sábado, 20 de agosto de 2022

 

A Inspiração Divina e Infalível da Palavra de Deus / James Maden Holt, M.A.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

Still Life with Bible - Vincent van Gogh (1853 - 1890), Nuenen, Outubro 1885. 

“A Palavra de Deus: Sua divina inspiração, infalibilidade, e plena suficiência para a Salvação”.

Church Association - Tratado 401 James Maden Holt, M.A 

Artigo lido no Dia de Oração da Church Association, 1 de fevereiro, 1909.

O assunto do qual fui solicitado a falar nesta manhã é um dos mais importantes dos quais podem ocupar a atenção do ser humano. Sinto-me profundamente incapaz de tratá-lo como deve ser tratado, e enquanto peço a ajuda do Espírito Santo para capacitar-me a falar algo digno da ocasião, em meu fraco esforço solicito sua boa indulgência para tratar deste tão solene assunto. Tudo que posso fazer é relembrar-vos verdades as quais vocês já estão familiarizados. Permitam-me dizer imediatamente que me dirijo a vocês como membros da Igreja e membros da Church Association aqui reunidos em contrição, oração e louvor. Meu assunto é “A Palavra de Deus: sua inspiração, infalibilidade, e plena suficiência para salvação”. Vou omitir, como inadequado ao nosso presente objetivo, questões de grande importância como veracidade e autenticidade dos livros ou a integridade e pureza do texto de nossas Bíblias. Estamos satisfeitos pela evidência interna de que nossas Escrituras não são obras de homens terrenos. Nós cremos que Jesus de Nazaré é “Cristo encarnado” e aceitamos Seu testemunho como sendo o Único Gerado do Pai, cheio de graça e verdade.

 

Consequentemente, começamos com a convicção que nossas Bíblias são designadas propriamente de Sagradas Escrituras – a Palavra de Deus. A Palavra de Deus! – uma mensagem do “Alto e Sublime que habita a eternidade, Cujo Nome é Santo!” O Todo Poderoso, Deus Eterno! - o Ser glorioso o qual “o céu e o céu dos céus não podem conter”, infinito em poder, em sabedoria, e em bondade; nosso Pai gracioso – nosso Criador, Redentor, Santificador! Damo-nos conta quando abrimos nossas Bíblias, o que estamos segurando em nossas mãos? A Palavra de Deus! Que maravilhoso Ele ter se dignado em comunicar-se conosco, que temos sido tão gravemente rebeldes contra a autoridade dEle! Viramos nossas costas para Ele, e cometemos idolatrias das piores espécies por seguir os conselhos e desejos de nossos próprios corações, nos colocando no trono que deveria ser somente dEle por direito. “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o Senhor tem falado:” e o que Ele disse para Israel é uma lamentável verdade sobre nós. Ele vê quem somos. Vamos louvá-Lo porque Ele enviou Sua Palavra - “a Palavra de Sua graça” - para nos curar. Na presente ocasião, nossa experiência da mui elevada benevolência de nosso Pai Celestial durante o ano passado pode muito bem nos estimular a profunda contrição devido à fraqueza de nossa fé e de nossa apreciação de Sua Palavra, assim como à sincera gratidão por nossa libertação e por Suas mui preciosas promessas: “E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” Então, façamo-lo agora: “Ofereça a Deus em sacrifício a sua gratidão, cumpra os seus votos para com o Altíssimo”. Deus tem falado em Sua santidade! E nossas Bíblias transmitem-nos, pela ação humana, a revelação que tem se alegrado em fazer-nos conhecida:

 

O Seu caráter, propósito, sabedoria e poder; familiarizando-nos com Seus pensamentos – divulgando para nós, pecadores, não apenas Sua perfeita santidade, justiça e verdade, mas também   o maravilhoso amor pelo qual, nas riquezas de Sua graça, proveu antes da fundação do mundo, para a reconciliação, a justificação e a santificação do principal dos pecadores. Apenas pense nisso! A posse de Sua Palavra nos mostra que Ele, que “habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver”, que “Ele é o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos” – “lembrou-se de nossa baixeza; porque a sua benignidade dura para sempre”! Vamos nos humilhemos diante dEle, assim como lemos que "toda a humanidade é como a relva, e toda sua glória como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre". Esta é a Palavra que pelo Evangelho vos foi anunciada. Nós afirmamos que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento têm o título de Palavra de Deus. Esse título implica que são inspirados, soprados pelo próprio Deus, não sabemos de que forma, mas foram transmitidos a nós por homens os quais o Espírito Santo, conforme lhe aprouve, capacitou para comunicar sua vontade; para proclamar a outros o que Ele lhes revelou. Nos narraram coisas que nós não poderíamos saber se Ele não lhes tivesse revelado. Embora não saibamos o número de homens por cuja ação a Bíblia foi composta, identificamos que todos contam a mesma história a respeito de Deus e do homem caído – do pecado e sua cura. Isso atesta fortemente a declaração de que o Livro é inspirado, como evidência do trabalho de uma só mente; e sua autoridade Divina é depois confirmada pelo fato de descrever a santidade de Deus e a perfeita pureza de Sua lei moral, de uma maneira que vai além da compreensão da natureza caída do homem, e revela os pensamentos e os intentos de nossos corações de um modo profundamente humilhante para os filhos dos homens.

 

O Velho Testamento nos é transmitido pela custódia dos Judeus, os quais resguardaram o texto dos escritos sagrados com grandíssima reverência; e assim aceitas por nosso Senhor Jesus Cristo e Seus nomeados arautos como sendo a Palavra de Deus. O Novo Testamento coloca em nossas mãos livros reconhecidos pela Igreja Primitiva como escritos por homens que arriscaram suas vidas pelo nome do Senhor Jesus – homens cuja maioria, nos dias de Sua encarnação, eram Seus companheiros constantes e foram comissionados diretamente por Ele "para ensinar todas as nações". Afirmamos a inspiração de ambos os Testamentos. Como o Espírito de Deus determinou isso nós não sabemos. Indubitavelmente foi em vários métodos, dividindo a cada homem as porções como lhe aprouve. Nós segmentamos as “visões e revelações do Senhor”. Os Cinco Livros de Moisés transbordam de circunstâncias pelas quais o Senhor falou aos Patriarcas, ou aos líderes e Juízes do povo Hebreu. Os profetas todos falaram em nome do Senhor, e quase a totalidade deles utilizou a frase “Assim diz o Senhor”. No Novo Testamento, contamos com as próprias palavras do Senhor Jesus, registradas por São João: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”  “Quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade... e vos anunciará o que há de vir.” Assim, pela autoridade da própria Escritura cremos em sua inspiração e, portanto, a chamamos de Palavra de Deus; e essa convicção é assegurada pelo testemunho do Espírito no coração dos crentes.

 

Preciso acrescentar exemplos em que o Senhor Jesus sempre tratou o Antigo Testamento como a Palavra de Deus? Quando Ele disse “Está escrito”, pode alguém duvidar que Ele considerou a passagem citada do Antigo Testamento como Palavra de Deus? Quando Ele citou o Salmo 110, o iniciou desta forma: “O próprio Davi disse pelo Espírito Santo”. Como registrado em João 13:18 e 25:25, o Senhor atribuiu acontecimentos de sua própria vida diretamente às predições das Escrituras Hebraicas, assim como Ele expôs aos viajantes de Emaús os acontecimentos referentes a Ele próprio escritos por Moisés e os Profetas. Davi afirmou inspiração quando disse (2 Samuel 23:2): “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra está na minha boca”. Mateus, Lucas, João, Pedro, Paulo e o escritor da Epistola aos Hebreus, todos juntam-se em atribuir inspiração aos Profetas do Antigo Testamento. Pedro descreve-os como “homens santos de Deus” que “falavam como se fossem movidos pelo Espírito Santo”, e Paulo diz “Bem disse o Espírito Santo por meio do Profeta Isaías”.

 

Preciso dizer mais? Apelo à sua própria experiência. Sem dúvidas, a inspiração das Escrituras nos é comprovada. Meu tema também requer que me estenda para tratar sobre a infalibilidade da Palavra de Deus. Como poderia ser de outra maneira? As Escrituras Sagradas são registradas, como coloca São Paulo, “com palavras que... o Espírito Santo ensina”, assim sua infalibilidade é indiscutivelmente estabelecida. Sendo assim, tomemos cuidado em atribuir infalibilidade a nós mesmo. Nós podemos interpretar mal a Palavra, mas isso não prejudica sua infalibilidade e autoridade. “Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu”. Cuidemos para que nossa atitude seja humildade e em profunda, dependência de Deus. “Abra os meus olhos!”. “Dei-me entendimento para que eu possa saber Teus testemunhos!”. “Aquilo que eu não enxergo, ensina-me!”. Aceitar as Escrituras como a Palavra de Deus é proclamar sua infalibilidade. Não obstante, o objetivo do meu tema é provavelmente insistir na infalibilidade da Palavra como última instância de julgamento, em contraste com o que é afirmado pelo Bispo de Roma ou pela Igreja. Nenhum homem familiarizado com a História do Cristianismo e, especialmente, com a dos Papas, pode aceitar a doutrina absurda do Concílio do Vaticano. A oposição dos teólogos católicos romanos mais instruídos e sua recusa em concordar com a decisão do Concílio de 1870 demonstra que isso é considerado insustentável mesmo por papistas bem informados. É fatal para a identidade da Comunhão Romana como Igreja Cristã. O que diz a Escritura? “À lei e ao testemunho, se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles”. O homem que expressa o que Deus disse pode reivindicar infalibilidade, não por si mesmo, mas pela Palavra de Deus. Repudiamos a alegada infalibilidade do Bispo de Roma e a da Igreja. O que é a igreja? “Uma congregação de homens de fé” – mas homens falíveis. Onde reside a infalibilidade? A aprovação católica é na prática um mito.

 

Se isso fosse verdade, seria apenas uma aprovação feita por homens falíveis. Não há dúvida de que se supõem que a aprovação é feita por homens em quem o Espírito Santo habita e opera; mas que modo essa alegação pode ser estabelecida, exceto pela concordância com a Palavra escrita? Não há joio nos melhores campos de trigo? “Concílios Gerais podem errar, e têm errado, mesmo em coisas pertinentes a Deus”; e como membros leais da Igreja da Inglaterra, nós afirmamos que “coisas ordenadas por eles, como necessárias para salvação, não têm força nem autoridade, a menos que sejam declaradas que foram extraídas da Sagrada Escritura”. Somente assim elas têm força e peso, pois só a Palavra de Deus é infalível. “Pois exaltaste acima de todas as coisas o teu nome e a tua palavra”. Até Balaão soube que era melhor não duvidar do poder e da fidelidade de Deus (Números 23:19). Conhecimento, fidelidade e poder são pilares da infalibilidade. O próximo ponto é sobre a plena suficiência da Sagrada Escritura para a salvação. Esse é o princípio no qual a Reforma Inglesa foi baseada. “A Escritura Sagrada contém todas as coisas necessárias para a salvação; de modo que tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma seja crido como artigo de Fé ou julgado como requerido ou necessário para a salvação”.

 

A importância atribuída pela nossa Igreja ao estudo da Bíblia e sua apreciada e plena suficiência podem ser especialmente notadas na posição predominante atribuída às Sagradas Escrituras no Ordinal. A Palavra de Deus é estabelecida como a fonte na qual o clero deve derivar alimento espiritual para si mesmo e para “a família do Senhor”. Essa é a doutrina da Igreja da Inglaterra, porque é o ensinamento do Espírito Santo. Ele assegura a suficiência de Sua Palavra – isto é, a suficiência de Seu plano e propósito de salvação dos pecadores, como revelado nas Escrituras. Escrevendo pela pena do Apóstolo Paulo, o Espírito Santo diz a Timóteo concernente ao Antigo Testamento: “Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus”; e concernente ao Novo Testamento, escrevendo aos Romanos: “O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”. Ambas passagens associam salvação com fé, e “fé”, diz o Apóstolo, “é graça de Deus”; isto “é, pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. A Palavra contém tudo que um pecador precisa saber sobre a necessária saúde de sua alma; e o fato central revelado na Palavra é o oferecimento do corpo de Jesus Cristo de uma vez por todas – a única oferta pela qual ele aperfeiçoou para sempre os que são santificados. Toda a Bíblia é repleta disto.

 

“A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (Atos 10:43); “porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (Apocalipse 19:10). O Senhor Jesus, antes de ser ascendido às alturas, relembrou aos seus discípulos o que os havia dito, que todas as coisas deveriam ser cumpridas a respeito de Si mesmo, as quais estavam escritas na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos – as três grandes divisões da Escritura Hebraica. Para Seus inimigos ele tinha dito: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam”.

 

O conhecimento da salvação em Jesus Cristo é o que mais necessitamos; e esse é o tema da Palavra. A Palavra escrita revela a Palavra Viva que era no início com Deus e era Deus, e que veio para “buscar e salvar o que se havia perdido”. A plena suficiência da Palavra de Deus é encontrada na total suficiência do Salvador de quem ela fala, e na total suficiência de Deus no Espírito Santo, o verdadeiro vigário de Cristo. Esta é a voz do Espírito. Ele opera nela e por ela. “Que opera em nós” para ouvir e aprender Sua boa vontade, “repartindo particularmente a cada um como quer”. A conclusão de todo esse assunto é que a Bíblia revela a salvação a qual é inteiramente do Senhor; e como diz na Homilia “Sobre a miséria de toda a humanidade”:

 

“O Espírito Santo escrevendo as Sagradas Escrituras não está nada mais do que diligentemente demolindo a vanglória e orgulho do homem”. Na sabedoria de Deus, a Palavra de sua graça, em sua inspiração, em sua infalibilidade, em sua total suficiência, cumpre seu propósito de modo que nada deve gloriar-se em Sua presença, mas, de acordo com o que está escrito, “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor”. Deus nos concede graça diversa para realizar, valorizar e guardar o tesouro que possuímos em Sua Palavra, e nos capacita a dizer com Romaine: “A cada leitura da Bíblia, ela se torna mais preciosa para mim, como para Davi; porque não é apenas a descoberta, mas também a transmissão das riquezas insondáveis de Cristo; estas são reveladas na Palavra e aplicadas pela Palavra”.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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