sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 

A Sucessão Protestante do Trono Inglês – Rev. J. P. Watts.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

Coronation of Queen Victoria, 28 June 1838 by Sir George Hayter.

Há pouco tempo a Coroa da Inglaterra passou de nosso falecido Soberano, cuja memória amamos, ao seu legítimo herdeiro, a quem recebemos como Rei Eduardo VII. Este evento deixou em evidência os termos e condições que sustentam a coroa inglesa, os quais provocaram uma grande controvérsia sobre os assuntos da realeza; uma controvérsia de natureza e valor com grandes implicações. 350 anos atrás, a Reforma fez desta nação um País Protestante entre as demais nações do mundo, porém, pelo menos a princípio, não ficou suficientemente claro se a Coroa da Inglaterra só poderia ser herdada por um protestante.  Então, a experiência ensinou aos nossos antepassados que se este País desejasse manter seu caráter protestante, mantendo-se fiel aos princípios da Reforma, a lei deveria tornar impossível que um Romanista sentasse no trono.

Antes da aprovação da lei que estabeleceu a sucessão à Coroa, no início do reinado de William e Mary, em 1688, o Trono da Inglaterra havia sido ocupado por três soberanos que, em alguma medida, estiveram sob a influência do papado, o que colocou em perigo a segurança nacional. Carlos I foi casado com uma romanista e tinha um capelão romano na Corte; consequentemente, todo seu reinado esteve sob influência papista. Charles II, seu filho, era um papista disfarçado, apesar de seu disfarce protestante. James II, seu sucessor, foi um papista declarado. Em sua coroação, comprometeu-se a preservar as leis e proteger a Igreja, um compromisso saudado entusiasticamente por todo o País. Seus súditos decepcionados logo aprenderam que a palavra de um rei católico, cercado por conselheiros papais, não era confiável. O rei reivindicou o direito de dispensar seus súditos da obrigação de obedecer aos Atos do Parlamento e, então, encheu os bispados, decanatos e escolas com papistas declarados. Juízes e oficiais do Exército também passaram a ser escolhidos por este mesmo critério, e Padre Peter, confessor do Rei, ficou conhecido como “o poder por trás do Trono”. Dessa forma, uma nação exasperada pela traição do Rei, convidou William, Príncipe de Orange, e sua esposa Mary, para que defendesse a religião protestante, as leis e a liberdade do Reino.

Com sua ascensão ao trono, a Constituição foi restabelecida, agora sob o princípio de que o Trono deveria ser ocupado por protestantes, o qual não poderia estar casado com um (a) papista, nem manter qualquer comunhão com a Igreja de Roma. Em qualquer destes casos, a lei estabelece que seus súditos estão absolvidos de seus votos de lealdade, e o Rei perde a Coroa, devendo ser substituído por “um protestante”. Tais condições foram sempre consideradas como de grande importância, a ponto de que desde a Revolução de 1688, todo soberano ter sido intimado a, antes de qualquer outro voto, declarar abertamente seus valores protestantes e repudiar os princípios e práticas romanistas secretamente mantidas por Charles II, e que causaram tanta miséria, conflito e derramamento de sangue no reinado seguinte. Esta foi, essencialmente, uma medida de precaução, a fim de garantir a liberdade do País. Desde então, tornou-se uma condição legal para ter direito a Coroa. Assim, quando o Rei Eduardo VII encontrou seu primeiro Parlamento na Câmara dos Lordes, foi obrigado a subscrever a Declaração Estatutária Real contra os principais dogmas da Igreja Católica Romana, incluindo a Mariolatria, a Transubstanciação e o sacrifício da Missa, e também contra “qualquer evasiva, equivoco ou reserva mental” que se possa ter sido autorizada pelo papado.

As palavras deste juramento assinado pelo Rei, e que lhe fora entregue pelo Lord Chanceler em 14 de Fevereiro de 1901, são as seguintes: “Eu, EDWARD, solene e sinceramente, na presença de Deus, professo, testifico e declaro que acredito que no Sacramento da Ceia do Senhor não há transubstanciação dos elementos do Pão e do Vinho no Corpo e Sangue de Cristo, seja na Consagração ou após, independente de quem a faça; e que a Invocação ou Adoração da Virgem Maria e de qualquer outro santo, bem como o sacrifício da Missa, como agora praticados na Igreja de Roma, são superstição e idolatria. Solenemente, na presença de Deus, professo, testifico e declaro que faço esta Declaração, em todos os seus detalhes, segundo o significado simples e ordinário das palavras que agora leio, e isto como são compreendidas pelos protestantes, sem qualquer evasiva, equívoco ou reserva mental de qualquer natureza, e sem qualquer Dispensa concedida pelo Papa ou por qualquer outra autoridade, e sem cogitar poder ser absolvido por Deus ou pelos homens, ou dispensado desta declaração, ainda que em parte, mesmo que o Papa ou qualquer outra pessoa, grupo ou poder de qualquer natureza possa vir a declara-la sem valor ou relativa.”

 

Votos de coroação de sua majestade o rei Eduardo VII

 

Todavia, esta Declaração Real contra o Papado é considerada ofensiva aos súditos do Rei que pertencem à Igreja Romana. O Cardeal Vaughan, o chefe da Igreja Romana neste país, disse aos fiéis de sua diocese, por meio de uma circular, que "Por causa de suas mais estimadas convicções, os católicos romanos ficaram entristecidos e com o coração ferido por esta mais recente renovação do que o Cardeal Wiseman descreve como o Ato Nacional de Apostasia, repetido na coroação de cada Soberano durante os últimos duzentos anos”. Nesta circular nos é dito que a linguagem da Declaração é um “anacronismo” e o Cardeal a descreve como “um formulário blasfemo”, interpretado como “um ultraje cometido contra nosso Senhor Jesus Cristo”, e Sua Mãe “Imaculada” - “uma ofensa cometida contra Sua Divina Majestade” e um “insulto gratuito” a todos os súditos católicos romanos. Um dos membros irlandeses do Parlamento a descreveu como “o pior insulto já planejado contra o credo de milhões de súditos de Sua Majestade”. Um enorme e deliberado esforço está em curso para alterar e suavizar as palavras da Declaração, a ponto de remover a barreira para qual foi projetada a erguer, a saber, excluir um romanista do trono Inglês.

 

Na Câmara dos Lordes, Lord Salisbury chegou ao ponto de conseguir dar ao Partido Papal uma Comissão Conjunta para as duas Casas do Parlamento, a fim de poderem discutir sobre quais alterações poderiam ser feitas no texto da Declaração contra o Sacrifício idolatra e supersticioso da Missa. Assim, existe um grave perigo de perdermos nossas liberdades protestantes adquiridas com grandes custos. É chegado o momento de todos os que acreditam que nosso prestígio nacional e a nossa prosperidade temporal estão ligados a nossa identidade protestante, o que a história prova conclusivamente, valorizarem-se ao ponto de nossos representantes no Parlamento, e os membros do governo de Sua Majestade, sentirem que devem manter suas mãos longe de qualquer tentativa de abalar o caráter protestante do Trono. Se os protestantes estão em um país católico romano, não são obrigados a se submeterem às leis e regulamentos desse país? Eles podem não gostar de algumas das reivindicações do Vaticano, mas quão absurdo seria, por exemplo, se aqueles que pertencem à Igreja Reformada na Espanha causassem um rebuliço por causa da expressão de fé pessoal de seu Soberano, e exigissem que a exigência dessa expressão de fé fosse apagada da lei. Em que país do mundo é permitido a um católico romano mais liberdade para desfrutar sua religião do que neste país protestante? E caso os protestantes resolvessem expor a linguagem católica romana, não essa expressa por indivíduos isolados, mas sim aquela encontrada em seus padrões de fé, facilmente demonstrariam que a linguagem usada na Declaração é suave se comparada com os anátemas lançados contra todos que diferem do credo daqueles.

 

Alguém pode ficar tentado a dizer ao opositor romano que lhe seria melhor assumir que seu próprio telhado é de vidro. Que se proponha outra linguagem, mais agradável aos romanistas, desde que a substância e a essência da ofensa permaneçam. A verdadeira ofensa é que um romanista não pode usar a coroa da Inglaterra. Mas isso não é tudo. Além da Declaração, há uma exigência de que o Soberano, antes da Coroação, jure solenemente manter a Religião Protestante Reformada neste país. Isso também deve ser mantido, ainda que admitamos a aptidão de um católico romano para se tornar soberano deste reino. Há aqueles que, em nome da "caridade" gostariam de ignorar os fatos históricos de quando nosso país estava sob o calcanhar de Roma. Alegam que o passado sombrio se foi e que nós erramos com os Romanistas dos dias atuais ao mantermos uma atitude de suspeita. Quando Roma se arrepender e abandonar seus maus caminhos, mas não antes disso, poderemos nos dar ao luxo de esquecer o passado. O Church Times, jornal da ala mais radical da High Church, descreve o Juramento Protestante exigido do Rei na abertura do Parlamento como pertencendo "a um período em que o espírito antipapista foi despertado por eventos circunstanciais", e diz "o que agora se tornou obsoleto, e ninguém além dos fanáticos deseja vê-lo revivido".

 

O editor de Life of Faith disse bem que “eventos circunstanciais” são “um bom eufemismo para os erros e perseguições cruéis infligidos por Roma aos nossos antepassados protestantes”. Um valioso artigo que saiu em uma edição recente do The English Churchman, com muita força declara que “a extrema gravidade da posição para a qual os poderes do Vaticano forçaram o governo de Sua Majestade, esperamos, será rapidamente notada por protestantes leais em todo o Reino. A concessão feita ao papado no início do novo reinado está repleta de mau presságio. Caso as sensibilidades católicas romanas dominem a política dos conselheiros responsáveis pela Coroa, os ingleses nascidos livres devem exigir saber o motivo; pois, independentemente dos custos, eles valorizam as liberdades civis e religiosas conquistadas para eles pelos próprios homens que elaboraram a Declaração de Direitos, a Declaração e o Juramento de Coroação; e devem se recusar a colocar essas liberdades em perigo, para tranquilizar - mesmo que por um breve período - os inimigos implacáveis da terra da Reforma e da Revolução”.

 

 

Este artigo foi escrito em 1906, pelo Pelo Reverendo J.P. Watts, reitor da St Peterʼs, Thetford.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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