sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 

Liturgia Reformada Escocesa / John Knox.

John Knox escreveu a liturgia do Livro da Ordem Comum, muitas vezes referido como a "Liturgia de Knox". Este livro foi aprovado e adotado pela Assembleia Geral em 1564 e usado na Escócia até que o diretório de adoração de Westminster apareceu em 1645. Em 1564, A Liturgia de John Knox substituiu o segundo Livro de Oração Comum de Eduardo VI (edição 1552), como o livro de orações e liturgia uniforme da Igreja Reformada da Escócia; Knox chegou a uma compreensão clara deste princípio de culto durante o seu exílio em Genebra. 

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

A severa perseguição dos protestantes na Escócia forçou-o, e muitos outros, a fugir. Embora retornando ocasionalmente à Escócia, Knox esteve em Genebra por aproximadamente seis anos, de 1554 a 1559. Knox aprendeu com Calvino a concentrar o foco do culto nas escrituras e não adicionar elementos que eram as invenções dos homens. Apenas os elementos de culto prescritos pela Escritura foram admitidos, como a oração, a leitura e a pregação das Escrituras, o canto dos Salmos e a administração adequada dos sacramentos. Ele também usou Liturgia Sacra de Valerian Poullain (Poullain foi o sucessor de Calvino em Strassburg), traduzindo a confissão geral de pecados e compondo sua própria oração de consagração dos elementos da Ceia. Esta era a ordem e estrutura do culto dominical Escocês:

 

ORAÇÃO MATUTINA.

 


*Uma confissão de pecados. *Uma oração por perdão e declaração de absolvição. *Um salmo métrico. *Uma oração pela iluminação. *A Lição das Escrituras e o Sermão. *A longa oração e a oração do Senhor. *O Credo dos Apóstolos (dito pelo ministro sozinho). *Um salmo métrico. *Uma Bênção (1 Coríntios ou Números).

 


CEIA DO SENHOR (UMA VEZ AO MÊS).

 


*Um salmo cantado enquanto os elementos eram preparados. *As palavras da instituição. *A exortação. *Sursum corda. *A Consagração. *A fração e entrega. *A Comunhão enquanto a Escritura é lida. *A oração pós-comunhão. *Salmo 103. *A bênção. A liturgia da igreja da Escócia ou O Livro de Ordem Comum de John Knox como prescrito pela assembleia geral, e usada pela igreja da Escócia durante e depois da reforma. “Nosso Livro de Ordem Comum.” - Primeiro Livro de Disciplina. “Todo ministro deve usar a ordem contida nele, em orações, casamento e ministração dos sacramentos.”  Ato da Assembleia, 26 de dezembro de 1564.


A Ordem e Modo de Administração da Ceia do Senhor.


No dia em que a Ceia do Senhor for ministrada, comumente celebrada uma vez ao mês, ou quando a congregação julgar necessário, o ministro deverá usar as seguintes palavras. Vamos lembrar, queridos irmãos, e considerar como Jesus ordenou a nós a sua santa ceia, de acordo com o Apóstolo Paulo nos diz no capítulo onze da Primeira Epístola aos Coríntios, dizendo: Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo:


Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. (1 Coríntios 11.23-29, ACF. Almeida Corrigida Fiel) feito isto, o ministro procederá com a exortação. Queridos irmãos no Senhor, agora que estamos reunidos para celebrar a santa comunhão do corpo e sangue do nosso Salvador Cristo, consideremos as palavras de S. Paulo, que exorta todas as pessoas diligentemente a se examinarem antes que comam daquele pão, e bebam daquele cálice.


Pois grande é o benefício, que o coração penitente e cheio de fé viva; recebe naquele santo sacramento (pois espiritualmente  comemos a sua carne e bebemos o seu sangue, e habitamos em Cristo, e Cristo em nós, somos um com Cristo e Cristo conosco), portanto, grande é o perigo se recebermos o mesmo indignamente; pois seremos culpados do corpo e sangue de Cristo nosso Salvador; comemos e bebemos para nossa própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor; atrairemos a ira de Deus contra nós, e o provocamos para que nos castigue com inúmeras doenças e tipos de morte. Portanto, em nome e pela autoridade do eterno Deus, e seu filho Jesus Cristo, eu excomungo desta mesa todos os blasfemadores de Deus, todos os idólatras, todos os assassinos, todos os adúlteros, todos que vivem em malícia e inveja, todos os desobedientes de pai e mãe, de príncipes ou magistrados, de pastores e pregadores, todos os ladrões e enganadores do seu próximo, e, finalmente, todos cujas vidas lutam contra a vontade de Deus; exortando-os, que responderão na presença d’Ele que é justo juiz, que não presumam em profanar esta santa mesa. E declaro que não excluam nenhuma pessoa penitente, independente de quão grave sejam seus pecados no passado, e que sentiram em seus corações pesar e verdadeiro arrependimento.


Nem isto é pronunciado contra aqueles que aspiram a uma perfeição maior do que podem alcançar nesta vida atual; porque sentimos em nós mesmos tamanha fragilidade e miséria, que não temos a nossa fé perfeita e constante como deveríamos, podendo as vezes não confiar na bondade de Deus, pela nossa corrupta natureza, e não nos doamos para o serviço de Deus, nem temos o fervente zelo de anunciar sua glória, como requer o nosso dever, sentindo a rebelião em nós mesmos, que temos a necessidade de lutar diariamente contra as cobiças de nossa carne; mesmo assim, vendo que o Senhor agiu em misericórdia conosco, que ele escreveu o seu Evangelho em nossos corações, para que sejamos preservados de cair no desespero e incredulidade; e vendo que ele nos deu o desejo de renunciar nossas próprias paixões, em busca de sua justiça, e guardando os seus mandamentos, estamos certamente assegurados que, aquelas muitas imperfeições em nós não serão usadas contra nós, para que Ele nos considere indignos  de vir à sua mesa espiritual; para o fim de que não nos orgulhemos que somos justos em nós mesmos, mas, pelo contrário, que viemos buscar a nossa vida e perfeição em Jesus Cristo, reconhecendo que éramos merecedores de sermos filhos da ira e condenação.


Consideremos que este sacramento é um singular medicamento a todas as pobres criaturas, uma ajuda confortadora para ajudar as almas fracas; que o nosso Senhor requer outra dignidade do que reconhecer os nossos pecados e imperfeições. Então, para o fim que sejamos dignos participantes dos seus méritos e benefícios de conforto (que é o verdadeiro comer de sua carne e beber o seu sangue), não deixemos nossas mentes serem perturbadas com estas coisas terrenas e corruptas (que vemos com os nossos olhos e sentimos com nossas mãos), e, erroneamente, buscar Cristo corporalmente presente nelas, como se Cristo estivesse preso no pão e vinho, ou que estes elementos fossem verdadeiramente transformados na substância de sua carne e sangue; mas a única maneira de preparar as nossas almas para receber fortalecimento, alívio e suas substâncias vivificantes, é elevarmos as nossas mentes pela fé acima de todas as coisas terrenas e palpáveis, e que entremos nos céus, que achemos e recebamos a Cristo, onde ele habita com toda certeza, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, na incompreensível glória do Pai; que seja todo louvor, honra, e glória, agora e para sempre. Amém. Ao terminar a exortação, o ministro descerá do púlpito, e se assentará à mesa, da mesma forma, todo homem e mulher fará o mesmo, tomando lugares que seja conveniente; então ele toma o pão, dá graças, dizendo as seguintes palavras em efeito: Ó Pai de misericórdia, e Deus consolador, vendo que todas as criaturas reconhecem e confessam a ti como Governador e Senhor, nós, que somos as obras primas de suas mãos para, em todo o tempo, reverenciar e magnificar tua gloriosa Majestade:


Primeiramente, tu nos criaste à tua imagem e semelhança; mas acima de tudo têm nos libertado da eterna morte e condenação, que Satanás conduziu a humanidade pelos meios do pecado, da escravidão, nenhum homem ou anjo foi capaz de tornar-nos livres; mas tu, ó Senhor, rico em misericórdia, e infinita bondade, providenciou redenção para estarmos de pé diante do teu mui amado Filho, que de grande amor, se ofereceu para ser feito homem, igual a nós em todas as coisas, contudo, livre de pecado, em seu corpo para receber a punição de nossas transgressões, por sua morte para fazer satisfação a tua justiça, e pela sua ressurreição destruir o autor da morte; e trazer de volta à vida o mundo e toda descendência de Adão que foram, de forma justa, privados. Ó Senhor, reconhecemos que nenhuma criatura é capaz de compreender o comprimento e largura, a profundidade e a altura do teu excelente amor, que te moveu a mostrar misericórdia onde ninguém merecia, a prometer e dar vida onde a morte obteve a vitória, para receber-nos em tua graça quando não podíamos fazer nada senão rebelar-se contra a tua justiça. Ó Senhor, a cegueira da nossa natureza corrupta não nos fará compreender o peso destes teus amplos benefícios; todavia, segundo o mandamento de Jesus Cristo, nosso Senhor, apresentamo-nos a esta sua mesa, que deixastes para ser usada em memória de sua morte, até a sua vinda, para declarar e testemunhar perante o mundo, que somente por ele nós recebemos liberdade e vida; que somente por ele somos reconhecidos como teus filhos e herdeiros; que somente por ele temos acesso ao trono da graça. Que somente por ele somos levados ao seu reino espiritual para comer e beber em sua mesa, com quem temos nossa conversação atualmente no céu, e por quem nossos corpos serão levantados novamente do pó, e serão colocados com ele na eterna alegria que tu, ó Pai de misericórdia, preparaste para os teus eleitos antes da fundação do mundo.


E diante destes benefícios inestimáveis, nós reconhecemos e confessamos ter recebido da tua graça e misericórdia livremente, pelo teu único Filho amado Jesus Cristo: para o qual, a tua congregação, movida pelo teu Santo Espírito, renderá todas as graças, louvores, e glória, para todo o sempre. Amém. Feito isto, o ministro partirá o pão, e entregará ao povo, que distribuirá e dividirá entre eles mesmos, de acordo com o mandamento do nosso Salvador, do mesmo modo, o cálice. Durante o qual deverá ser lido alguma porção das Escrituras, que fala sobre a morte de Cristo, com o propósito que nossos olhos e sentidos não estejam ocupados somente  com os sinais exteriores  do pão e vinho, que são chamados de palavra visível, mas que nossos corações e mentes estejam inteiramente fixos na contemplação da morte do Senhor, que através deste santo sacramento é representado; e depois deste feito, o ministro dará graças dizendo:


MISERICORDIOSO PAI.


Rendemos a ti todo o louvor, graças e glória, pois agradou a ti, de tuas grandes misericórdias, conceder a nós, miseráveis pecadores, tão excelente dom e tesouro, de sermos recebidos na comunhão e companhia do teu querido Filho Jesus Cristo nosso Senhor, que por nós venceu a morte, e deu-nos comida necessária para a vida eterna. E agora, pedimos-te também, ó Pai celestial, que nos conceda este pedido, para que nunca permitas que sejamos tão cruéis a ponto de esquecer tão grandes benefícios; antes imprima e fixe-os em nossos corações, para que possamos crescer e progredir diariamente mais e mais na verdadeira fé, a qual é manifesta continuamente através de todos os tipos de boas obras; ó Senhor, confirme-nos nestes dias diante dos perigosos e fúria de Satanás, para que possamos permanecer e continuar constantemente na confissão da mesma, para o avanço da tua glória, que és Deus sobre todas as coisas, louvado para sempre. Assim seja. Amém.

 

A liturgia está terminada, o povo cantará o 103º Salmo, ou outro de ação de graças; quando terminado, uma das bênçãos deverá ser dita, então eles devem levantar-se da mesa e partir. Se alguém maravilhar-se com o fato de seguirmos esta liturgia, diferente de qualquer outra, na administração desse sacramento, considere diligentemente que, antes de tudo, renunciamos totalmente o erro dos papistas; em segundo lugar, restauramos ao sacramento a sua própria substância e a Cristo o seu devido lugar; e quanto às palavras da Ceia do Senhor, nós as ensinamos, não porque elas deveriam mudar a substância do pão ou vinho, ou que a repetição delas, com a intenção que o sacramento será um sacrifício (como os papistas falsamente acreditam), mas elas são lidas e pronunciadas para nos ensinar como se comportar neste momento, e que Cristo testemunhará a nossa fé, por assim dizer, com a sua própria boca, ele ordenou estes sinais para nosso uso espiritual e conforto; portanto, examinai a vós mesmos, de acordo com a ordem de São Paulo, e preparem as vossas mentes, que sejais participantes dignos de tão grandes mistérios; depois, tomando pão, damos graças, repartimos e distribuímos, como Cristo, nosso Salvador, nos ensinou: finalmente, ao término da administração, damos graças novamente, segundo o seu exemplo. De modo que sem sua palavra e garantia não há razão nenhuma para realizar esta ação sagrada.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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