Confissão de Fé Ortodoxa Calvinista Patriarca Cyril Lucaris (1629).
O autor da confissão o Patriarca Ecumênico de Constantinopla; Papa e patriarca de Alexandria; Hieromartyr Cyril Lucaris ou Loukaris Patriarca grego de Alexandria como Cyril III e Patriarca Ecumênico de Constantinopla como Cyril I (nascido em 13 de novembro de 1572, Candia, Creta, república de Veneza [agora na Grécia] - morreu em 27 de junho de 1638, a bordo de um navio no Bósforo [Turquia]), foi o patriarca de Constantinopla que lutou por reformas ao longo das linhas protestantes calvinistas. Seus esforços geraram ampla oposição tanto de sua própria comunhão ortodoxa quanto dos jesuítas.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
A INFLUÊNCIA PROTESTANTE:
Lucaris
seguiu seus estudos teológicos em Veneza e Pádua e, quando estudou em
Wittenberg e Genebra, sofreu a influência do calvinismo e desenvolveu um forte
desgosto pelo catolicismo romano. Em 1596, o patriarca de Alexandria, Meletios
Pegas, enviou Lucaris para a Polônia para liderar a oposição ortodoxa à União
de Brest-Litovsk, que havia selado uma união do metropolitano ortodoxo de Kiev
com Roma. Por seis anos Lucaris serviu como reitor da academia ortodoxa em
Vilnius (agora na Lituânia). Em 1602 foi eleito patriarca de Alexandria e em
1620 foi eleito patriarca de Constantinopla.
A CONFISSÃO DE FÉ “CALVINISTA ORTODOXA”:
Como
patriarca, Lucaris procurou promover seus propósitos calvinistas enviando jovens
teólogos gregos para universidades na Holanda, Suíça e Inglaterra. Foi um
desses estudantes, Metrophanes Kritopoulos, o futuro patriarca de Alexandria,
que descobriu a sua Confissão de Fé, que havia sido escrita por Lucaris em
latim e publicada em Genebra em 1629.
Em
seus 18 artigos, Lucaris professava virtualmente todas as principais doutrinas
da fé. Calvinismo;
predestinação, justificação pela fé somente, aceitação de apenas dois
sacramentos (em vez de sete, como ensinado pela Igreja Ortodoxa Oriental), rejeição
de ícones, rejeição da infalibilidade da igreja, e assim por diante.
Na
Igreja Ortodoxa, a Confissão iniciou uma controvérsia que culminou em 1672 em
uma convocação de Dositheus, patriarca de Jerusalém, de um conselho da igreja
que repudiava todas as doutrinas calvinistas e reformulava os ensinamentos
ortodoxos de maneira a distingui-los do protestantismo e do catolicismo romano.
PERSEGUIÇÃO E MARTÍRIO:
Lucaris
foi forçado a renunciar cinco vezes através das intervenções dos embaixadores da
França e da Áustria ao sultão otomano Murad IV (reinou de 1623 a 1640). Seu
retorno ao cargo patriarcal foi efetivado em cada ocasião pela ajuda de
diplomatas protestantes britânicos e holandeses. Ele foi finalmente denunciado
perante o sultão como um traidor que tentou incitar os cossacos contra os
turcos, e Lucaris foi condenado à morte e estrangulado por seus guardas otomanos.
Após
a sua morte, o Sínodo de Dositheus (1672) declarou que Cyril era culpado de
"receber as sagradas Escrituras despojadas das exposições dos santos Padres
da Igreja" e também de negar "as tradições que obtiveram desde o
início começando em todo o mundo, sem as quais a nossa pregação seria reduzida
a um nome vazio” (Balmer 1982: 54). O Patriarca Ortodoxo Oriental Dositheus também
enfatizou que a Igreja Oriental não pode ser considerada inferior às Escrituras
Divinas. Ele também declarou que era correto sustentar que a Igreja pode errar
em seu ensino. Tão severas foram essas condenações que “clérigos e leigos foram
proibidos, sob pena de suspensão e excomunhão,” de comprar, receber ou ler a
tradução do Novo Testamento de Lucaris (Vaporis 1977: 241). No total, seis
conselhos ortodoxos orientais condenaram Lucaris e sua teologia como heréticos.
No entanto, ainda hoje ele é visto como um santo e mártir na Ortodoxia Oriental.
CANONIZAÇÃO:
Em
2009, Cyril foi canonizado como mártir pelo Patriarcado de Alexandria na Igreja
Patriarcal de São Salvador O Santificado, em Alexandria. Contudo, mais uma vez
em 2016, o Sínodo Pan Ortodoxo e o Sínodo de Jerusalém, os anátemas contra
Lucaris foram novamente endossados. O legado de Lucaris ainda hoje é uma questão
complicada para a Ortodoxia Oriental. A Confissão da fé Cristã Oriental foi
publicada em Latim no ano de 1629 em Genebra, contendo a doutrina Calvinista.
A CONFISSÃO:
Em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Cyril o Patriarca de Constantinopla,
publicou esta breve confissão para o benefício daqueles que se perguntam sobre
a fé e a religião dos gregos, os quais são da Igreja Oriental, no testemunho a
Deus e aos homens e com uma consciência sincera e sem dissimulação.
Capítulo 1 - Nós cremos em um Deus, verdadeiro, Todo-poderoso e
em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo; o Pai eterno, o Filho gerado do Pai
antes do mundo, consubstancial com o Pai; o Espírito Santo procedente do Pai
através do Filho, tendo a mesma essência com o Pai e com o Filho. Nós chamamos
essas três pessoas em uma essência de a Santíssima Trindade, para sempre ser
bendito, glorificado e adorado por toda criatura.
Capítulo 2 - Nós cremos na Santa Escritura dada por Deus, não
tendo outro autor além do Espírito Santo. Isto devemos acreditar sem dúvida
pois assim está escrito. E nós temos a mais certa palavra profética, a qual
você faz bem em prestar atenção, como a uma lâmpada brilhando em um lugar
escuro. Nós cremos na Autoridade das Sagradas Escrituras que está acima da
autoridade da Igreja.
Ser
ensinado pelo Espírito Santo é algo muito diferente do ser ensinado por um
homem; pois o homem pode através da ignorância errar, enganar e ser enganado,
mas a palavra de Deus não engana nem é enganada, nem pode errar, ela é infalível
e tem autoridade eterna.
Capítulo 3 - Nós cremos que o Deus misericordioso predestinou
Seus eleitos para a glória antes da fundação do mundo, esta eleição não é por
nenhum aspecto de obras e nenhuma outra forma impulsiva, mas somente através da
vontade e misericórdia de Deus. Desta maneira, antes da criação do mundo,
semelhantemente Deus rejeitou quem Ele queria, por um ato de reprovação; se você
considerar a conduta absoluta de Deus, a causa é a Sua vontade; mas se você olhar
para as leis e os princípios da ordem divina, os quais a providência de Deus
faz uso no governo do mundo, a causa é a Sua justiça, pois Deus é misericordioso
e justo.
Capítulo 4 - Nós cremos em um Deus Trino, o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Coisas
invisíveis chamadas anjos, e visíveis chamadas céus e todas as coisas debaixo
dele. E porque o Criador é bom por natureza, Ele criou boas todas as coisas, e
Ele não pode criar nenhum mal; se existe algum mal, este procede do Diabo ou do
homem. Pois, deve ser uma regra clara para nós, que Deus não é o autor do mal,
tampouco do pecado, e nada disso ser a Ele imputado por qualquer razão.
Capítulo 5 - Nós cremos que todas as coisas são governadas pela
providência de Deus, que devemos antes respeitar do que buscar entender. Uma
vez que está além da nossa capacidade, nem podemos realmente entender a razão
por detrás de todas as coisas. Dessa maneira supomos que é melhor adotar o
silêncio em humildade do que falar de coisas que não edificam.
Capítulo 6 - Nós cremos que o primeiro homem criado por Deus,
que estava no paraíso, caiu porque ele negligenciou o mandamento de Deus e se rendeu
ao conselho enganoso da serpente. A partir de então surgiu o pecado original para
sua posteridade, de modo que nenhum homem nasce sem que sua carne carregue este
fardo e sinta seus frutos em sua vida.
Capítulo 7 - Nós cremos que Jesus Cristo nosso Senhor
esvaziou-se de Si mesmo, Ele assumiu a natureza humana em sua própria substância.
Ele foi concebido através do Espirito Santo no ventre da virgem Maria, nasceu,
passou pela morte, foi sepultado, e ressuscitou em glória, para que pudesse
trazer salvação e glória a todos os fiéis, e que virá julgar os vivos e os
mortos.
Capítulo 8 - Nós cremos que nosso Senhor Jesus Cristo está
sentado à direita do Pai e intercede por nós, executando sozinho o ofício de
sumo sacerdote e mediador e que, de lá, cuida e governa Sua igreja, adornando-a
e enriquecendo-a com muitas bênçãos.
Capítulo 9 - Nós cremos que sem fé nenhum homem pode ser salvo.
E nós necessitamos da fé que justifica em Cristo Jesus, pela qual a vida e a
morte de nosso Senhor Jesus Cristo é conhecida através do Evangelho anunciado,
e sem a qual nenhum homem pode agradar a Deus.
Capítulo 10 - Nós cremos que a Igreja, denominada Católica,
inclui todos os verdadeiros fiéis em Cristo, aqueles que tendo partido de sua pátria
estão no paraíso e aqueles que permanecem na terra e estão ainda a caminho. O
Cabeça da Igreja (pois um homem mortal de modo algum pode ser) é somente Jesus
Cristo, e Ele mantem o leme do governo da Igreja em Suas próprias mãos. Pois,
por mais que existam na
terra Igrejas particularmente visíveis, todas têm um dirigente, o qual não deve
ser propriamente chamado [cabeça] da Igreja em particular, senão indevidamente,
pois ele é o principal membro da mesma.
Capítulo 11 - Nós cremos que os membros da Igreja Católica são
santos, escolhidos para a vida eterna, para unidade e comunhão, da qual os
hipócritas são excluídos, embora nas igrejas visíveis o joio possa ser
encontrado em meio ao trigo.
Capítulo 12 - Nós cremos que a Igreja na terra é santificada e instruída
pelo Espírito Santo, pois Ele é o verdadeiro consolador, o qual Cristo enviou
através do Pai para ensinar a verdade e expulsar as trevas, para a compreensão
do fiel. Pois é verdadeiro e certo que a Igreja na terra pode errar, escolhendo
o engano ao invés da verdade, erro do qual a luz e a doutrina do Espirito Santo
nos livra, não através do homem mortal; ainda que possa ser realizado por
intermédio do trabalho dos fiéis ministros da Igreja.
Capítulo 13 - Nós cremos que o homem é justificado pela fé e não por obras. Mas, quando dizemos pela fé nós entendemos a correlação ou a finalidade da fé, que é a justiça de Cristo, o qual, por seu poder, faz a fé apreender-se e aplicar-se em nós para nossa salvação. Dizemos isso sem nenhum detrimento das boas obras, pois a própria verdade nos ensina que as obras não devem ser negligenciadas, que elas são um meio necessário para testemunhar nossa fé e confirmar nosso chamado. Mas, a fraqueza humana mostra-se enganosa com essas obras como sendo suficientes à nossa salvação, e, por seus próprios méritos, nos capacitar a aparecer diante do tribunal de Cristo e nos outorgar a salvação; somente a justiça de Cristo, sendo aplicada ao penitente, justifica e salva o fiel.
Capítulo 14 - Nós cremos que o livre
arbítrio está morto no pecador, pois ele não pode fazer nada de bom, e tudo
quanto fizer é pecado; porém no regenerado, pela graça do Espírito Santo, seu
arbítrio é suscitado e de fato funciona, mas não sem o auxílio da graça. O
preceito, portanto, é que o homem esteja primeiro debaixo da graça, para nascer
de novo e fazer o bem; caso contrário o homem é ferido recebendo quantas
feridas um homem pode receber, como aquele que indo de Jerusalém a Jericó caí
nas mãos de ladrões, de modo que ele não pode fazer nada por si mesmo.
Capítulo 15 - Nós cremos que os Sacramentos Evangélicos da Igreja
são aqueles instituídos pelo Senhor através das Escrituras, e são dois; Ele que
os estabeleceu, os quais foram entregues a nós, não nos entregando nenhum outro.
Além disso, nós cremos que eles consistem da Palavra e dos Elementos, os quais
são os selos das promessas de Deus, e conferem graça. Mas, para o Sacramento
ser total e completo é necessário que uma substância terrena e uma ação externa
cooperem juntamente com a verdadeira fé, no uso deste elemento ordenado por
Cristo nosso Senhor, pois a deficiência da fé prejudica a integridade do Sacramento.
Capítulo 16 - Nós cremos que o Batismo é um sacramento instituído
pelo Senhor, e a menos que o homem o tenha recebido, ele não tem comunhão com Cristo,
do qual a morte, sepultamento e a gloriosa ressurreição procedem toda a virtude
e eficácia do Batismo; portanto, estamos certos que aqueles que são batizados
da mesma maneira que nosso Senhor ordenou nas Escrituras, tanto os pecados
originais quanto os atuais são perdoados, de modo que todo aquele que foi lavado
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo é regenerado, purificado e
justificado. Mas, com relação à repetição deste, não temos ordem para sermos
rebatizados, portanto, devemos nos abster dessa prática indecente.
Capítulo 17 - Nós cremos que o outro sacramento que foi ordenado
pelo Senhor é o que chamamos de Eucaristia. Pois na noite em que o Senhor se entregou,
Tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu e o deu aos seus discípulos dizendo:
Tomai, comei; isto é o meu corpo; depois, tomou um cálice e, tendo dado graças,
o deu aos discípulos, dizendo: bebei todos dele, pois este é meu sangue
derramado em favor de muitos; fazei isto em memória de mim. E Paulo adiciona,
“Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais
a morte do Senhor”. Esta é a pura e legítima fundação deste maravilhoso Sacramento,
na administração da qual professamos a verdadeira e certa presença de nosso
Senhor Jesus Cristo, presença esta, entretanto, que a fé nos oferece, não
aquela que a inventada doutrina da transubstanciação ensina. Pois nós
acreditamos que o fiel toma o corpo de Cristo na Ceia do Senhor, não rompendo
seu corpo com os dentes, mas percebendo com consciência e sentimento da alma,
visto que o corpo de Cristo não é aquele visível no Sacramento, mas aquele à
qual a fé nos oferece e recebemos espiritualmente e; de onde é verdade que, se
nós cremos, nós comemos e participamos, e se não cremos, somos destituídos de
todo o fruto deste. Nós cremos, consequentemente, que beber do cálice no Sacramento
é ser participante do verdadeiro sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, da mesma
maneira como nos afirmou do corpo; pois como o Autor ordenou a respeito do Seu
corpo, assim Ele fez a respeito de Seu sangue; mandamento o qual não deve ser
desmembrado nem mutilado, de acordo com o desejo e arbítrio do homem; mas antes
o instituto deve ser mantido como nos foi entregue. Quando, portanto, somos participantes
do corpo e sangue de Cristo dignamente e por completo, nós nos reconhecemos
como sendo reconciliados, unidos com o nosso Cabeça num mesmo corpo, com a
clara esperança de sermos co-herdeiros no Reino vindouro.
Capítulo 18 - Nós cremos que as almas dos mortos estão ou na bem-aventurança
ou na condenação, de acordo com o que cada um fez, pois tão logo que deixam
seus corpos eles avançam para Cristo ou para o inferno; pois, como um homem é
encontrado em sua morte, assim ele é julgado, e após esta vida não existe
possibilidade ou oportunidade de arrependimento; nesta vida há um tempo da
graça, portanto, aqueles que são justificados aqui não sofrerão punição no
futuro; mas aqueles que morrem, não sendo justificados, são enviados para a punição
eterna. Pelo qual é evidente que a ficção do Purgatório não deve ser admitida,
mas na verdade é determinado que cada um deve se arrepender nesta vida e obter
a remissão de seus pecados através de nosso Senhor Jesus Cristo, e será salvo.
E, deixe este ser o fim. Esta breve Confissão que anunciamos será um sinal
falado contra aqueles que têm o prazer de nos caluniar e nos perseguir. Mas
confiamos no Senhor Jesus Cristo e esperamos que Ele não renuncie à causa dos
Seus fiéis, nem que a vara da maldade dos perdidos recaia sobre os justos. Datada
em Constantinopla no mês de março de 1629. Cyril, Patriarca de Constantinopla.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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