sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 

A Inglaterra Livre da Superstição e das Fraudes Romanas - Bispo J. C. Ryle / Parte II 

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

A Reforma libertou a Inglaterra das práticas mais humilhantes, infantis e supersticiosas da religião. Me refiro especialmente ao culto prestado às relíquias. Desprovidos do mais leve conhecimento escriturístico, nossos antepassados foram ensinados pelos sacerdotes a buscarem o benefício espiritual das chamadas relíquias dos santos mortos, e a tratá-las com honrarias divinas. Os relatos que historiadores de confiança como Strype, Fuller e Burnet nos transmitiram sobre essas relíquias miseráveis até meados do reinado de Henrique VIII, são tão extraordinários que você deveria ouvir alguns deles.

Na Abadia de Reading, em Berkshire, a menos de um quilômetro da estação atual da Great Western Railway, as seguintes coisas, entre muitas outras, foram exibidas pelos monges em ocasiões grandiosas e foram religiosamente honradas pelo povo: um anjo com asas; a ponta da lança que perfurou o lado do nosso Salvador; dois pedaços da Santa Cruz; uma mão de Tiago, um manto de Felipe; um osso de Maria Madalena e um osso de Salomé. (Strype, i. 390). Em Bury St. Edmund's, em Suffolk, os padres exibiram as brasas da fogueira que queimou St. Laurence, as aparas das unhas dos pés de St. Edmund, o canivete e as botas de Thomas Becket, além de tantas peças da cruz de nosso Salvador que, se unidas, dariam para fazer uma cruz inteira! Eles também tinham relíquias cuja ajuda era invocada em épocas em que havia um crescimento excessivo de ervas daninhas ou uma tempestade! - Ref. De Bumet. Eu. 486. No Maiden Bradley Priory, em Somersetshire, os fiéis tiveram o privilégio de ver o avental da Virgem Maria, um pedaço da pedra sobre a qual nosso Senhor nasceu em Belém, e uma parte do pão usado por Cristo e os apóstolos na primeira Ceia do Senhor (Strype, i. 391). Em Bruton Priory, em Somerset, foi mantido um cinto da Virgem Maria, feito de seda vermelha. Esta relíquia solene era emprestada como um favor especial para as mulheres durante o parto, a fim de assegurar-lhes um parto seguro. O mesmo foi feito com uma cinta branca de Maria Madalena, mantida em Farley Abbey, em Wiltshire. Nenhuma delas, podemos garantir, jamais era emprestada sem algum pagamento (Strype, i. 391). Lamento dizer que, mesmo nos condados de Midland, a superstição era tão grave quanto no sul da Inglaterra.

 

Strype registra que no Convento de Santa Maria, em Derby, as freiras tinham um pedaço da camisa de St. Thomas, o qual era adorado por mulheres que esperavam ser aceitas no clausuro. Em Dale Abbey, perto de Derby, se adorava parte do cinturão da Virgem Maria, e também um pouco de seu leite! No Mosteiro de Repton, o sino de St. Guthlac foi celebrado com especial honra, e as pessoas colocam suas cabeças sob ele para curar enxaqueca! No convento Grace Dieu, em Leicestershire, eles adoravam o cinto e parte da camisa de São Francisco (Strype, 1. 396). Registros como esses são tão incrivelmente tolos quanto dolorosos, e dificilmente se sabe se devemos rir ou chorar a respeito. Mas é muito necessário recordá-los, a fim de que os homens possam saber qual era a religião de nossos antepassados nos dias em que Roma governou a terra antes da Reforma. Por mais surpreendentes que sejam tais relatos, não devemos jamais nos esquecer de que os ingleses daquela época não tinham Bíblias e não conheciam nada melhor. Sabe-se que um homem faminto em meio à guerra é capaz de comer ratos, camundongos e todo tipo de lixo, para não morrer de fome. A alma, faminta por falta da Palavra de Deus, não deve ser julgada com demasiada severidade por se esforçar em sua busca por consolo na superstição mais aviltante. Apenas não nos esqueçamos, jamais, que esta foi a SUPERSTIÇÃO que foi despedaçada pela Reforma. Lembre-se disso. Este é um fato libertador. A Reforma libertou a Inglaterra da tirania degradante e das imposturas fraudulentas do sacerdócio romano. Nos últimos dias da supremacia do papa nesta terra, os leigos estavam completamente “montados” pelo clero, e dificilmente poderiam dizer que eram donos de suas próprias almas.

 

O poder dos sacerdotes era praticamente despótico e usado para todos os fins, exceto para o avanço da verdadeira religião.  Como os sapos na praga do Egito, infiltravam-se por todos os lugares, tanto no palácio quanto no casebre; espreitavam você a cada momento da vida e se metiam em todos os negócios. No confessionário, interferiam entre maridos e esposas; entre pais e filhos; entre senhores e servos; entre senhores de terras e arrendatários; entre súditos e soberanos; entre as almas e Deus. Obedeça-os, e você poderá fazer qualquer coisa, e cometer qualquer pecado. Confronte-os, e você não terá paz nem segurança. Constantemente visavam o grande objetivo de enriquecer a Igreja e encher os cofres de sua própria ordem religiosa. Para atingir esse objetivo, empregaram muitas artimanhas. Às vezes, persuadiam pessoas caridosas a doarem dinheiro para tirar as almas de seus parentes do purgatório, sob o pretexto de lhes rezarem missas. Ou aconselhavam pessoas doentes a doarem enormes somas ao santuário de algum santo favorito, como Thomas à Becket, em Canterbury, e com isso se tornarem merecedoras dos céus. Às vezes, eles induziam pecadores agonizantes a doarem vastas extensões de terra para Abadias e Mosteiros, a fim de expiar suas vidas ruins. De um modo ou de outro, estavam continuamente tirando dinheiro dos leigos e acumulando propriedades em suas próprias mãos.

 

“De fato”, diz Burnet, “se algumas leis não os houvessem impedido, a maior parte de todas as propriedades da Inglaterra teria sido doada para as casas religiosas "- (Burnet’s Reformation, i. 378.) Também jamais se esqueceram, por um momento, de manter seu próprio poder. Para este propósito alegavam ter as chaves dos céus, literal e verdadeiramente. A confissão deveria ser feita a eles. Sem a sua absolvição e extrema unção, nenhum cristão professo poderia ser salvo. Sem suas missas, nenhuma alma poderia ser redimida do purgatório. Em suma, eram para todos os intentos e propósitos, os mediadores entre Cristo e o homem. Agradá-los e honrá-los era o maior dever; rejeitá-los, o maior dos pecados. Fuller, o historiador, conta-nos que em 1489, um certo padre italiano recebeu uma imensa quantia de dinheiro na Inglaterra por ter obtido do Papa poderes “para absolver as pessoas da usura, roubo, homicídio, fornicação e todo tipo de crime, exceto ferir o clero e conspirar contra o papa” (Fuller’s Church Hist., i. 532, Tegg's Edit.) Quanto às imposturas grosseiras e ridículas que os sacerdotes praticavam contra nossos ignorantes antepassados antes da Reforma, o catálogo preencheria um livro inteiro. Aqui, naturalmente, posso apenas citar alguns exemplos. Na abadia de Hales, em Gloucestershire, uma garrafa, em que se dizia estar o sangue de Cristo, era exposta em grandes ocasiões pelos sacerdotes aos que doavam esmolas. Este notável frasco foi examinado por comissários reais no tempo de Henrique VIII; na verdade, o sangue era de pato e os padres o renovavam semanalmente. Numa das igrejas da cidade de Worcester havia uma enorme imagem da Virgem Maria mantida em especial reverência. A fim de se investigar os fatos, os mesmos Comissários Reais a examinaram.

 

Quando a imagem foi despida dos véus que a cobriam, descobriu-se não um busto da Virgem e sim de algum antigo Bispo. Em Bexley, em Kent, era exibido um grande crucifixo, que recebia grandes honras e vultosas ofertas, isto devido a crença de que certo milagre acontecia àqueles que iam até lá: quando os fiéis ofereciam uma moeda de cobre, o rosto da figura na cruz parecia sério, mas, quando ofereciam prata, o rosto se tornava suave e, se ofereciam ouro, o rosto sorria abertamente. Na época de Henrique VIII esse famoso crucifixo também foi examinado, e foram encontrados fios dentro dele, pelos quais os sacerdotes assistentes podiam mover a face da imagem e fazê-la assumir qualquer expressão que desejassem. (Burnet’s Ref, i. 486.) Quem desejar investigar mais sobre esse vergonhoso assunto, encontrará vasta documentação em Calvin’s Inventory of Relics e em Pilgrimage to Rome, de Hobart Seymour. Descobrirá que, por toda a Europa, objetos eram mostrados como relíquias sagradas tão manifestamente falsas e fictícias que os sacerdotes que as mostraram só podem ser considerados trapaceiros e farsantes, o tipo que hoje seriam condenados a girar moinhos ou consertar navios. Peças de madeira, supostamente da verdadeira cruz, havia o suficiente para encher um navio, embora saibamos que ela era do tamanho que uma pessoa era capaz de carrega-la.

 

Espinhos supostamente da coroa do Salvador, eram suficientes para fazer um grande feixe; pelo menos quatorze pregos eram ditos como usados na crucificação, embora saibamos que quatro devem ter sido suficientes; quatro cabeças de lança, cada uma mostrada como aquela com a qual o soldado perfurou o lado de nosso Senhor, no entanto, obviamente tenha existido apenas uma; pelo menos três túnicas de Cristo, aquela sobre a qual os soldados lançaram a sorte, embora Ele estivesse usando apenas uma. E tudo isso são apenas alguns exemplos que selecionamos das profanas e vis invenções que os sacerdotes romanos impunham sobre as pessoas antes da Reforma. Deviam saber que estavam enganando, porém, insistiam em suas histórias e em obrigar os leigos a obedecê-los. Gostaria de lembrar a vocês que a libertação deste miserável sistema de TIRANIA E IMPOSIÇÃO SACERDOTAL DEVEMOS À REFORMA.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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