quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 

A Doutrina do Inferno: um tema impopular nos dias de hoje. Por Thomas Boston. (1676-1732). Parte V.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

Aqui posso mostrar a razoabilidade da eternidade da punição dos condenados — mas, já tendo falado disso, em defesa da justiça de Deus, sujeitando Ele os homens em seu estado natural a ira eterna, eu só devo relembrar você de três coisas:

1. A infinita dignidade da parte ofendida pelo pecado requer uma punição infinita a ser infligida para a justiça de Sua honra, desde que o demérito do pecado cresce de acordo a dignidade e excelência da pessoa contra quem se é cometida a ofensa.

 

A parte ofendida é o grande Deus, o supremo bem — o ofensor é o verme vil; em respeito à perfeição, infinitamente distante de Deus, a quem ele está em debito por todo o bem que ele sempre teve. Isso então requer uma punição infinita a ser infligida no pecador; o qual, não consegue em si ser infinito em valor, necessita de infinita duração, melhor dizendo, eternidade. Pecado é um tipo de mal infinito, desde que erra contra um Deus infinito; e a culpa e a corrupção do pecado nunca são retiradas, mas permanece para sempre, a não ser que o Próprio Senhor em sua misericórdia o remova. 

 

Deus, quem é ofendido, é eterno; Seu ser nunca tem fim — a alma pecadora é imortal, e o homem deverá viver para sempre. O pecador, não tendo força (Romanos 5:6) para expiar sua culpa, nunca consegue se livrar da ofensa, por tanto ela permanece sempre, a não ser que o Próprio Senhor se livre dela, como o faz com os eleitos, pelo sangue de Seu filho. Portanto, a parte ofendida, o ofensor, e o ofendido, permanecem para sempre, a punição, não poderia ser outra coisa além de eterna!

 

2. O pecador teria continuado o curso de suas provocações contra Deus para sempre, sem fim, se Deus não tivesse posto um limite, a morte. Quanto mais eles fossem capazes de agir contra Ele nesse mundo, mais eles agiriam e, portanto, Ele justamente age contra eles, enquanto Ele é, ou seja, para sempre. Deus, que julga o mal, intentos e inclinações do coração, deverá fazer justamente contra os pecadores, em punição, o que eles fariam contra Ele em pecado.

 

3. Apesar de eu não aprofundar o assunto aqui, ainda assim é justo e razoável que os condenados sofram eternamente, pois eles pecarão eternamente no inferno, rangendo os dentes (Mateus 8:12), sob suas dores, em raiva, inveja e rancor (compare Atos 7:24; Salmo 112:10; Lucas 13:28) e blasfemando Deus lá (Apocalipse 16:21) enquanto são levados por sua maldade (Provérbios 14:32).

 

Pois, a punição dos perversos por sua perversidade é justa, e não é de forma alguma inconsistente com a justiça de que o ser da criatura continuará a existir para sempre, sendo assim, é justo que os condenados continuem perversos eternamente e sofram eternamente por sua perversidade. A miséria, sob a qual eles pecam, não pode nem os libertar do débito da obediência, nem os desculpar seus pecados e os fazer sem culpa. A criatura, como criatura, é ligada a obedecer ao seu Criador; e nenhuma punição posta sobre ele pode o livrar da obediência, tanto quanto a prisão de um malfeitor, ferros, chicoteadas e coisas similares, pode o colocar em liberdade novamente, para que cometa os crimes pelos quais foi aprisionado ou chicoteado.

 

Também não podem os tormentos dos condenados os desculpar, ou os fazer sem culpa, seus terríveis pecados sob eles, tanto quanto dores requintadas, infligidas sob os homens na terra, podem desculpar sua murmuração, ansiedade e blasfêmia contra Deus. Não é a ira de Deus, mas a própria natureza perversa deles, que é a verdadeira causa de seus pecados sob eles; pois o santo Jesus suportou a ira de Deus sem nem mesmo um pensamento impróprio de Deus, a muito menos uma só palavra imprópria. Aplicação:

 

1. Aqui está uma vara de medição — Oh que os homens a utilizem! Utilizem-na em seu próprio tempo nesse mundo, e verá que seu tempo é bem curto.

 

Uma prospecção de muito tempo que virá, prova a ruína de muitas almas. Os homens estarão calculando seu tempo por ´anos´, como aquele homem rico (Lucas 12:19-20), quando, talvez, não haverá muitas ´horas´ mais. Mas conte como desejar, colocando seu tempo na palheta de medição da eternidade, você verá que sua idade é como nada. Que pequeno e insignificante ponto é sessenta, oitenta, ou cem anos, em comparação a eternidade! Comparado com a eternidade, há uma grande desproporção do que a largura de um cabelo e a circunferência da terra. Porque dormir em um tão curto dia, enquanto estamos em perigo de perder o descanso através da longa noite da eternidade? Aplique-o aos seus esforços para salvação e eles se mostrarão bem escassos. Quando os homens são pressionados a diligência em sua salvação, eles estão prontos a dizer, ´Para que propósito todo esse desperdício?´

 

Ai! Se fosse para serem julgados por sua diligência, que fim é que teríamos em vista; sendo que para a maior parte de nós, nenhum homem poderia conjecturar que teríamos a eternidade em vista. Se considerarmos, devidamente, a eternidade, nós só poderíamos concluir que, devemos tentar todas as formas de Deus até que tenhamos nossa salvação assegurada; recusar descanso ou conforto em qualquer coisa, até que sejamos abrigados debaixo das asas do Mediador — perseguir nosso maior interesse com o máximo vigor para cortar as concupiscências como as mãos direitas e os olhos direitos — ter nossas faces resolutas contra as dificuldades — e lutar contra toda a oposição feita pelo diabo, pelo mundo e pela carne. Estas são, todas elas juntas, muito poucas para a eternidade.

 

2. Aqui está a balança do santuário, pela qual podemos entender a leveza do que é falsamente considerado pesado; e o peso de algumas coisas, que muitos tomam como se fossem muito leves.

 

Algumas coisas parecem muito pesadas, das quais, quando pesadas nessa balança, descobre-se que são bem leves:

 

(a) Pese o mundo, e tudo que nele há, a concupiscência da carne, a cobiça dos olhos e o orgulho da vida, e tudo será leve na balança da eternidade. Pese então todos os lucros mundanos, ganhos e vantagens; e você rapidamente verá, que nem mil mundos compensariam uma eternidade de angústia! ´Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? ´ (Mateus 16:26).

 

Pese os prazeres do pecado, dos quais duram por um tempo, com o fogo que é eterno, e vocês veem que são idiotas e malucos, de correrem o risco de perder um pelo outro.

 

(b) Pese suas aflições nessa balança e você verá que a mais pesada delas é bem leve, em relação ao peso da angústia eterna. Impaciência sob aflição, especialmente quando problemas terrenos, amargam o espírito dos homens que eles não conseguem apreciar as boas novas do Evangelho, fala mais alto do que a eternidade.

 

Uma pequena e insignificante perda será considerada mínima para aquele que se vê em perigo de perder seu patrimônio por completo; então, problemas terrenos serão vistos nada mais do que pequenos para aquele que tem uma ideia clara da eternidade. Tal homem se curvará e pegará sua cruz, seja ela qual for, pensando o suficiente para escapar da ira eterna.

 

(c) Pese as maiores dificuldades e preocupantes tarefas da religião aqui, e você não irá mais considerar o jugo de Cristo insuportável.

 

Arrependimento e amargo luto pelo pecado, na terra, são bem leves em comparação com o eterno, choro, lamento e ranger de dentes no inferno! Lutar com Deus em oração, choro e suplicando a benção em tempo, é bem mais fácil do que estar sob a maldição por toda eternidade! A mortificação da mais amada concupiscência é algo leve comparado com a segunda morte no inferno!

 

(d) Pese suas convicções nessa balança. Oh, quão pesadas são em muitos até que eles se livrem delas! Eles não estão dispostos a continuar com elas, mas lutam para se livrar delas como de um grande fardo.

 

Mas, o bicho de uma má consciência não irá nem morrer nem dormir no inferno, embora nós possamos por agora adormece-lo por um tempo. E certamente é mais fácil entreter as mais fortes convicções nessa vida, para que nos levem a Cristo, do que as ter para sempre fixadas na consciência e estar no inferno totalmente e finalmente separados dEle.  Por outro lado, pese o pecado nessa balança e apesar de agora parecer algo leve para você, você verá que é peso suficiente para trazer um peso eterno de ira sobre você.  

 

Mesmo palavras indolentes, pensamentos vãos e ações infrutíferas, pesadas nessa balança, consideradas como seguindo o pecador para a eternidade, será cada uma delas mais pesada do que a areia do mar! Tempo indolentemente gasto trará uma exaustiva eternidade! Agora é sua hora de plantar; pensamentos, palavras e ações são as sementes semeadas, a eternidade é a colheita.

 

Apesar de agora a semente ficar embaixo da terra, ignorada pela maioria dos homens, até mesmo o menor dos grãos deverá brotar; e o fruto será de acordo com a semente, ´Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna´ (Gálatas 6:8).

 

Pese nessa balança seu tempo e oportunidades de graça e salvação, e você verá que são bem pesadas. Precioso tempo e épocas de graça, Sabbaths, comunhões, orações, sermões, e similares, são por muitos, considerados, hoje em dia, como leves; mas o dia está chegando em que uma dessas será considerada mais valiosa do que mil mundos por aqueles que agora tem o mínimo valor por elas! Quando eles se forem para sempre, e a perda não puder ser recuperada, eles verão o valor delas que agora não conseguem ver.

 

3. Seja obediente, quando alertado e exortado a fugir da ira vindoura! Valorize a eternidade, trabalhe de perto o porvir; da sua salvação.

 

O que você está fazendo, enquanto não faz isso? É o céu uma fábula ou o inferno um falso alarme? Nós devemos viver para sempre, e não mais ter dores para escapar da eterna miséria? Conseguirão fracos desejos tomar o reino dos céus por força? A maioria dos homens se satisfazem com tão fracos esforços, como poderão ser considerados fuga da ira vindoura? Você que já correu para Cristo, esteja pronto e trabalhando. Você começou o trabalho, continue e não demore, mas ´assim também operai a vossa salvação com temor e tremor´.

 

Tenha medo dele que pode destruir, ambos, a alma e o corpo no inferno, ´temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo´. Lembrem-se de que você não foi ascendido aos céus ainda; você está num estado intermediário. Os eternos braços os retiraram do abismo de ira do qual você estava mergulhado, em seu estado natural; eles ainda estão em baixo de você, que você nunca mais cai nele novamente. Mesmo assim, você ainda não chegou ao topo da rocha; a profundeza embaixo de você é assustadora — olhe para ela e suba depressa. Você que ainda está em seu estado pecaminoso, olhe para cima e tenha uma visão do estado eterno.

 

Levantem, suas pessoas profanas, seus ignorantes, seus hipócritas formais, estranhos ao poder da divindade e fujam da ira vindoura! Não deixe que esse novo empreendimento atrase um só momento mais, nem o velho atrase mais esse trabalho:

 

´Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações´; para que Ele não jure em Sua ira que você nunca entre em Seu descanso.  Não é tempo para prolongar-se em um estado de pecado, como em Sodoma, quando o fogo e enxofre desceu a eles vindo do Senhor. Aceite a exortação a tempo.

 

Aqueles que estão no inferno não se preocupam com tais exortações, mas estão em ira contra si mesmos, porque eles menosprezaram esse alarme quando eles o tiveram.  Considere, eu vos imploro, o quão difícil é ficar deitado uma noite toda em uma cama fofa em perfeita saúde, desejando dormir de bom grado, mas não conseguindo dormir, o sono sendo levado para longe de nós. Quão frequentemente, nós nesse caso, desejamos o descanso! Quão cansados de rolar de um lado para o outro! Ah! Quão terrível deverá ser estar sob o sofrimento, envolto em chamas escaldantes por toda a eternidade, no lugar onde eles não terão descanso nem de dia nem de noite! O quão terrível seria viver sob dores violentas de cólica ou pedra no rim por quarenta ou sessenta anos consecutivos! Porém, isso seria algo bem pequeno comparado com a eterna separação de Deus, o bicho que nunca morre e o fogo que nunca é extinto. A eternidade é um pensamento terrível! Oh, longa, longa eternidade sem fim! Não será cada momento de sofrimento na eternidade como um mês, e cada hora como um ano, em tamanha miserável condição? Assim, sempre e sempre, uma dupla eternidade, por assim dizer.

 

O homem doente à noite, rolando de um lado para outro na cama, diz que o dia não chega nunca, que sua dor continua sempre —nunca, nunca acaba. São essas “pequenas eternidades”, das quais os homens formam em sua imaginação, tão ruins assim? Ai! Então, o quão ruim, o quão insuportável, deverá ser uma real eternidade de sofrimento e todos os tipos de misérias!

 

Haverá espaço suficiente lá para refletir em todas as doenças do nosso coração e vida, das quais não temos tempo para pensar agora; e ver que tudo o que foi dito sobre o perigo do pecador impenitente, era verdade, e que nem fora dito a metade.

 

Haverá espaço suficiente na eternidade para continuar atrasando o arrependimento, lamentaram os tolos quando for tarde demais; e em um estado sem remediação para falar sobre desejos infrutíferos — Oh! Que eu nunca tivesse nascido! Que o útero tivesse sido minha cova e que eu nunca tivesse visto o sol! Oh! Se eu tivesse tomado o aviso a tempo e fugido dessa ira enquanto a porta da misericórdia estava escancarada para mim! Oh! Se eu nunca tivesse dado ouvidos ao Evangelho, se eu tivesse vivido em algum canto do mundo onde um Salvador e a grande salvação não tivesse sido nunca pregada! Mas tudo em vão. O que foi feito, não pode ser desfeito; a oportunidade está perdida, e nunca poderá ser recuperada; o tempo acabou, e nunca mais voltará. Portanto, beneficie-se do tempo enquanto ainda o tem, e não arruíne a si mesmo propositalmente fechando os ouvidos para o chamado do Evangelho. E agora, se você fosse salvo da ira vindoura, e nunca entrar nesse lugar de tormento, não descanse em seu estado natural; creia na pecaminosidade e miséria dele e trabalhe para sair dessa miséria rapidamente, correndo para Jesus pela fé. O pecado em você é a semente do inferno — e se a culpa e o poder que reina no pecado não for removido a tempo, eles o levarão a segunda morte na eternidade.

 

Não há forma de os remover, mas recebendo a Cristo como Ele é oferecido no Evangelho, para justificação e santificação — e Ele é agora oferecido para você com toda Sua salvação (Apocalipse 22:12,17). ´E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida´.

 

Jesus Cristo é o mediador da paz e a fonte de santidade —Ele que nos liberta da ira vindoura. ´Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus´ (Romanos 8:1). Os terrores do inferno, assim como os deleites do céu, estão diante de vós, para os levar a uma cordial aceitação dEle, com Sua salvação, e para os inclinar no caminho da fé e santidade, somente nos quais poderás escapar do fogo eterno. Que o Próprio Senhor as torne eficazes para esse fim!

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

Ao utilizar este texto! observe as normas acadêmicas, ou seja, cite o autor e o tradutor, bem como, o link de sua fonte original.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Graça e paz, seja muito bem vindo ao portal de periódicos da IPOB, analisaremos seu comentário e o publicaremos se ele for Cristão, Piedoso e Respeitoso.