Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
O Calvinismo Britânico:
O
objetivo das páginas de “O
Calvinismo da Igreja da Inglaterra,”
que estaremos publicando na sequência, é demonstrar, em suas próprias palavras,
até que ponto os formulários da Igreja da Inglaterra são o que popularmente é
chamado de calvinistas; e elucidar suas declarações por meio de citações de
escritos de nossos principais reformadores; especialmente daqueles por quem
nossos formulários foram organizados ou compostos [1].
As
citações estão organizadas sob os seguintes temas principais: "A Corrupção da Natureza Humana"; "A
Justificação pela fé"; "A Salvação pela graça"; "A
Predestinação e Eleição"; "A Perseverança dos Santos". São feitas citações dos seguintes reformadores:
Cranmer, Latmer, Riddley, Hooper, Bradford e Jewel; todos foram bispos, exceto
Bradford, que, no entanto, tem argumentos que se fazem ouvir sobre o tema;
todos foram mártires - com a exceção de Jewel - o que fornece a mais alta prova
da sinceridade de suas crenças nas doutrinas que professavam. Enquanto o
organizador desta compilação mantive a esperança de que, sob a benção de Deus,
a leitura franca das páginas seguintes possa ser útil para alguns, cujos pontos
de vista até agora não estiveram de acordo com as doutrinas que nossos
Reformadores sustentaram, certamente lamentaria ser aquele que encabeçou o
projeto. Lamentaria ser aquele que desperta o espírito dogmático e controverso.
Sobre esse assunto, o autor chama a atenção do leitor para as importantes
observações contidas na seguinte passagem de uma excelente carta de John Newton:
“Eu sou um calvinista declarado: os pontos que normalmente são compreendidos nesse
termo me parecem tão consoantes com as Escritura, com a razão (quando
iluminada) e com a experiência, que não tenho a menor sombra de dúvida sobre
eles.
Mas
não posso contender, não me atrevo a especular. O que é chamado por alguns de
alto calvinismo, eu temo. Sinto muito mais união de espírito com alguns arminianos
do que com alguns calvinistas; e se eu pensasse que uma pessoa teme o pecado,
ama a palavra de Deus e está buscando a Jesus, eu não dedicaria meus esforços
para torna-la um prosélito para as doutrinas calvinistas. Não porque eu ache
que são meras opiniões, ou tenham pouca importância para um crente, penso
exatamente o contrário; mas porque creio que essas doutrinas não farão bem a
ninguém, até que lhes sejam ensinadas por Deus. Acredito que um assentimento
muito apressado aos princípios calvinistas, antes que uma pessoa esteja
devidamente familiarizada com a praga de seu próprio coração, é a causa
principal da profissão de fé rasa que é tão abundante atualmente, a razão
principal pela qual muitos professores são imprudentes, inebriantes, altivos,
contenciosos em palavras e, infelizmente, negligentes quanto aos meios da
determinação Divina. Por essa razão, suponho, embora eu nunca pregue um sermão
em que as cores do Calvinismo não possam ser facilmente discernidas por um ouvinte
criterioso, raramente insisto expressamente nesses pontos, a menos que eles
estejam justa e necessariamente no caminho do meu objetivo.
Acredito
que a maioria das pessoas que estão verdadeiramente vivas em Deus, mais cedo ou
mais tarde se deparam com algumas dificuldades que as obrigam a se refugiarem
naquelas doutrinas reconfortantes que talvez receavam, se não é que
abominassem, por não saberem como superar algumas duras consequências que achavam
necessariamente resultantes delas, ou porque tropeçaram nos erros daqueles que
as professavam. Desta forma, eu mesmo fui feito um calvinista. E estou contente
em deixar o Senhor seguir seu próprio caminho e seu próprio tempo com os
outros”. [2] Pode não ser irrelevante observar que, no que diz
respeito a muitos que são hostis ao calvinismo, as doutrinas contidas nas três
primeiras seções das páginas seguintes lhes são bem mais acessíveis do que aquelas
que abordam a “Predestinação e Eleição” e a “Perseverança Final”; é sobre os
sentimentos contidos nestes dois últimos temas que os piedosos arminianos, como
os mencionados por Newton, são os principais destinatários.
Como
clérigo da Igreja da Inglaterra, o compilador deste trabalho não pode deixar de
se alegrar no então crescente corpo de seus ministros pelos quais as doutrinas
da Reforma eram estabelecidas; nem deixou de orar para que o Cabeça da Igreja
continuasse acrescentando ao seu número e prosperando abundantemente seus
trabalhos.
Uma breve introdução aos
Reformadores Ingleses:
Thomas
Cranmer, Arcebispo de Cantuária; nascido em 1489; feito bispo em 1532;
martirizado, sob a Rainha Maria, a Sanguinária, em 1556. Um dos autores das
Homilias. Tão grande foi a benevolência de Cranmer, e sua prontidão para
perdoar ofensas, que um ditado se tornou comum: "Trate o senhor de
Cantuária de modo malicioso e ele será seu amigo para sempre". Sem dúvida,
Cranmer foi o instrumento principal para a concretização da Reforma Inglesa.
Hugh
Latimer, Bispo de Worcester; nascido por volta de 1470; feito bispo por volta
de 1536; martirizado sob a Rainha Maria, a Sanguinária em 1555. Um dos autores
das Homilias. Pela fidelidade e simplicidade de seus sermões, ele foi particularmente
útil na promoção da Reforma. Suas palavras a Ridley, depois que ele foi amarrado
à estaca, não serão facilmente esquecidas: “Tende bom conforto, Mestre Ridley,
e tenha coragem; hoje, pela graça de Deus, acenderemos uma vela na Inglaterra, e
eu creio que jamais será apagada”.
Nicholas
Ridley, Bispo de Londres; nascido por volta de 1500; feito bispo por volta de
1547; martirizado sob a Rainha Maria, a Sanguinária, em 1555. Um dos autores
das Homilias. Estimado como o mais instruído dos Bispos engajados na Reforma
durante o reinado de Eduardo. Um homem gentil, que ao substituir o Bispo
Bonner, que fora deposto, agiu honradamente para com o mesmo e para com sua
família, chegando a assumir obrigações trabalhistas de seu antecessor. Notório
se tornaria o tratamento de Ridley para com a velha senhora Bonner, mãe do cruel
ex-bispo de Londres:
Quando
assumiu a honrosa posição, o bispo protestante frequentemente convidava a mãe
de Bonner para comer em seu palácio, tratando-a como sua própria mãe; cuidados
que ele estendeu também a irmã de Bonner e a outros parentes do mesmo. A atitude
de Ridley marcou um contraste poderoso com a atitude vingativa de outros
prelados favoráveis à Igreja de Roma, o que não poderia deixar de ser altamente
favorável à causa dos reformadores.
John
Hooper, bispo de Worcester; nascido em 1495; feito bispo em 1550; martirizado
sob o reinado de Maria, a Sanguinária, em 1554. Em suas claras e convincentes
exposições da verdade bíblica, não foi inferior a nenhum dos Reformadores.
John
Bradford, cônego da Igreja de São Paulo; provavelmente nasceu no início do reinado
de Henrique VIII, e feito mártir sob o reino de Maria, a Sanguinária, em 1555.
Bradford foi capelão do bispo Ridley; que lhe presta este testemunho: “Em minha
opinião, julgo o senhor Bradford mais digno de ser bispo do que muitos de nós bispos”.
John
Jewel, Bispo de Salisbury; nasceu em 1522 e foi feito bispo em 1560. Um dos
autores das homilias. “Jewel é principalmente conhecido e honrado, nos dias
atuais, como o autor da imortal Apologia da Igreja da Inglaterra. Mas, não se
faz plena justiça a sua memória sem reconhecer a extensão e o valor de sua
gigantesca obra” - Le Bas.
Reverendo John Hunter, Lansdown Place, Bath; 19 de dezembro de 1810. [1] Os artigos, originalmente quarenta e dois, foram elaborados principalmente por Cranmer e Ridley. Eles foram revisados após a ascensão de Isabel e reduzidos a trinta e nove sob a direção de Parker; e o bispo Jewel deu-lhes a configuração final. - Ver Short History of the Church of England, vol. i, apêndice C, p. 481. O Livro de Oração Comum foi elaborado por Cranmer, com a ajuda de Bucer e Peter Martyr, e outros teólogos. Já as Homilias parecem ter sido principalmente fruto das canetas de Cranmer, Latimer, Ridley, Hopkins, Bucer e Jewel. - Ver Short's History, vol. ii., p. 312 e vol. i. p. 359. [2] Works of the Rev. John Newton, Rector of St. Mary Woolmoth, vol. vi., pp. 278, 279.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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