A Sucessão Protestante do Trono Inglês – Rev. J. P. Watts.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
Há pouco tempo a Coroa da Inglaterra passou de nosso falecido Soberano,
cuja memória amamos, ao seu legítimo herdeiro, a quem recebemos como Rei Eduardo
VII. Este evento deixou em evidência os termos e condições que sustentam a
coroa inglesa, os quais provocaram uma grande controvérsia sobre os assuntos da
realeza; uma controvérsia de natureza e valor com grandes implicações. 350 anos
atrás, a Reforma fez desta nação um País Protestante entre as demais nações do
mundo, porém, pelo menos a princípio, não ficou suficientemente claro se a
Coroa da Inglaterra só poderia ser herdada por um protestante. Então, a experiência ensinou aos nossos antepassados
que se este País desejasse manter seu caráter protestante, mantendo-se fiel aos
princípios da Reforma, a lei deveria tornar impossível que um Romanista sentasse
no trono.
Antes da aprovação da lei que estabeleceu a sucessão à Coroa, no início
do reinado de William e Mary, em 1688, o Trono da Inglaterra havia sido ocupado
por três soberanos que, em alguma medida, estiveram sob a influência do papado,
o que colocou em perigo a segurança nacional. Carlos I foi casado com uma
romanista e tinha um capelão romano na Corte; consequentemente, todo seu
reinado esteve sob influência papista. Charles II, seu filho, era um papista
disfarçado, apesar de seu disfarce protestante. James II, seu sucessor, foi um
papista declarado. Em sua coroação, comprometeu-se a preservar as leis e
proteger a Igreja, um compromisso saudado entusiasticamente por todo o País.
Seus súditos decepcionados logo aprenderam que a palavra de um rei católico,
cercado por conselheiros papais, não era confiável. O rei reivindicou o direito
de dispensar seus súditos da obrigação de obedecer aos Atos do Parlamento e,
então, encheu os bispados, decanatos e escolas com papistas declarados. Juízes
e oficiais do Exército também passaram a ser escolhidos por este mesmo critério,
e Padre Peter, confessor do Rei, ficou conhecido como “o poder por trás do
Trono”. Dessa forma, uma nação exasperada pela traição do Rei, convidou
William, Príncipe de Orange, e sua esposa Mary, para que defendesse a religião
protestante, as leis e a liberdade do Reino.
Com sua ascensão ao trono, a Constituição foi restabelecida, agora sob
o princípio de que o Trono deveria ser ocupado por protestantes, o qual não
poderia estar casado com um (a) papista, nem manter qualquer comunhão com a
Igreja de Roma. Em qualquer destes casos, a lei estabelece que seus súditos
estão absolvidos de seus votos de lealdade, e o Rei perde a Coroa, devendo ser
substituído por “um
protestante”. Tais condições foram
sempre consideradas como de grande importância, a ponto de que desde a Revolução
de 1688, todo soberano ter sido intimado a, antes de qualquer outro voto,
declarar abertamente seus valores protestantes e repudiar os princípios e
práticas romanistas secretamente mantidas por Charles II, e que causaram tanta
miséria, conflito e derramamento de sangue no reinado seguinte. Esta foi,
essencialmente, uma medida de precaução, a fim de garantir a liberdade do País.
Desde então, tornou-se uma condição legal para ter direito a Coroa. Assim, quando
o Rei Eduardo VII encontrou seu primeiro Parlamento na Câmara dos Lordes, foi
obrigado a subscrever a Declaração Estatutária Real contra os principais dogmas
da Igreja Católica Romana, incluindo a Mariolatria, a Transubstanciação e o sacrifício
da Missa, e também contra “qualquer evasiva, equivoco ou reserva mental” que se
possa ter sido autorizada pelo papado.
As
palavras deste juramento assinado pelo Rei, e que lhe fora entregue pelo Lord
Chanceler em 14 de Fevereiro de 1901, são as seguintes: “Eu, EDWARD, solene e sinceramente,
na presença de Deus, professo, testifico e declaro que acredito que no
Sacramento da Ceia do Senhor não há transubstanciação dos elementos do Pão e do
Vinho no Corpo e Sangue de Cristo, seja na Consagração ou após, independente de
quem a faça; e que a Invocação ou Adoração da Virgem Maria e de qualquer outro
santo, bem como o sacrifício da Missa, como agora praticados na Igreja de Roma,
são superstição e idolatria. Solenemente, na presença de Deus, professo, testifico
e declaro que faço esta Declaração, em todos os seus detalhes, segundo o significado
simples e ordinário das palavras que agora leio, e isto como são compreendidas
pelos protestantes, sem qualquer evasiva, equívoco ou reserva mental de qualquer
natureza, e sem qualquer Dispensa concedida pelo Papa ou por qualquer outra
autoridade, e sem cogitar poder ser absolvido por Deus ou pelos homens, ou
dispensado desta declaração, ainda que em parte, mesmo que o Papa ou qualquer
outra pessoa, grupo ou poder de qualquer natureza possa vir a declara-la sem
valor ou relativa.”
Votos de coroação de sua majestade o
rei Eduardo VII
Todavia,
esta Declaração Real contra o Papado é considerada ofensiva aos súditos do Rei
que pertencem à Igreja Romana. O Cardeal Vaughan, o chefe da Igreja Romana neste
país, disse aos fiéis de sua diocese, por meio de uma circular, que "Por
causa de suas mais estimadas convicções, os católicos romanos ficaram entristecidos
e com o coração ferido por esta mais recente renovação do que o Cardeal Wiseman
descreve como o Ato Nacional de Apostasia, repetido na coroação de cada
Soberano durante os últimos duzentos anos”. Nesta circular nos é dito que a
linguagem da Declaração é um “anacronismo” e o Cardeal a descreve como “um formulário
blasfemo”, interpretado como “um ultraje cometido contra nosso Senhor Jesus
Cristo”, e Sua Mãe “Imaculada” - “uma ofensa cometida contra Sua Divina
Majestade” e um “insulto gratuito” a todos os súditos católicos romanos. Um dos
membros irlandeses do Parlamento a descreveu como “o pior insulto já planejado
contra o credo de milhões de súditos de Sua Majestade”. Um enorme e deliberado
esforço está em curso para alterar e suavizar as palavras da Declaração, a
ponto de remover a barreira para qual foi projetada a erguer, a saber, excluir
um romanista do trono Inglês.
Na
Câmara dos Lordes, Lord Salisbury chegou ao ponto de conseguir dar ao Partido
Papal uma Comissão Conjunta para as duas Casas do Parlamento, a fim de poderem
discutir sobre quais alterações poderiam ser feitas no texto da Declaração
contra o Sacrifício idolatra e supersticioso da Missa. Assim, existe um grave
perigo de perdermos nossas liberdades protestantes adquiridas com grandes
custos. É chegado o momento de todos os que acreditam que nosso prestígio nacional
e a nossa prosperidade temporal estão ligados a nossa identidade protestante, o
que a história prova conclusivamente, valorizarem-se ao ponto de nossos representantes
no Parlamento, e os membros do governo de Sua Majestade, sentirem que devem
manter suas mãos longe de qualquer tentativa de abalar o caráter protestante do
Trono. Se os protestantes estão em um país católico romano, não são obrigados a
se submeterem às leis e regulamentos desse país? Eles podem não gostar de
algumas das reivindicações do Vaticano, mas quão absurdo seria, por exemplo, se
aqueles que pertencem à Igreja Reformada na Espanha causassem um rebuliço por
causa da expressão de fé pessoal de seu Soberano, e exigissem que a exigência
dessa expressão de fé fosse apagada da lei. Em que país do mundo é permitido a
um católico romano mais liberdade para desfrutar sua religião do que neste país
protestante? E caso os protestantes resolvessem expor a linguagem católica
romana, não essa expressa por indivíduos isolados, mas sim aquela encontrada em
seus padrões de fé, facilmente demonstrariam que a linguagem usada na
Declaração é suave se comparada com os anátemas lançados contra todos que diferem
do credo daqueles.
Alguém
pode ficar tentado a dizer ao opositor romano que lhe seria melhor assumir que seu
próprio telhado é de vidro. Que se proponha outra linguagem, mais agradável aos
romanistas, desde que a substância e a essência da ofensa permaneçam. A
verdadeira ofensa é que um romanista não pode usar a coroa da Inglaterra. Mas
isso não é tudo. Além da Declaração, há uma exigência de que o Soberano, antes
da Coroação, jure solenemente manter a Religião Protestante Reformada neste país.
Isso também deve ser mantido, ainda que admitamos a aptidão de um católico
romano para se tornar soberano deste reino. Há aqueles que, em nome da
"caridade" gostariam de ignorar os fatos históricos de quando nosso
país estava sob o calcanhar de Roma. Alegam que o passado sombrio se foi e que
nós erramos com os Romanistas dos dias atuais ao mantermos uma atitude de
suspeita. Quando Roma se arrepender e abandonar seus maus caminhos, mas não
antes disso, poderemos nos dar ao luxo de esquecer o passado. O Church Times, jornal
da ala mais radical da High Church, descreve o Juramento Protestante exigido do
Rei na abertura do Parlamento como pertencendo "a um período em que o
espírito antipapista foi despertado por eventos circunstanciais", e diz
"o que agora se tornou obsoleto, e ninguém além dos fanáticos deseja vê-lo
revivido".
O
editor de Life of Faith disse bem que “eventos circunstanciais” são “um bom
eufemismo para os erros e perseguições cruéis infligidos por Roma aos nossos
antepassados protestantes”. Um valioso artigo que saiu em uma edição recente do
The English Churchman, com muita força declara que “a extrema gravidade da
posição para a qual os poderes do Vaticano forçaram o governo de Sua Majestade,
esperamos, será rapidamente notada por protestantes leais em todo o Reino. A
concessão feita ao papado no início do novo reinado está repleta de mau
presságio. Caso as sensibilidades católicas romanas dominem a política dos
conselheiros responsáveis pela Coroa, os ingleses nascidos livres devem exigir
saber o motivo; pois, independentemente dos custos, eles valorizam as liberdades
civis e religiosas conquistadas para eles pelos próprios homens que elaboraram
a Declaração de Direitos, a Declaração e o Juramento de Coroação; e devem se
recusar a colocar essas liberdades em perigo, para tranquilizar - mesmo que por
um breve período - os inimigos implacáveis da terra da Reforma e da Revolução”.
Este artigo foi escrito em 1906, pelo Pelo Reverendo J.P. Watts, reitor da St Peterʼs, Thetford.
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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