A Inglaterra Livre da Superstição e das Fraudes Romanas - Bispo J. C. Ryle / Parte II
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
A Reforma libertou a Inglaterra das práticas mais humilhantes, infantis e supersticiosas da religião. Me refiro especialmente ao culto prestado às relíquias. Desprovidos do mais leve conhecimento escriturístico, nossos antepassados foram ensinados pelos sacerdotes a buscarem o benefício espiritual das chamadas relíquias dos santos mortos, e a tratá-las com honrarias divinas. Os relatos que historiadores de confiança como Strype, Fuller e Burnet nos transmitiram sobre essas relíquias miseráveis até meados do reinado de Henrique VIII, são tão extraordinários que você deveria ouvir alguns deles.
Na
Abadia de Reading, em Berkshire, a menos de um quilômetro da estação atual da
Great Western Railway, as seguintes coisas, entre muitas outras, foram exibidas
pelos monges em ocasiões grandiosas e foram religiosamente honradas pelo povo:
um anjo com asas; a ponta da lança que perfurou o lado do nosso Salvador; dois
pedaços da Santa Cruz; uma mão de Tiago, um manto de Felipe; um osso de Maria
Madalena e um osso de Salomé. (Strype, i. 390). Em Bury St. Edmund's, em Suffolk,
os padres exibiram as brasas da fogueira que queimou St. Laurence, as aparas
das unhas dos pés de St. Edmund, o canivete e as botas de Thomas Becket, além
de tantas peças da cruz de nosso Salvador que, se unidas, dariam para fazer uma
cruz inteira! Eles também tinham relíquias cuja ajuda era invocada em épocas em
que havia um crescimento excessivo de ervas daninhas ou uma tempestade! - Ref.
De Bumet. Eu. 486. No Maiden Bradley Priory, em Somersetshire, os fiéis tiveram
o privilégio de ver o avental da Virgem Maria, um pedaço da pedra sobre a qual
nosso Senhor nasceu em Belém, e uma parte do pão usado por Cristo e os
apóstolos na primeira Ceia do Senhor (Strype, i. 391). Em Bruton Priory, em
Somerset, foi mantido um cinto da Virgem Maria, feito de seda vermelha. Esta
relíquia solene era emprestada como um favor especial para as mulheres durante
o parto, a fim de assegurar-lhes um parto seguro. O mesmo foi feito com uma
cinta branca de Maria Madalena, mantida em Farley Abbey, em Wiltshire. Nenhuma
delas, podemos garantir, jamais era emprestada sem algum pagamento (Strype, i.
391). Lamento dizer que, mesmo nos condados de Midland, a superstição era tão
grave quanto no sul da Inglaterra.
Strype
registra que no Convento de Santa Maria, em Derby, as freiras tinham um pedaço
da camisa de St. Thomas, o qual era adorado por mulheres que esperavam ser aceitas
no clausuro. Em Dale Abbey, perto de Derby, se adorava parte do cinturão da
Virgem Maria, e também um pouco de seu leite! No Mosteiro de Repton, o sino de
St. Guthlac foi celebrado com especial honra, e as pessoas colocam suas cabeças
sob ele para curar enxaqueca! No convento Grace Dieu, em Leicestershire, eles adoravam
o cinto e parte da camisa de São Francisco (Strype, 1. 396). Registros como
esses são tão incrivelmente tolos quanto dolorosos, e dificilmente se sabe se
devemos rir ou chorar a respeito. Mas é muito necessário recordá-los, a fim de que
os homens possam saber qual era a religião de nossos antepassados nos dias em que
Roma governou a terra antes da Reforma. Por mais surpreendentes que sejam tais
relatos, não devemos jamais nos esquecer de que os ingleses daquela época não
tinham Bíblias e não conheciam nada melhor. Sabe-se que um homem faminto em
meio à guerra é capaz de comer ratos, camundongos e todo tipo de lixo, para não
morrer de fome. A alma, faminta por falta da Palavra de Deus, não deve ser
julgada com demasiada severidade por se esforçar em sua busca por consolo na
superstição mais aviltante. Apenas não nos esqueçamos, jamais, que esta foi a SUPERSTIÇÃO
que foi despedaçada pela Reforma. Lembre-se disso. Este é um fato libertador. A
Reforma libertou a Inglaterra da tirania degradante e das imposturas
fraudulentas do sacerdócio romano. Nos últimos dias da supremacia do papa nesta
terra, os leigos estavam completamente “montados” pelo clero, e dificilmente
poderiam dizer que eram donos de suas próprias almas.
O
poder dos sacerdotes era praticamente despótico e usado para todos os fins, exceto
para o avanço da verdadeira religião. Como
os sapos na praga do Egito, infiltravam-se por todos os lugares, tanto no
palácio quanto no casebre; espreitavam você a cada momento da vida e se metiam
em todos os negócios. No confessionário, interferiam entre maridos e esposas; entre
pais e filhos; entre senhores e servos; entre senhores de terras e arrendatários;
entre súditos e soberanos; entre as almas e Deus. Obedeça-os, e você poderá
fazer qualquer coisa, e cometer qualquer pecado. Confronte-os, e você não terá
paz nem segurança. Constantemente visavam o grande objetivo de enriquecer a
Igreja e encher os cofres de sua própria ordem religiosa. Para atingir esse objetivo,
empregaram muitas artimanhas. Às vezes, persuadiam pessoas caridosas a doarem
dinheiro para tirar as almas de seus parentes do purgatório, sob o pretexto de
lhes rezarem missas. Ou aconselhavam pessoas doentes a doarem enormes somas ao
santuário de algum santo favorito, como Thomas à Becket, em Canterbury, e com
isso se tornarem merecedoras dos céus. Às vezes, eles induziam pecadores agonizantes
a doarem vastas extensões de terra para Abadias e Mosteiros, a fim de expiar
suas vidas ruins. De um modo ou de outro, estavam continuamente tirando dinheiro
dos leigos e acumulando propriedades em suas próprias mãos.
“De
fato”, diz Burnet, “se algumas leis não os houvessem impedido, a maior parte de
todas as propriedades da Inglaterra teria sido doada para as casas religiosas
"- (Burnet’s Reformation, i. 378.) Também jamais se esqueceram, por um
momento, de manter seu próprio poder. Para este propósito alegavam ter as
chaves dos céus, literal e verdadeiramente. A confissão deveria ser feita a
eles. Sem a sua absolvição e extrema unção, nenhum cristão professo poderia ser
salvo. Sem suas missas, nenhuma alma poderia ser redimida do purgatório. Em suma,
eram para todos os intentos e propósitos, os mediadores entre Cristo e o homem.
Agradá-los e honrá-los era o maior dever; rejeitá-los, o maior dos pecados. Fuller,
o historiador, conta-nos que em 1489, um certo padre italiano recebeu uma
imensa quantia de dinheiro na Inglaterra por ter obtido do Papa poderes “para
absolver as pessoas da usura, roubo, homicídio, fornicação e todo tipo de
crime, exceto ferir o clero e conspirar contra o papa” (Fuller’s Church Hist., i.
532, Tegg's Edit.) Quanto às imposturas grosseiras e ridículas que os sacerdotes
praticavam contra nossos ignorantes antepassados antes da Reforma, o catálogo
preencheria um livro inteiro. Aqui, naturalmente, posso apenas citar alguns
exemplos. Na abadia de Hales, em Gloucestershire, uma garrafa, em que se dizia
estar o sangue de Cristo, era exposta em grandes ocasiões pelos sacerdotes aos
que doavam esmolas. Este notável frasco foi examinado por comissários reais no
tempo de Henrique VIII; na verdade, o sangue era de pato e os padres o
renovavam semanalmente. Numa das igrejas da cidade de Worcester havia uma enorme
imagem da Virgem Maria mantida em especial reverência. A fim de se investigar
os fatos, os mesmos Comissários Reais a examinaram.
Quando
a imagem foi despida dos véus que a cobriam, descobriu-se não um busto da Virgem
e sim de algum antigo Bispo. Em Bexley, em Kent, era exibido um grande
crucifixo, que recebia grandes honras e vultosas ofertas, isto devido a crença
de que certo milagre acontecia àqueles que iam até lá: quando os fiéis ofereciam
uma moeda de cobre, o rosto da figura na cruz parecia sério, mas, quando ofereciam
prata, o rosto se tornava suave e, se ofereciam ouro, o rosto sorria
abertamente. Na época de Henrique VIII esse famoso crucifixo também foi examinado,
e foram encontrados fios dentro dele, pelos quais os sacerdotes assistentes podiam
mover a face da imagem e fazê-la assumir qualquer expressão que desejassem.
(Burnet’s Ref, i. 486.) Quem desejar investigar mais sobre esse vergonhoso
assunto, encontrará vasta documentação em Calvin’s Inventory of Relics e em
Pilgrimage to Rome, de Hobart Seymour. Descobrirá que, por toda a Europa, objetos
eram mostrados como relíquias sagradas tão manifestamente falsas e fictícias
que os sacerdotes que as mostraram só podem ser considerados trapaceiros e
farsantes, o tipo que hoje seriam condenados a girar moinhos ou consertar
navios. Peças de madeira, supostamente da verdadeira cruz, havia o suficiente
para encher um navio, embora saibamos que ela era do tamanho que uma pessoa era
capaz de carrega-la.
Espinhos supostamente da coroa do Salvador, eram suficientes para fazer um grande feixe; pelo menos quatorze pregos eram ditos como usados na crucificação, embora saibamos que quatro devem ter sido suficientes; quatro cabeças de lança, cada uma mostrada como aquela com a qual o soldado perfurou o lado de nosso Senhor, no entanto, obviamente tenha existido apenas uma; pelo menos três túnicas de Cristo, aquela sobre a qual os soldados lançaram a sorte, embora Ele estivesse usando apenas uma. E tudo isso são apenas alguns exemplos que selecionamos das profanas e vis invenções que os sacerdotes romanos impunham sobre as pessoas antes da Reforma. Deviam saber que estavam enganando, porém, insistiam em suas histórias e em obrigar os leigos a obedecê-los. Gostaria de lembrar a vocês que a libertação deste miserável sistema de TIRANIA E IMPOSIÇÃO SACERDOTAL DEVEMOS À REFORMA.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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