A Inglaterra e o Dever de Resistir ao Ritualismo - Bispo J. C. Ryle / Parte VII
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
Se meus temores são justos apenas o tempo poderá dizer. Mas eu estaria fugindo ao meu dever se não demonstrasse claramente minha suspeita de que estamos numa posição crítica, e que o futuro deve ser encarado com apreensão. Em suma, é minha firme convicção - compartilhada por apenas um ou dois dos nossos bispos - de que, a menos que o ritualismo seja revisto ou expulso, a Igreja da Inglaterra neste país será, em poucos anos, fragmentada. Reconheço que alguns líderes dos Ritualistas são homens zelosos, sinceros, devotados, capazes e bem-intencionados. Talvez estejam sinceramente convencidos, como muitos da escola de Laud, de que estão ajudando a Igreja da Inglaterra e “fazendo a obra de Deus”. Mas é minha firme convicção de que, como a escola de Laud, eles estão arruinando a Igreja em vez de ajudá-la, e provavelmente levarão a casa inteira ao chão. Deixe-me agora concluir tudo o que eu disse com alguns conselhos simples e práticos.
(1)
É preciso resistir com veemência aos esforços que estão sendo feitos para
desconstruir a Inglaterra e submetê-la mais uma vez ao poder do papado. Não vamos
voltar à ignorância, superstição, artimanhas sacerdotais e imoralidade. Nossos
antepassados provaram do papado há muito tempo e o cuspiram enojados e
indignados. Não vamos voltar no tempo e regressar ao Egito. Não tenhamos paz
com Roma, não até que Roma abandone seus erros e esteja em paz com Cristo.
Quando Roma fizer isso, e não antes disso, será hora de falar em nos
reencontrarmos. Até lá, porém, o movimento alardeado como uma "Reunião das
Igrejas Ocidentais" é um insulto ao cristianismo. Leiam suas Bíblias e
estejam armados com argumentos escriturísticos. Um leigo que lê a Bíblia é a
trincheira mais segura contra o erro. Não temerei pelo protestantismo inglês se
os leigos sozinhos cumprirem com seu dever.
Conheça a história, e veja o que Roma fez no passado.
Leia sobre como ela pisou nas liberdades do seu País, saqueou os bolsos dos
seus antepassados e manteve toda a nação ignorante e imoral. Leia Foxe, Strype,
Fuller, Burnet, Soames, J.J. Blunt e ‘A Vida da Rainha Maria’, de Froude.
Lembre-se: Roma não admite mudar. Ela se orgulha e se gloria de ser infalível e
imutável. Devolva-lhe o poder na Inglaterra e ela em breve voltará ao antigo
jogo; primeiro nos cantará uma canção de ninar, mas assim que fecharmos os olhos
do nosso País, como fez Sansão, voltaremos a ser escravos. Se inteire dos fatos
mais relevante no mundo. O que levou a Itália ao seu estado atual? O papado. O
que levou o México e os Estados sul-americanos ao que são? O papado. O que fez
a Espanha e Portugal serem o que são hoje? O papado. O que levou a Irlanda ao
que ela é? O papado. O que tornou a Escócia, os Estados Unidos e nossa amada Inglaterra,
nos países mais poderosos e prósperos da atualidade (e eu oro a Deus que possam continuar assim por
muito tempo)? Respondo em uma palavra: O PROTESTANTISMO: uma Bíblia
acessível, um ministério pastoral protestante e os princípios da Reforma. Pense
duas vezes antes de dar ouvidos aos argumentos ilusórios do liberalismo, assim falsamente
chamado. Pense duas vezes antes de ajudar a trazer de volta o reinado do
papado.
(2)
É preciso resistir com firmeza, ao ritualismo e fazer todo o possível para enfrenta-lo.
O ritualismo é a estrada para Roma, e o triunfo do ritualismo será a restauração
do papado. Resista nas coisas pequenas. Resista a vestimentas estranhas, roupas
sacerdotais, a posição oriental na consagração do pão e do vinho, a reverência
idólatra dos elementos consagrados, as procissões, estandartes, incensos, velas
na mesa da Comunhão, além de decorações extravagantes. Resista a tudo isso com
coragem. Tais coisas parecem insignificantes, mas frequentemente levam a uma
grande quantidade de abusos, quando não descambam diretamente para o papismo. Resista
nas coisas grandes. Em especial, oponha-se com todas as forças a tentativa de
reintroduzir a Missa e a Confissão Auricular em nossas paróquias. Não envie seu
filho para nenhuma escola onde confissão auricular seja tolerada. Não permita
que nenhum clérigo leve sua esposa e filhas à confissão privada. Oponha-se com
amor, mas com firmeza, a tentativa de substituir a Ceia do Senhor pelo
sacrifício romano da Missa em suas paróquias. Retire-se da comunhão nessas
igrejas e vá para outro lugar. Os leigos têm muito poder nesta questão, e
sequer precisam de autorização. Aliás, os leigos podem fazer muito apenas
comparecendo aos debates sobre vestes e expondo aos clérigos o que pensam sobre
o assunto.
O
clero não pode prescindir dos leigos mais do que os oficiais de um regimento podem
sobreviver sem soldados. Se os leigos de toda a Inglaterra se unissem e
dissessem: “Não queremos a Missa e nem a confissão auricular”, o ritualismo
morreria em pouco tempo. Por amor a Cristo, resista. Sua obra sacerdotal e
medianeira é atacada e desonrada pelo ritualismo. São ofícios que Ele nunca
delegou a nenhuma classe especial de homens. Em benefício da Igreja da
Inglaterra, resista.
Se
o ritualismo triunfar, os dias da Igreja estarão contados. Os leigos vão deixá-la,
e ela morrerá por falta de membros. Pelo bem do clero, resista. O que de pior e
de mais cruel pode ser feito contra nós é nos tirar de nossos devidos lugares,
tornando-nos senhores sobre suas consciências, e mediadores entre vocês e Deus.
Pelo bem dos leigos, resista. A posição mais degradante na qual os leigos podem
ser colocados é a de serem feitos escravos de pecadores. Pelo bem de seus
filhos, resista. Faça o necessário para garantir que, quando você estiver morto,
seus filhos não sejam deixados sob os cuidados do papado. Se quer encontrar
seus filhos no paraíso, cuide para que a Igreja da Inglaterra em seus dias seja
mantida como uma Igreja Protestante, e que ela preserve seus Artigos, bem como
os princípios da Reforma, completamente ilesos.
(3)
Não se apresse em deixar a Igreja da Inglaterra porque muitos de seus clérigos
são infiéis. Evitar e fugir de problemas e conflitos é o jeito fácil e vulgar;
mas não é viril, nem cristão, nem gentil. É um atalho para sair das dificuldades,
abandonar o barco em perigo é largar seus companheiros que afundam. Não é este o
jeito de um inglês agir. Como Nelson disse em Trafalgar, “a Inglaterra espera
que todos os homens cumpram o seu dever”, e a Igreja da Inglaterra espera que
cada membro da Igreja Protestante cumpra seu dever e permaneça no navio. Abaixo
essa conversa sobre cisma! Abaixo esse flerte com a Irmandade de Plymouth! Não
joguemos o jogo do inimigo, abandonando a boa e velha fortaleza, desde que os
Artigos sejam inalterados e a liberdade de pregar mantida. Não abandonemos a
nossa velha mãe em seu dia de angústia. Em vez disso, como Venn, Romaine,
Grimshaw e Berridge, reformemos as paredes envelhecidas, restauremos nossas armas,
e estejamos prontos para lutar. Traidores e desertores são a fraqueza de um exército.
Os clérigos com coração de coelho, sempre a se meterem em buracos à menor
sombra de confrontos, problemas ou perigo, são os melhores aliados do Ritualismo.
(4.)
Meu quarto e último conselho é esse: trabalhem todos, tanto pública quanto privadamente,
e trabalhe duramente, em defesa da verdade de Cristo e pela manutenção dos
princípios da Reforma na Igreja da Inglaterra. Mas trabalhem juntos, de modo
organizado e sistemático, ou pouco conseguirão. “Homens com mosquetes” não fazem
um exército, como os franceses descobriram à custa da guerra Franco-Alemã.
Do
mesmo modo, clérigos evangélicos sem organização farão muito pouco frente ao
ritualismo. Associem-se, unam-se, organizem-se. Trabalhem juntos, mantenham-se
juntos, e muito poderá ser feito. Trabalhe de maneira caridosa e gentil, e leve
em consideração a ignorância absoluta de muitos ritualistas a respeito da real
natureza dos princípios evangélicos. Muitos deles, infelizmente, parecem saber
tanto da teologia evangélica quanto o trabalhador rural iletrado sabe sobre as
ruas de Londres, ou um nativo de Tomboctu sabe a respeito de sorvetes. Eles não
sabem o que temos. Eles falam e escrevem como se nunca tivessem ouvido falar de
nenhuma Escola Teológica além da sua! Lembre-se disso e os trate com caridade.
Mas, enquanto você trabalha caridosamente, com amor, cortesia e gentileza, não
se esqueça de trabalhar duro! Não menos importante, peço que se unam a Church Association.
Essa é uma sociedade, bem sei, muito impopular e má vista em muitos setores da
Igreja. Não é possível agradar a todos! Esta associação é muitas vezes
interpretada como um grupo prejudicial, intolerante e inquisidor. Ouço tais
acusações com perfeita indiferença. Lembro-me de que os caçadores ilegais não
gostam de guarda florestal, bem como assaltantes não gostam de cães de guarda e
ladrões não gostam da polícia. Assim, como Acabe não gostava de Elias, não
posso esperar que os ritualistas gostem da Church Association. Mas quando os
Bispos, alguns anos atrás, pouco puderam fazer enquanto o Papado entrava em
nossa Igreja feito inundação, desafio qualquer homem a me dizer que coisa
melhor poderia ter sido feita além de formar a Church Association; como defesa,
não como provocação; para a preservação da Igreja, não para perseguir.
Como
Davi disse a Eliabe: “Porventura não há razão para isso?” (1 Sam. 17: 29). Como
Jefté disse a Efraim: “... vendo eu que não me livráveis, arrisquei a minha
vida, e passei contra os filhos de Amom” (Juízes 12: 3). Nós, membros e amigos
da Church Association, não reivindicamos a perfeição e podemos ter cometido muitos
erros; mas, de qualquer modo, fizemos o que podíamos pela Igreja da Inglaterra,
e não paramos, nem a deixamos ser arruinada sem luta.
Quanto àqueles respeitáveis High Church, da Escola de Andrews e Hooker, que nos dizem desaprovarem e temerem o ritualismo, mas não levantam um dedo para ajudar a Church Association, só posso dizer que sinto muito por eles. Acredito que eles estão cometendo um grande erro. Creio que a política de não-intervenção, que se limita a esperar que algo aconteça, é extremamente prejudicial. A conspiração cresce enquanto eles se sentam de braços cruzados, numa passividade magistral, facilitando a ruína da Igreja da Inglaterra. O que esperam e o que eles se propõem a fazer, não entendo. Dizem não gostar de como lidamos com o problema, mas não nos mostram uma forma melhor. Enquanto ficam parados, não posso deixar de lembrar a solene advertência de Obadias a Edom: “... tu não devias olhar satisfeito o seu mal, no dia da calamidade” (Obadias 13).
A menos que eu esteja muito enganado, chegará o dia quando se arrependerão de não lutarem pelo Senhor contra os poderosos. Não exigimos muito deles. Não queremos que desistam de seus próprios pontos de vista, nem que se tornem nossos partidários. Pedimos, somente, que como honestos homens da igreja, nos ajudem a resistir ao papado e a manter sem mácula os grandes princípios da Reforma inglesa. A Igreja da Inglaterra exige que todos os seus membros honestos e leais se levantem e sejam fiéis como seu dever. Não fazer nada, em dias como os nossos, é ser infiel à Igreja. Admito que as coisas parecem escuras em todos os sentidos. Mas não há motivo para desesperar. O dia não está perdido. Como Napoleão disse em uma ocasião memorável: “Ainda há tempo para vencer uma batalha”. Aconteça o que for, não abandonaremos nossa posição. Não faremos a vontade de nossos inimigos, guardando nossas armas e abandonando nossas fortalezas sem luta. Em vez disso, vamos estar a postos, com nossas armas, como fizeram Latimer e Ridley, e na força de Deus mostrar ao inimigo uma frente de batalha corajosa. A Igreja da Inglaterra fez muito bem em tempos passados, e ainda vale a pena ser preservada. Se cairmos na luta, vamos cair de cabeça erguida; mas, como o galante sentinela de Pompéia, que não se mexia enquanto o Vesúvio explodia. Ninguém abandonará seu posto. Digo que é preferível que a Igreja da Inglaterra pereça, a ter que abandonar os princípios da Reforma, ou tolerar o sacrifício da Missa, ou a confissão auricular. Mas se ela perece ou não, isso depende, depois de Deus, das atitudes de seus membros.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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