sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 

A Inglaterra Livre da Imoralidade do Clero - Bispo J. C. Ryle / Parte III

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

The Christening of The Prince of Wales, 25 January 1842. 

A Reforma livrou a Inglaterra da pior praga que pode afligir uma nação; me refiro à praga da extrema pecaminosidade e imoralidade entre o clero.

De modo geral, o clero levava uma vida simplesmente escandalosa, e a moralidade dos leigos estava num ponto ainda mais baixo. Naturalmente, uvas nunca crescem em espinhos, nem figos em cardos. Esperar que as imensas raízes da ignorância e da superstição, que enchiam nossa terra, produzissem qualquer fruto que não fosse corrupto, seria irracional e absurdo. Mas corrupção tão grande quanto a do clero inglês, mesmo nos melhores dias do romanismo, era coisa inimaginável, com algumas exceções louváveis.

 

Eu poderia lhe falar dos hábitos da gula, da embriaguez e do jogo, pelos quais os sacerdotes paroquiais alcançaram infeliz fama. “Com muita frequência”, diz o professor Blunt, “eles eram oriundos das classes mais baixas e traziam todos os seus hábitos grosseiros; vagabundos acostumados a tavernas, de pouca leitura, jogadores, ignorantes do Pai Nosso e, muitas vezes, incapazes de recitar os Dez Mandamentos. Sacerdotes feitos aos montes, os quais meramente liam seus breviários, e nada além disso. Homens frequentemente apelidados por nomes nada elogiosos, como Sir John Sem-Latim, Sir John Resmungão, ou o Balbuciador e Cego Sir John. De fato, a vida carnal e a irreligiosidade geral dos ministros da religião eram proverbiais antes da Reforma” - (Professor Blunt’s History of the Reformation, p. 66.) Eu poderia falar da cobiça desavergonhada que marcou o sacerdócio anterior à Reforma. Enquanto um homem fosse generoso com algum santuário, o clero o absolveria de quase qualquer pecado. Se o criminoso ou malfeitor pagasse bem aos monges, ele poderia buscar refúgio nas casas religiosas, independentemente do crime, e dificilmente qualquer lei poderia alcançá-lo. No entanto, para Wycllife e os lolardos, piedade alguma existia! Esculturas ainda existentes em alguns antigos edifícios eclesiásticos contam eloquentemente parte dessa história, gravada em pedra e madeira. Os frades eram frequentemente representados nessas esculturas como raposas pregando; ou a figura do pescoço de um ganso roubado atrás das vestes religiosas; como lobos dando absolvição; a figura de uma ovelha sendo sufocada por seus capuzes; como macacos sentados na cama de um homem doente: uma das mãos segurando um crucifixo enquanto a outa mexe nos bolsos do moribundo.

 

As coisas deveriam estar realmente degradadas para que as falhas dos ministros fossem tão publicamente desprezadas! Porém, a mancha mais negra no caráter do nosso clero pré-Reforma na Inglaterra, é um dos mais dolorosos de se contar.  Me refiro à impureza de suas vidas, e seu horrível desprezo pelo Sétimo Mandamento. As consequências da confissão auricular, praticada por homens comprometidos pelo voto de nunca se casarem, foram tão graves que não me atrevo a dar detalhes. As consequências de aprisionar homens e mulheres, no auge de suas vidas, em mosteiros e conventos, foram de tal gravidade e eu não vou contaminar as folhas sobre as quais escrevo falando sobre. Os detalhes serão encontrados em Strype, Burnet e Fuller por aqueles que se interessarem. É suficiente dizer que as descobertas feitas pelos comissários de Henrique VIII, a respeito do que se dava em muitas das chamadas casas religiosas, são impossíveis de descrever. “É doloroso falar sobre isso”.  Algo mais baixo do que a prática de muitos dos “santos” homens e mulheres nessas casas supostamente “separadas” do pecado e do mundo, a imaginação não pode conceber. Se já houve uma teoria que, posta na balança, foi encontrada em falta, é a teoria de que o celibato e o monasticismo promovem a santidade. Jovens românticos e moças sentimentais podem lamentar as ruínas de abadias como Battle, Glastonbury, Bolton, Kirkstall, Furness, Croyland, Bury e Tintern. Mas me atrevo a conjecturar que muitas dessas casas são mais úteis agora, como ruínas, do que em seus dias de glória e prosperidade. Acredito, enfim, que os mosteiros e os conventos eram com frequência centros de iniquidades e que, com muita frequência, monges e freiras eram o escândalo do cristianismo.

 

Admito que nem todos os mosteiros e conventos eram igualmente ruins. Admito que havia casas religiosas como Godstow Nunnery, perto de Oxford, que tinha uma reputação inabalável. Mas temo que sejam louváveis exceções que só provam a veracidade da regra geral. O preâmbulo do Ato para a Dissolução de Casas Religiosas, baseado no Relatório dos Comissários de Henry Vlll, contém declarações amplas e gerais, que não podem ser descartadas: “esse pecado manifesto, esse viver vicioso, carnal e abominável, é diariamente cometido em abadias, priorados e outras casas religiosas de monges, cânones e freiras; apesar de muitas e constantes tentativas, no espaço de duzentos anos ou mais, de uma reforma honesta e caridosa, ainda assim, pouca ou nenhuma alteração foi até então alcançada; seu viver impiedoso só fez aumentar vergonhosamente”- Fuller, ii, 208. Nada melhor para promover a imoralidade que a abundância de pão e ociosidade (Ezequiel 16:49). Pegue homens e mulheres, de todo e qualquer tipo; amarre-os em um voto de celibato; tranque-os; dê-lhes muito para comer e beber, e pouco ou nada para fazer; acima de tudo lhes impeça o acesso a Bíblia; deixe-os sem nenhuma religião verdadeira; sem nenhuma pregação do Evangelho; sem nenhuma inspeção e longe dos olhos da opinião pública; se o resultado de tudo isso não for a abundante violação do Sétimo Mandamento, só posso dizer que nada compreendo sobre a natureza humana. Não peço desculpas por me debruçar sobre essas coisas. Por mais dolorosa e humilhante, devemos olhar cuidadosamente para elas, e não as ignorar, especialmente nos dias de hoje. Não quero que façam julgamentos severos sobre nossos pobres antepassados e digam que estão todos perdidos.

 

Nós não somos seus juízes. Para quem pouca luz foi dada, pouco será necessário. Mas quero que os clérigos modernos entendam do que a Reforma nos libertou. Antes de decidir que vamos desistir do protestantismo e receber de volta o monaquismo e o “sistema católico”, precisamos entender claramente qual era o estado da Inglaterra quando o papado tinha o domínio. Acredito que nunca houve uma mudança tão imperativamente necessária como a Reforma, e que nenhum inglês prestou um serviço tão bom ao seu país quanto os reformadores. Resumindo, a menos que um homem possa refutar os fatos históricos registrados por Strype e Burnet, deve admitir que os tempos anteriores à Reforma foram maus, ou admitir que é louco. A Inglaterra deve mais aos Reformadores do que a quaisquer outros. Mas, o que diremos da proposta moderna de abandonar os princípios da Reforma e retornar à comunhão da Igreja de Roma? Digo que o homem que faz tal proposta deve ter enlouquecido, ou é totalmente ignorante dos fatos históricos.

 

Devemos retornar a uma Igreja que se orgulha de ser infalível e que nunca se corrige? Para uma Igreja que nunca se arrependeu de suas superstições e abominações pré-Reforma? Para uma Igreja que nunca confessou, ou renegou, inúmeras corrupções? Será que estamos realmente voltando à grosseira ignorância da religião, à superstição infantil, à tirania sacerdotal, à grosseira imoralidade clerical? É esta a terra prometida católica? É uma vergonha para nós se, cogitamos tal ideia, ainda que brevemente. Deixe o israelita retornar ao Egito, se ele quiser. Deixe o filho pródigo voltar para suas bolotas entre os porcos. Deixe o cachorro voltar ao seu vômito.


Mas não deixe nenhum inglês com cérebro em sua cabeça ouvir a ideia de trocar o protestantismo pelo papado, e retornar à escravidão da Igreja de Roma. De jeito nenhum! Temos uma grande dívida para com a Reforma por nos ter libertado de um grande número de males; e se alguns dos meus leitores nunca se deram conta dessa dívida até agora, espero que eles recordem de que, hoje, ela lhes foi apresentada aqui.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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