou atos é introduzido pela criação da luz.
Traz diferenciação e distinção à existência, forma e aspecto, tom e cor. O
segundo grupo começa com a formação dos portadores de luz, sol, lua e estrelas,
e favorece para, posteriormente, povoar a terra com habitantes - pássaros e
peixes, animais e homens. [2]
III.
Toda a obra da criação — de acordo com o reiterado testemunho das Escrituras
[3] — foi concluído em seis dias. Houve, no entanto, uma grande quantidade de
diferentes opiniões e de franca especulação sobre esses seis dias. Ninguém
menos que Agostinho julgou que Deus havia feito tudo perfeito e completo de uma
só vez, e que os seis dias não foram seis períodos
sucessivos de tempo, mas apenas diferentes perspectivas pelas quais a classificação
e a ordenação das criaturas poderiam ser observadas. Por outro lado, há muitos
que defendem que os dias da criação devem ser considerados períodos de tempo
muito mais longos que as unidades de vinte e quatro horas. As escrituras falam
muito precisamente de dias que são contados pela medição da noite e da manhã e
que se encontram na base da distribuição dos dias da semana em Israel e seu calendário
festivo. Não obstante, as próprias Escrituras contêm dados que nos obrigam a
pensar nos dias de Gênesis como distintos de nossas unidades conhecidas,
determinadas pelas rotações da Terra. Em primeiro lugar, não podemos assegurar
se o que nos é dito em (Gênesis 1:1-2) precede o primeiro dia ou está incluído
nesse dia. A favor da primeira proposição está o fato de que, de acordo com o
versículo 5, o primeiro dia começa com a criação da luz e, após a tarde e à
noite, termina na manhã seguinte.
Mas,
mesmo que se reconheça os eventos de (Gênesis 1:1-2) como o primeiro dia, o que
se obtém dessa hipótese é um dia muito incomum que, por um tempo, consistiu em
trevas. E a duração dessas trevas que precederam a criação da luz não é
indicada em nenhum lugar. Em segundo lugar, os três primeiros dias (Gn 1:3-13)
devem ter sido muito diferentes dos nossos. Nossas vinte e quatro horas do dia
são executadas pela rotação da terra em seu eixo e, respectivamente,
acompanhada pela distinta relação das rotações com o sol. Mas, esses três
primeiros dias não poderiam ter sido constituídos dessa maneira. É verdade que a
diferenciação entre eles foi marcada pelo surgimento e desaparecimento da luz.
Mas, o próprio livro de Gênesis nos diz que o sol, a lua e as estrelas não foram
formadas até o quarto dia. Em terceiro lugar, é indubitavelmente possível que a
segunda série de três dias tenha sido constituída da maneira usual. Mas se
levarmos em conta que a queda dos anjos e dos homens, e também o dilúvio, que
se seguiram mais tarde, causou todo tipo de alterações no cosmos, e se, além
disso, notarmos que em todos os âmbitos
o período de transformação difere notavelmente do desenvolvimento normal, não
parece improvável que, em muitos aspectos, a segunda série de três dias também
diferisse dos nossos dias.
Por
fim, merece consideração que tudo o que, de acordo com (Gênesis 1 e 2),
ocorrera no sexto dia, dificilmente possa ser aglomerado no ínfimo da duração
de um dia como hoje o conhecemos. Pois, naquele dia, de acordo com as
Escrituras, ocorreu a criação dos animais (Gênesis 1:24-25), a criação de Adão
(Gênesis 1:26 e 2:7), o plantio do jardim (Gênesis 2: 8-14), o anúncio do mandamento
probatório (Gênesis 2: 16-17), o comando de Adão sobre os animais a e suas
designações (Gênesis 2: 18-20), e o sono de Adão e a criação de Eva (Gênesis 2:
21-23). [4]
Notas: [1] Nossa Fé Razoável, p. 170. [2] op. cit., p. 171. [3] Gêneses 1:2; Êxodo 20:11 e 31:17.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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