É meu privilégio falar com vocês neste capítulo
sobre um assunto muito importante. É objetivamente importante porque foi o princípio
material da Reforma Protestante do século XVI, e continua assim nas
igrejas 100% adeptas da teologia reformada, ortodoxas, hipercalvinistas e supralapsarianas.
É subjetivamente importante para cada filho de Deus porque é o meio de saber-se
como estou justificado diante de Deus.
Martinho Lutero sustentou que esta verdade era a
diferença entre uma igreja em pé e uma igreja em queda. Se uma igreja sustenta
a verdade da justificação somente pela fé, então, no julgamento de Lutero, era
uma igreja permanente. Se não o fizessem, então estavam caídas. A importância
da verdade da justificação somente pela fé também é evidenciada no fato de que
os dois credos que surgiram da Reforma, a Confissão Belga e o Catecismo de
Heidelberg, mantêm e defendem esta verdade, e o fazem de forma precisa,
poderosa em termos reconfortantes: Catecismo de Heidelberg, Dias do Senhor 23,
24, 51 e Confissão Belga, Artigos 22-24. A importância dessa verdade também
pode ser vista no tipo de atenção que Satanás dá a ela. Ao longo da história da
igreja, Satanás atacou a verdade da justificação somente pela fé. Alguns de seus
ataques mais enganosos foram e são feitos quando ele distorce a linguagem,
usando as palavras 'justificação pela fé', mas fazendo com que elas signifiquem
algo diferente. Na maioria das vezes, Satanás ataca o uso da palavra 'sozinho'.
Aqueles que identificam sua posição como 'visão
federal' estão atacando essa verdade fundamental e preciosa, fazendo-o da
maneira mais enganosa. Eles falarão do fato de que a justificação é pela fé e
que é pela graça, mas acrescentam que a justificação não é somente pela fé, mas
também pelas obras que fluem da fé. O resultado é que a justificação não é
somente pela fé! Portanto, não devemos dar credito a esta doutrina herética e
pervertida.E a importância da verdade da justificação pela fé somente é
experimentada. Foi na vida de Martinho Lutero. E todo crente tem momentos em
que se pergunta como pode
estar diante do Deus santo cujos olhos não verão a iniquidade. Todo crente está ciente de
seus pecados e da
presença de uma grande pecaminosidade interior. Perguntamos:
Como saberei, quando chegar o grande dia do
julgamento, que posso estar diante daquele tribunal sem terror? Então tudo o
que fiz, disse e pensei será exposto. Como posso esperar por esse dia com uma
sensação confortável do favor de Deus? Como podemos obter tal segurança quando
minha consciência me acusa de ter transgredido grosseiramente todos os mandamentos
de Deus? Como posso ter essa garantia quando outros apontam meus erros? Como
posso estar diante de Deus? Como Ele me receberá? A resposta a essas perguntas
penetrantes é encontrada apenas na verdade da justificação pela fé somente. Esta
verdade é o coração do evangelho no que diz respeito à experiência de cada
filho de Deus.
O que é
justificação:
O que é justificação? Herman Hoeksema definiu-a como
um ato da graça de Deus, pelo qual Ele imputa, coloca na conta legal de alguém
que é culpado e condenado, mas elege Sua perfeita justiça em Cristo,
absolvendo-o de toda a sua culpa e punição com base no mérito da obra de
Cristo, e dando a este pecador o direito à vida eterna. A justificação é uma
parte da salvação do pecado em Cristo, pois Deus aplica a salvação a cada um de
Seus eleitos.
Nossos credos falam de justificação da mesma
maneira. Tanto a
Confissão de fé da igreja Belga quanto o Catecismo de Heidelberg descrevem a
justificação como uma obra de Deus na experiência de um crente. A Escritura declara:
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Para aqueles
que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de
seu Filho, para que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que
predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8:28-30).
Esta passagem fala da justificação como uma obra de Deus – Sua declaração legal
na consciência do pecador eleito, chamado e crente. Quando falarmos de
justificação neste capítulo, estaremos falando dela como parte da obra de Exclusiva
de Deus em salvar cada pecador eleito, dando a eles a salvação do pecado em
Cristo.
Deus pelo Seu Espírito fala à consciência do pecador
humilhado e quebrantado de Seu ato de mudar sua posição legal diante de Deus, o
Juiz, de um estado de culpa para um estado de inocência. Deus fala ao pecador
arrependido de Sua obra de tê-lo justificado em Jesus Cristo.
A parábola de Jesus sobre o fariseu e o
publicano termina com o publicano indo 'justificado para sua casa'. O fariseu e
o publicano foram ao templo orar. O fariseu se levantou e orou consigo mesmo:
'Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens.' O publicano
encontrou um lugar em um canto distante e lá Ele humildemente implorou por
misericórdia - a piedade imerecida de Deus por um pecador miserável. Deus falou
à consciência daquele pecador quebrantado e humilde, trabalhando nele a
consciência de que Deus havia feito algo por ele. O humilde pecador deixou o templo
justificado, regozijando-se no conhecimento e na certeza de sua justificação. A
justificação é o pecador humilde que ouve Deus declarar que seu status legal
perante o santo e justo Juiz mudou de um estado de culpa para um de inocência.
Crendo no que Deus havia falado por Seu Espírito à sua consciência, o publicano
foi para casa não mais batendo no peito como fazia no templo, mas feliz com a
bem-aventurança da justificação.
Enquanto a declaração de Deus da justificação
de Seus filhos eleitos ocorreu uma vez na cruz de Cristo, a justificação que
ocorre na consciência de Seus filhos ocorre repetidamente. Toda vez que o
pecador se arrepende, Deus dá ao pecador humilhado o conhecimento de que todos
os seus pecados e pecaminosidades são perdoados por causa de Jesus Cristo.
Por que é que os filhos do Pai celestial são
ensinados a orar repetidamente: 'perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores'? Ao responder a esta pergunta, nossos pais
espirituais usam a linguagem da justificação no Catecismo de Heidelberg:
'agrada-te, por causa do sangue de Cristo, não imputar a nós, pobres pecadores,
as nossas transgressões, nem aquela depravação, que sempre se apega a nós' (Art.
126). Toda vez que oramos a quinta petição do Pai Nosso, estamos pedindo ao
nosso Pai celestial que nos justifique, isto é, que não nos impute nossos
pecados e a pecaminosidade que está dentro de nós. A justificação é repetida,
não porque o ato de justificação de Deus seja imperfeito, mas porque o pecador
peca repetidamente e precisa ser informado, repetidamente, que seus pecados não
são imputados a ele.
Há dois elementos principais na declaração de
Deus da justificação de um pecador eleito. Um é negativo e o outro é positivo.
O primeiro elemento da justificação é que Deus instrui o eleito ímpio que ele é
perdoado, livrando-o de toda a culpa e vergonha de seus pecados. O pecador sabe
que só é digno de condenação e sua consciência o condena (Lucas 18:13). Mas
Deus o declara perdoado — perfeitamente inocente. Ouça o Catecismo de
Heidelberg.
'Embora minha consciência me acuse de que
transgredi grosseiramente todos os mandamentos de Deus, e não guardei nenhum
deles, e ainda estou inclinado a todo o mal; não obstante, Deus, sem nenhum
mérito meu, mas apenas por mera graça, concede e imputa a mim, a perfeita
satisfação, justiça e santidade de Cristo; mesmo assim, como se nunca tivesse
tido, nem cometido pecado algum' (A. 60). Deus perdoa. Ele tira minha
condenação, a pena que mereço, a vergonha que vem com a pena e a consciência da
culpa que levou o publicano a bater no peito no canto mais distante do templo.
Deus declara que nosso pecado se foi. Ele declara que em Seu julgamento não
somos mais dignos de ser condenados. Por que um pecador justificado pode ser
condenado? Seu pecado se foi. Há muito tempo um
professor de catecismo me ensinou que ser justificado significa ‘apenas-como-se-eu-nunca-tivesse-pecado’.
O Catecismo de Heidelberg diz: ‘Como se eu nunca tivesse pecado, nem cometido
nenhum pecado’.
O segundo elemento da justificação é Deus declarando
à consciência do pecador eleito que ele é justo. Simplificando, ser justo é
estar certo aos olhos de Deus porque a lei de Deus foi perfeitamente cumprida.
Deus declara que em Cristo o pecador crente cumpriu Sua lei (Romanos 5:19). Não
importa o que minha visão vê ou o que os outros dizem que veem em mim. Justiça
é que Deus declara que eu fiz o que é certo.
Mais uma vez, o Catecismo de Heidelberg coloca muito
bem: 'como se eu tivesse cumprido plenamente toda aquela obediência que Cristo
realizou por mim' (Art. 60). É a realidade deste segundo elemento de justificação
que torna a simples definição de justificação (como se eu nunca tivesse pecado)
simplista, porque não fala de justiça. Justificação significa que Deus declara
que alguém é justo. Esta é uma verdadeira justiça. Deus, o Juiz perfeito,
declara justos os eleitos, regenerados e chamados pecadores. O pecador
justificado está ciente de que ele é digno de ser condenado à condenação
eterna, mas Deus, por Sua própria boa vontade, meramente por graça, por causa
de Cristo, declara que este pecador é perfeitamente justo e, portanto, digno de
íntima amizade com Deus, agora e eternamente no céu. O relacionamento atual com
Deus é que o justificado é um filho de Deus, graciosamente adotado em Sua
família. E ele é um herdeiro da vida eterna plena. Os filhos são herdeiros,
co-herdeiros com Cristo da vida eterna com Deus.
Devemos dizer mais uma coisa sobre a justiça que
Deus atribui à conta dos justificados. É Deus declarando que alguém é justo por
imputação. Isso ainda não é Deus tornando-o justo por infusão ou renovação.
Esta última é a santificação que sempre segue a justificação. A justiça que é
nossa na justificação é algo que Deus, como Juiz, declara ser nossa legalmente,
por imputação. A justiça que Deus dá ao pecador é somente a justiça de Jesus.
Não temos nenhuma justiça em nós mesmos. E esta justiça é nada menos que a justiça
de Deus. “Pelas obras da lei nenhuma carne será justificada diante dele; porque
pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora a justiça de Deus sem a
lei se manifesta, sendo testemunhada pela lei e pelos profetas: sim, a justiça
de Deus que é pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem”
(Romanos 3:20-22). É a justiça de Deus – Sua própria justiça. A própria justiça
perfeita de Deus é contada em nossa conta por causa da obra perfeita de Jesus
Cristo.
Jesus comprou esta justiça absolutamente perfeita.
Ele o fez por Sua perfeita obediência à lei de Deus e por Seu sofrimento vicário
carregando toda a penalidade de nossos pecados (os eleitos); Em Sua vida e
sofrimento, Jesus foi feito pecado por nós. Ele foi contado entre os pecadores.
Nossos pecados foram imputados a Ele, então Ele carregou cada um dos nossos
pecados e toda a nossa pecaminosidade. Ele veio à semelhança de nossa carne
pecaminosa para suportar a ira de Deus por todos os nossos pecados.
Romanos 4:25 declara que Ele foi entregue à morte
por causa de nossas ofensas. Sua obra de suportar a ira de Deus foi uma obra
perfeita, realizada por obediência amorosa a Deus. Isso merecia perdão e justiça.
Ele pagou totalmente nossa dívida e ganhou para nós uma justiça tão perfeita
que Deus teve que ressuscitá-lo dos mortos. Jesus não pertencia mais à morte e
à sepultura.
Assim como Jesus foi entregue à morte por causa de
nossas ofensas, Ele ressuscitou dos mortos por causa de nossa justiça. Sua
ressurreição é a prova de que Ele pagou totalmente por todos os nossos pecados.
Quando vemos o sepulcro vazio, então o Espírito nos comunica a verdade do
perdão, pleno e gratuito. Nossa consciência pode dizer o contrário.
Pode querer que olhemos para todos os nossos pecados
e olhemos para a fossa espiritual da pecaminosidade da qual todos os nossos
pecados surgem. Isso nos faria duvidar de nossa salvação. Mas o evangelho
aponta para a cruz e a ressurreição de Jesus Cristo. Seu túmulo está vazio. Ele
pagou tudo. Somos justificados. Nós somos justos.
Como
a justificação é nossa?
Como sabemos que somos justos? Como Deus nos
comunica isso? Como o experimentamos? Pela fé somente! A fé é o meio ou
instrumento pelo qual Deus imputa ao pecador culpado a justiça de Jesus Cristo.
E a fé é o meio ou instrumento pelo qual o pecador culpado experimenta e
desfruta de sua inocência e paz com Deus.
O Catecismo de Heidelberg apresenta o assunto
da justificação depois de tratar das coisas em que se deve acreditar. Ele chega
à verdade da justificação com esta pergunta: O que você ganha agora que você
acredita em todas as verdades expressas no Credo dos Apóstolos? Sua bela resposta
é: 'Que sou justo em Cristo, diante de Deus.' Não é se eu sou justo diante de
outros humanos. Eles vão ter mais dificuldade em acreditar que eu sou justo.
Eles, como minha consciência, veem que ainda peco, que ainda faço coisas
erradas. Mas Deus diz: 'Você é justo diante de Mim, e você é tão justo que é
herdeiro da vida eterna.'
A fé é aquele dom de Deus no pecador
regenerado e chamado, pelo qual o pecador é enxertado em Cristo e pelo qual ele
abraça e se apropria de Cristo e de todos os Seus benefícios, confiando nEle. A
fé abrange a declaração do Juiz divino. A fé se apropria do perdão em Cristo e
da justiça de Cristo.
A fé é o instrumento mais adequado para nos
dar o conhecimento de nossa justificação. É assim porque a fé é uma crença e
não um trabalho. Dizer 'fé' é dizer 'sem trabalho'. A fé é o oposto das obras.
A fé é um dom de Deus, não de obras, para que ninguém se glorie (Efésios 2:8-9).
A fé é o vínculo que une a pessoa com Cristo. Deus objetivamente une todos os
eleitos a Cristo na eleição. Quando Deus regenera os eleitos, então Ele
objetivamente nos enxerta pela fé em Cristo. Este é o poder da fé. Este poder
da fé torna-se ativo, então aqueles que são objetivamente enxertados em Cristo,
subjetivamente se apegam a Ele. Eles O abraçam, ou 'permanecem Nele' como Jesus
diz em João 15. A fé conhece e confia em Cristo para a justiça. Ela abraça Jesus
Cristo como Ele é proclamado no evangelho. Confiamos naquele em quem cremos. Eu
sei em quem tenho crido e estou convencido de que Ele é capaz de levar meu
pecado, pagar por tudo e ganhar a justiça que Ele coloca em minha conta. A fé
simplesmente crê – sustentando como verdade o que Deus revelou em Sua Palavra.
Então, como estou certo aos olhos do Deus
perfeitamente santo? Esta é a pergunta que queima em todo pecador culpado. Esta
era a pergunta candente de Lutero. Se os serafins de Isaías 6 foram obrigados a
esconder a si mesmos e seus rostos diante do Deus três vezes santo, então como
posso estar diante Dele?
A fé diz: 'Estou diante dele, não com base no que
vejo, mas com base no que Deus me ensinou em Sua Palavra. A Bíblia me diz que
quando Jesus morreu, Ele morreu pelo pecado. E quando Ele viveu, fazendo
perfeitamente a vontade do Pai, Ele ganhou para aqueles a quem representava uma
justiça perfeita. Deus, pelo amor de Jesus, coloca essa justiça na minha conta.
Deus me permite estar diante Dele nessa justiça.
A fé exclui as obras. Repetidamente as
Escrituras declaram que a salvação é somente pela graça, por meio da fé
somente, sem quaisquer obras do homem. 'Portanto, é pela fé, para que seja pela
graça' (Romanos 4:16a). 'Pelas obras da lei nenhuma carne será justificada
diante dele...' 'Porque todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus. ' 'Por isso concluímos que o homem é justificado pela fé sem as obras da
lei' (Romanos 3:20, 23-24, 28). Para quem trabalha há uma recompensa, mas não é
uma recompensa da graça; é uma recompensa de dívida (cf. Romanos 4:4). 'Aquele
que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada
como justiça' (Romanos 4:5). A fé crê naquele que justifica os ímpios, pois
'Cristo morreu pelos ímpios', que não têm forças para fazer o bem (Romanos
5:6). Os ímpios não fizeram nada para merecer algo bom de Deus.
E Gálatas 2:16 coloca desta forma: “Sabendo
que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo,
também temos crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo,
e não pelas obras da lei; porque pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.'
A fé é um dom de Deus, não uma obra do homem.
Há muitos que falam da justificação pela fé, mas fazem da fé uma obra do homem.
Mas a Bíblia e nossas confissões e catecismos reformados condenam tal pensamento.
'Por que dizes que só és justo pela fé? Não que eu seja aceitável a Deus, por causa
da dignidade da minha fé; mas porque somente a satisfação, justiça e santidade
de Cristo é minha justiça diante de Deus; e que eu não posso receber e aplicar
o mesmo a mim mesmo de outra maneira que apenas pela fé” (Catecismo de
Heidelberg, Q. & R. 61). A fé não é a justiça, é apenas a maneira pela qual
Deus dá Sua justiça ao Seu povo. A fé não é uma obra do homem, mas um dom de
Deus. Portanto, nunca podemos pensar que a fé torna alguém digno ou tem algum
mérito diante de Deus. Deus opera em nós tanto o querer como o efetuar segundo
a Sua boa vontade (Filipenses 2:13), de modo que, quando cremos, ainda é uma
obra de Deus e não nossa. As obras humanas não fazem
parte de nossa justificação diante de Deus.
Boas obras fluem de nossa salvação, mas de forma
alguma elas ganham a salvação ou nos tornam justos diante de Deus. 'Por que
nossas boas obras não podem ser o todo ou parte de nossa justiça diante de
Deus? Porque, que a justiça, que pode ser aprovada perante o tribunal de Deus,
deve ser absolutamente perfeita e em todos os aspectos conforme à lei divina; e
também, (Catecismo de Heidelberg, Q. & Art. 62). 'O que! Não merecem nossas
boas obras, as quais Deus ainda recompensará nesta e em uma vida futura?' Sim,
nossas boas obras recebem uma recompensa, mas 'esta recompensa não é de mérito,
mas de graça' (Catecismo de Heidelberg, Q. & Art. 63). É tudo graça. As
boas obras que fluem de nossa salvação, que Deus recompensará, não constituem a
menor parte de nossa justiça. Quando estamos diante de Deus agora e no dia do
julgamento, podemos pensar que nunca é por causa de algo que fizemos. Estamos
diante de Deus em justiça, mas é toda graça por meio da fé, sem quaisquer obras
do homem.
Precisamente porque a fé se apega a Cristo,
olhamos para longe de nós mesmos e para Ele. Não podemos acrescentar nada à Sua
obra perfeita. A fé em Cristo declara que é tudo Dele e nada de nós. Se nossas
obras pudessem acrescentar ou ajudar em nossa salvação, então nossos pecados a
prejudicariam. Somos 100% justos diante de Deus somente porque Ele
graciosamente nos justifica. Ele faz a imputação e a declaração de julgamento.
Não podemos ganhá-lo e não podemos perdê-lo. Somos justificados pela fé sem
obras. Então podemos ter paz com Deus!
Paz com Deus:
Porque a justificação é somente pela graça por meio
da fé somente, há paz com Deus (Romanos 5:1). Isso não é apenas paz, mas uma
paz maravilhosa com Deus. Entre Deus e nós há um acordo fundamental e uma boa
vontade subsequente. Essa paz não é algo que terei ou poderia ter, mas é algo
que tenho agora. A posse presente desta paz abençoada é experimentada na forma
de lembrar que somos justificados pela fé somente por meio de nosso Senhor
Jesus Cristo. Se apenas considerássemos nosso pecado, perderíamos a sensação de
paz com Deus. O diabo adora que nos concentremos em nosso pecado. Ele usa nossa
consciência e outros humanos para apontar nossos pecados e nossa
pecaminosidade.
Ele quer que pensemos que não somos bons o suficiente.
Ele quer que nos comparemos com os outros, porque isso invariavelmente nos faz
considerar nossas obras. Ele só quer que olhemos para longe da cruz de Cristo.
O diabo gosta de nos fazer conhecer tal culpa que não podemos encontrar saída,
mas continuamos culpados e condenados. Contra o diabo, Deus quer que Seus filhos
experimentem culpa, mas apenas como aquilo que nos afasta do mérito das obras
para o mérito da cruz de Cristo. Para Deus, a culpa é a porta pela qual devemos
passar para chegar à consciência de sermos justificados. Somos justificados
pela fé por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos olhar para Ele, e
continuar olhando para Ele. Sua obra perfeita é a única coisa que pode merecer
perdão completo e justiça 100% perfeita. A fé em Sua cruz e Sua ressurreição
nos asseguram a justificação plena.
E tão real é esse perdão e justiça que ninguém pôde
ou pode nos acusar. 'Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não
poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará
também com ele todas as coisas gratuitamente? Quem intentará acusação contra os
eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Romanos 8:31-33). Se não somos
justificados, então somos condenados. E assim o apóstolo continua: 'Quem é
aquele que condena? É Cristo que morreu, sim, que ressuscitou,
que está à direita de Deus, que também intercede por nós” (Romanos 8:34). Deus
nos faz olhar para a obra de Cristo para
nos assegurar a liberdade da condenação e a posse da
justificação. 'Quem é ele que condena? É Cristo que morreu.'
Cristo, nosso chefe representativo, morreu por nós.
Mas há mais, 'sim, que ressuscitou novamente.'
Lembre-se que já aprendemos em Romanos 4:25 que Jesus ressuscitou para nossa
justificação. Fica melhor, 'Quem está à direita de Deus, que também intercede
por nós.' À direita de Deus, Jesus intercede por nós, pleiteando as riquezas
dos méritos de Sua cruz, para que Deus nos declare justificados. Não há nada
que possa nos separar do amor de Deus e da nossa justiça em Cristo. É por isso que
temos paz com Deus!!!
O perdão e a justiça são nossos segundo as riquezas
da graça de Deus (cf. Efésios 1:7). Não é de acordo com a medida de nosso
arrependimento nem do exercício de nossa fé. O perdão de Deus é de acordo com
as riquezas de Sua graça. Sua graça é o único padrão. A fé sabe que somos
filhos de Deus por adoção, possuindo todos os direitos dos filhos, inclusive
uma herança eterna. E a fé sabe que nossa justiça nunca pode ser perdida e que somos herdeiros da vida eterna. Permanecendo
em Sua graça, nos
regozijamos na esperança da glória de Deus (Romanos 5:2).
Paz com Deus é a capacidade de se alegrar.
Regozijamo-nos por não sermos nossos, mas pertencermos ao nosso fiel Salvador
na vida e na morte. Nunca precisamos ser atormentados pelo pensamento de que
não estamos à altura ou que
não somos bons o suficiente. Em vez disso, temos confiança em nos aproximarmos
de Deus, nossa consciência livre 'de medo, terror e pavor' (Confissão Belga,
Art. 23). A única aceitação que importa é a de Deus, e somos 'aceitos no amado'
(Efésios 1:6). Quando Deus ama Seu Filho amado, então podemos saber que somos
aceitos Nele e amados por Ele.
Portanto, creia no Senhor Jesus Cristo. Isso é tudo
o que Paulo tinha a dizer em resposta ao carcereiro de Filipos. Exercite sua fé
dada por Deus para se apegar a Cristo e Sua obra perfeita. Permaneça Nele.
Perceba quão completamente perdoado e perfeitamente justo você é. Esta é a paz
que excede todo o entendimento. Então, ó pecador, você pode ir para casa
justificado!
Justificação e Boas Obras:
Que grande verdade do evangelho é a justificação
pela fé somente. Que presente abençoado de Deus para nós é a justificação pela
fé somente. E que obra abençoada do Espírito de Jesus Cristo em nossa consciência
é a justificação pela fé somente.
A justificação é o ato estritamente legal de Deus
como juiz no qual Ele perdoa os pecados daquele que crê em Jesus Cristo e o
considera justo com base somente na obediência de Jesus Cristo no lugar deste
pecador. É assim que Davi descreve a justificação no Salmo
32: 1-2, onde proclama a bem-aventurança do homem a quem Deus atribui justiça
sem obras. 'Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas e cujos
pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará pecado.'
E é assim que o apóstolo Paulo descreve a
justificação, com recurso a esta passagem nos Salmos, em Romanos 4:5. 'Aquele
que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, sua fé é contada [ou
imputada, ou contada] como justiça.' A única base deste ato de Deus, o juiz,
declarando justo o pecador ímpio, mas crente, é a obediência de Jesus Cristo no
lugar do pecador. A base é tanto a obediência vitalícia de Cristo à lei de
Deus, quanto a morte de Cristo como completa e perfeita satisfação da justiça
de Deus em relação à culpa do pecador eleito. Paulo escreve em Romanos 5:19 que
é pela obediência de um, isto é, Jesus Cristo, que muitos são 'constituídos'
(não 'feitos', como é a tradução da Versão Autorizada); justos, assim como
todos de nós foram considerados culpados pela 'desobediência de um homem'. A
única justiça que vale no tribunal celestial com Deus, o juiz, que é tremendo
em Sua santidade, é a justiça operada pelo próprio Deus na vida e morte obedientes
de Seu próprio Filho encarnado, Jesus Cristo.
Esta justiça, é a própria justiça de Deus, como
Paulo ensina em Romanos 3:25: Especialmente na propiciação
da cruz, Deus declarou Sua justiça.
Em Romanos 10:3, a acusação do apóstolo contra os judeus, e contra todos os que
de alguma forma fazem sua própria obediência total ou parcial, sua justiça para
com Deus, é que eles são 'ignorantes da justiça de Deus' e vão prestes a 'estabelecer
sua própria justiça'; seu pecado é que eles não se submetem à justiça de Deus. Esta
justiça, que é própria de Deus, e a única justiça que vale com Deus para obter
o veredicto, 'inocente', e para
abrir as portas da vida eterna ao pecador, esta justiça, eu digo, é concedida
ao pecador por meio da fé, e somente por meio da fé.
Este é o ensino do apóstolo em Romanos 3:28:
'Concluímos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.' A fé em
Jesus Cristo é o meio, o instrumento pelo qual o pecador recebe a justiça por
imputação, de modo que sua posição diante de Deus, o juiz, é como se ele nunca
tivesse pecado, como se ele próprio tivesse obedecido perfeitamente à lei de
Deus, e como se ele mesmo tivesse pago completamente por todos os seus pecados
e merecesse a vida eterna. Visto que Romanos 3:28 contrasta a fé com 'as obras
da lei'.
Quando Martinho Lutero traduziu Romanos 3:28 pela
palavra allein em alemão, que é a palavra 'sozinho', traduzindo o texto, 'um
homem é justificado somente pela fé sem as obras da lei', ele capturou o significado
do Espírito Santo. Spirit e traduziu o texto corretamente. Esse entendimento de
(Romanos 3:28, Gálatas 2:16); e outros textos, a saber, que esses textos
ensinam que somos justificados somente pela fé, é confessional para todas as
pessoas reformadas e ortodoxas (P. & R. 60 do Catecismo de Heidelberg); por
exemplo, responde à pergunta 'Como você é justo diante de Deus?' desta forma:
'Somente por uma verdadeira fé em Jesus Cristo justificados diante de Deus.'
Que grande verdade do evangelho é essa. É o coração do
evangelho genuinamente bíblico, declarou Lutero e toda a Reforma Protestante. O
Exegeta e sistematizador João Calvino concordou, confirmado a doutrina da
justificação pela fé somente, em suas Institutas da religião cristã, 'a
dobradiça sobre a qual toda religião gira'. Como um ato puramente gracioso de
Deus, a justificação pela fé somente glorifica a Deus. A justiça de um pecador,
da qual dependem todas as bênçãos e salvação, é um dom gratuito de Deus. A
justiça do pecador diante de Deus é a própria justiça de Deus operada por Deus
na encarnação e morte expiatória de Seu Filho.
Visto que o ato de justificar, a obediência
que é a base da justificação, e até mesmo a própria fé do pecador pela qual ele
recebe a justiça, é um dom gratuito de Deus na graça soberana, a justificação
aponta para a eterna eleição de Deus na graça como a fonte da justificação, e
magnifica a graça de Deus.
Como um ato puramente gracioso de Deus, a
justificação somente pela fé proporciona paz ao crente. 'Embora minha consciência
me acuse de que transgredi grosseiramente todos os mandamentos de Deus, e não
guardei nenhum deles, e ainda estou inclinado a todo o mal', estou confiante de
que sou justo diante de Deus com base na obediência de Cristo. Este é o
testemunho do Catecismo de Heidelberg em Perguntas e Respostas. 60. Sem justificação
pela fé somente, dependendo mesmo de uma boa obra nossa, 'estaríamos sempre em
dúvida, jogados de um lado para o outro sem nenhuma certeza, com nossas más
consciências continuamente pervertidas pelo pecado original', confessamos no
artigo 24 da Confissão Belga.
A verdade da justificação pela fé somente, deixa as
boas obras do crente justifica-lo? Ainda há lugar para justificação pelas boas obras?
Este lugar de boas obras é um lugar importante, até mesmo um lugar necessário?
Ou as boas obras e o chamado para realizar boas obras são excluídos ou talvez aniquilados?
A questão é esta: Qual é a relação entre a justificação pela fé somente e as boas
obras?
Essa, meus amigos, é uma questão importante em si
mesma, além de qualquer controvérsia sobre o assunto. O mesmo evangelho que exclui
as boas obras da justificação inclui as boas obras na nossa salvação pelo
Espírito. O mesmo evangelho que nos adverte contra trazer boas obras para
justificação adverte contra deixar boas obras fora de nossas vidas piedosas; ou
seja, não somos salvos pelas boas obras mas, para as boas obras.
Somando-se à urgência de um entendimento
correto da relação entre justificação e boas obras está o ataque à justificação pela fé somente por determinados inimigos
dessa verdade. Este ataque à
justificação pela fé somente é levantado, supostamente, em nome das boas obras.
A urgência é aumentada hoje na comunidade de igrejas reformadas por um ataque à
justificação pela fé somente em nome de uma ênfase nas boas obras de dentro das
próprias igrejas reformadas. De fato, esse ataque à justificação pela fé
somente é levantado por teólogos reformados proeminentes e influentes, professores
de seminário e ministros do evangelho. Esses homens são porta-vozes de um movimento
conhecido como 'visão federal', que é literalmente 'visão da aliança', porque é
o desenvolvimento de uma certa doutrina da aliança. Básico para esta doutrina
da aliança é um ataque à justificação pela fé somente. Este ataque é defendido
como promoção de boas obras na vida do cristão.
Este ataque à justificação somente pela fé é
encontrado hoje na Igreja Presbiteriana Ortodoxa, na Igreja Presbiteriana na
América, nas Igrejas Reformadas Unidas e nas Igrejas Reformadas Cristãs
Ortodoxas. Não apenas o ataque à justificação pela fé somente é encontrado
nessas igrejas, mas também é tolerado por essas igrejas. Não apenas é tolerado
por essas igrejas, mas no caso de pelo menos três dessas igrejas, o ataque à
justificação pela fé somente foi sustentado pelas principais assembleias – por
classes, presbitérios e sínodos.
O ataque à justificação em nome
das boas obras:
O principal ataque à verdade do evangelho da
justificação pela fé somente por seus inimigos em todas as épocas é o argumento
de que a justificação pela fé somente enfraquece, se não destruir
completamente, o zelo por uma vida santa de boas obras. De início, devemos
reconhecer a aparente validade dessa acusação. A justificação pela fé somente
afirma que as obras do pecador que é justificado não entram na justificação do
pecador. Nem todas as boas obras que ele pode fazer, e nenhuma das obras
pecaminosas que ele fez, seja essa obra pecaminosa nunca tão
grosseira, não entra em sua justificação por Deus. Com base nesta doutrina, a
mente carnal, o pensamento carnal, o
homem natural dizem: 'Isto inevitavelmente resulta em descuido de vida por
parte daqueles que abraçam esta doutrina.' Até o presente momento, surgiram
três notáveis campeões das boas obras, como eles gostam de nos fazer crer,
que se opõem à justificação somente pela fé, porque a doutrina é prejudicial às
boas obras. O primeiro desses inimigos da justificação pela fé somente é a
Igreja Católica Romana.
Na Reforma, e sempre depois, Roma condenou a verdade
da justificação pela fé somente como destrutiva do zelo pela santidade da vida.
É a esta acusação de Roma que o Catecismo de Heidelberg está respondendo na
pergunta 64: 'Mas esta doutrina (isto é, a doutrina da justificação pela fé
somente); não torna os homens descuidados e profanos?' Não levo a sério a
pretensa preocupação de Roma pela santidade da vida e pelas boas obras. Ninguém
deve levar a sério a pretensa preocupação de Roma com as boas obras. Quando Roma
assume seu rosto piedoso e mostra preocupação com a possibilidade de os
protestantes reformados ficarem aquém da santidade, eu dou gargalhadas, em voz
alta. Que aquela igreja suja na época da Reforma tivesse criticado o
protestantismo por profanação era uma piada. Que aquela igreja de sodomia e
sodomia generalizada, que encobriu a iniquidade nos níveis mais altos, até que
a imprensa secular denunciou suas perversões, censure os cristãos reformados
por descuido é ridículo. Que a igreja que aceita Ted Kennedy e a maior parte da
máfia como membros de boa reputação, e que dará a esses homens belas missas fúnebres
quando morrerem e perecerem eternamente, deva até mesmo dar um pio sobre
justificação e boas obras é pura hipocrisia. Mas estamos interessados nas
acusações de Roma, porque são as mesmas acusações que sempre são levantadas
também pelos outros inimigos da justificação somente pela fé. De fato, as
acusações de Roma são as mesmas que foram levantadas contra o próprio apóstolo
Paulo quando ele proclamava a doutrina da justificação na epístola aos romanos.
porque são as mesmas acusações que sempre são levantadas também pelos outros
inimigos da justificação pela
fé somente.
De fato, as acusações de Roma são as mesmas que foram
levantadas contra o próprio apóstolo Paulo quando ele proclamava a doutrina da
justificação na epístola aos romanos. porque são as mesmas acusações que sempre
são levantadas também pelos outros inimigos da justificação pela fé somente. O
segundo ataque notável à justificação, supostamente porque a doutrina é
prejudicial à santidade de vida e às boas obras, vem dos nefastos e pervertidos
arminianos. Isso não é tão conhecido entre nós porque nos concentramos na
negação da eleição, na expiação eficaz somente para os eleitos, na graça
soberana e na perseverança dos santos. Mas os arminianos negaram a justificação
somente pela fé também. E negaram-na, como diziam, porque o viam
(hereticamente); como prejudicial à responsabilidade humana e à vida de
santidade. Os Cânones de Dort referem-se a este aspecto da heresia arminiana no
Capítulo II, Rejeição de Erros IV, onde eles condenam o erro que 'considera a
fé em si e a obediência da fé, embora imperfeita, como a perfeita obediência da
lei, e a considera digna da recompensa da vida eterna pela graça.' O arminiano
e herege John Wesley era um verdadeiro filho de James Armínio e Simon
Episcopius em sua negação da justificação pela fé somente como destrutiva da ideia
de santidade de John Wesley.
O terceiro ataque notável à justificação pela fé
somente foi lançado nos últimos trinta anos ou mais, de dentro das próprias
igrejas reformadas, de fato, de dentro das igrejas reformadas e principalmente, das
presbiterianas que são amplamente reputadas como as igrejas reformadas mais
conservadoras!!! Refiro-me ao movimento que promove uma teologia conhecida como
'visão federal', um movimento que é influenciado por uma compreensão de Paulo,
especialmente em Romanos e Gálatas, que difere da compreensão de Paulo que Lutero
teve, que Calvino teve, que toda a tradição ortodoxa reformada teve, e especialmente
as confissões reformadas. Isso é chamado de nova perspectiva sobre Paulo.
Porque esta negação da justificação pela fé
somente cresceu dentro e é nutrida no seio de igrejas reformadas supostamente
conservadoras, e porque se baseia em uma doutrina popular, na verdade,
prevalecente, da aliança, esse ataque à justificação pela fé somente é o mais
perigoso para os cristãos reformados professos hoje. De fato, considero essa
heresia a mais grave ameaça à fé reformada desde o Sínodo de Dort.
O ataque à justificação somente pela fé, em nome das
boas obras, como se costuma dizer, sempre assume a mesma forma, e sempre usa os
mesmos argumentos. Seja saindo da boca do teólogo católico romano, da boca do
teólogo arminiano, ou da boca do porta-voz das igrejas reformadas conservadoras
para a 'visão federal', o argumento é sempre o mesmo.
O argumento fundamental contra a justificação pela
fé somente é este, que um crente será motivado a ser zeloso por boas obras somente se ele supõe que sua
justificação depende dessas boas obras,
ou é conquistada por essas boas obras, ou se ele é movido por a terrível
convicção de que suas boas obras o tornam digno da justificação de Deus para
ele. Este é o argumento fundamental. A única motivação para o zelo em fazer
boas obras é a suposição de que essas boas obras são a base ou fundamento da
justiça, que essas boas obras são a condição da salvação,
que essas boas obras tornam a pessoa digna da vida eterna. Se
este argumento está errado (e o evangelho da
Escritura diz que está totalmente errado); todo o argumento contra a
justificação pela fé somente entra em colapso total.
Relacionados a esse argumento fundamental
estão vários outros argumentos perenes contra a justificação pela fé somente.
Por um lado, assim segue o argumento, quando Paulo ensina a justificação pela
fé sem as obras da lei, ou à parte da lei, ele está apenas excluindo certos tipos
de obras – obras cerimoniais (como a circuncisão) ou obras que são feitas. para
merecer, ou obras que são feitas por pessoas não regeneradas. Segundo aqueles
que levantam esse argumento, Paulo não pretende excluir da justificação as
obras verdadeiramente boas, obras feitas por amor a Deus pelo cristão.
Outro argumento é assim. Quando Deus promete, como
Ele certamente faz, recompensar nossas boas obras, o significado é que nossas
boas obras ganham a salvação, ou nos tornam dignos da salvação, ou são a base
de nossa salvação em parte, de modo que nossa justificação é parcialmente, limitada,
condicionada pelas boas obras, e não somente pela fé!!!
Então há esse argumento. Quando a Bíblia ensina em II Coríntios 5:10, e em outros lugares,
que nosso julgamento final acontecerá 'de acordo com' nossas obras, isso
significa que o julgamento final, que decide nosso destino eterno, será baseado
em parte nas obras que temos realizado. E porque o julgamento final será apenas
a versão pública da justificação que experimentamos hoje, visto que o
julgamento final será baseado em nossas obras, assim também é nossa
justificação hoje, em nossa própria experiência, justificação com base em obras mortas!!!
De especial interesse para nós, é o argumento
contra a justificação pela fé somente pelos homens da 'visão federal'. Seu
argumento contra a justificação pela fé somente é um argumento de uma certa
doutrina da aliança. É o argumento de que uma vez que a aliança de Deus com Seu
povo é condicional, isto é, uma aliança que depende da própria fé e obediência
da criança batizada, também a justificação na aliança é condicional. Isto é, a
justificação de Deus das crianças batizadas depende do ato de crer da criança,
e da obediência da criança a Deus por toda a vida na aliança.
Agora, isso não é totalmente novo, uma vez que a noção
de uma aliança condicional e salvação condicional na aliança foi encontrada e
defendida nas igrejas reformadas por um longo tempo. Esta é a doutrina contra a
qual as Igrejas Protestantes Reformadas lutaram arduamente no final dos anos
1940 e início dos anos 1950. É esta doutrina da aliança que agora está sendo
desenvolvida em uma negação completa da justificação pela fé somente, e com
esta verdade central do evangelho, uma negação de todos os chamados '5 pontos
do calvinismo'. O que é novo é que a doutrina de uma aliança condicional é agora
aplicada à verdade da justificação com o resultado de que os homens negam ousadamente
a justificação pela fé somente.
Demonstrei que a negação da 'visão federal' da
justificação pela fé somente é o desenvolvimento da doutrina de uma aliança
condicional em meu livro, A Aliança de Deus e os Filhos dos Crentes (RFPA,
2005).
A visão de justificação defendida por todos aqueles
que atacam a justificação somente pela fé é esta: a justificação não é
estritamente um ato legal de Deus, mas também uma obra renovadora e
santificadora, tornando o pecador realmente bom. A justificação, neste caso,
não depende inteiramente da obediência de Cristo por nós e fora de nós, mas
depende também em parte de nós mesmos, de nossa própria obediência e de nossas
próprias boas obras. E, nessa visão, a justificação não consiste apenas na
obediência e justiça de Jesus Cristo, a justiça perfeita de Cristo composta de
Sua obediência ao longo da vida e Sua morte expiatória em nosso lugar; em vez
disso, a justiça que é reconhecida por Deus na justificação também é
parcialmente nossa – nossa própria justiça imperfeita, composta de nossas
próprias boas obras imperfeitas!!!
Qual é a resposta da fé reformada ortodoxa a
este ataque à justificação pela fé somente em nome das boas obras, seja pela
Igreja Católica Romana, pelos arminianos (que são 99% ou mais daqueles cristãos
professos na América do Norte, América Latina e América do Sul; que se
autodenominam “evangélicos e fundamentalistas”), ou pelos defensores de uma
aliança condicional?
Em primeiro lugar, respondemos que o próprio ataque
contra nós e nossa doutrina da justificação confirma que estamos sustentando a
mesma verdade evangélica da justificação que o apóstolo Paulo sustentou e
confessou, especialmente em Romanos e Gálatas. O ensino de Paulo sobre
justificação atraiu o mesmo ataque, 'Paulo', acusou seus oponentes, 'você anula
a lei pela fé' (Romanos 3:31). 'Paulo', exclamaram eles, 'você está pregando
para que possamos e continuemos no pecado, para que a graça abunde' (Romanos
6:1). Falando por mim e pelas Igrejas
Protestantes Reformadas, regozijamo-nos que nossa confissão de justificação
ainda esteja atraindo esse
tipo de ataque, isso soa como músicas aos nossos ouvidos.
Se nossa confissão de justificação não provocasse
esse ataque, eu ficaria
preocupado que houvesse algo errado com nossa doutrina de justificação. A
confissão e pregação de pouquíssimas igrejas reformadas hoje em relação à
justificação atraem esse ataque. Pouquíssimas igrejas reformadas estão pregando
e confessando tão clara e nitidamente a justificação pela fé somente e a
salvação pela graça livre, soberana e incondicional, que os oponentes as acusam
de ensinar uma doutrina que resulta em descuido da vida.
Em segundo lugar, nossa resposta ao ataque é a
de Paulo: 'Deus me livre!' Não menosprezamos uma vida de boas obras em
obediência à lei de Deus. Pelo contrário, pelo ensino da justificação pela fé
somente estabelecemos tal vida de zelo pelas boas obras.
Em terceiro lugar, não respondemos a esses
ataques comprometendo a doutrina da justificação pela fé somente – nem um
pouco. Mas defendemos a doutrina contra os ataques. A justificação é somente
pela fé. Todas as nossas obras são excluídas, incluindo nossas obras
verdadeiramente boas, as obras que fazemos no poder do Espírito de Cristo. A
única base de nossa justiça com Deus é a obediência de Cristo, e não nossa
própria obediência, de forma alguma. A única obra que é nossa justiça para com
Deus é a obra feita por nós, a obra de Jesus Cristo na cruz do calvário.
Com relação aos argumentos específicos que são
levantados contra a justificação somente pela fé, respondemos que quando Paulo
exclui as obras da lei, e a lei, da justificação, ele está se referindo a todas
as nossas obras. Gálatas 3:10, 12 prova isso, pois nessas passagens a lei,
sobre a qual ele diz no versículo 11 que não tem lugar na justificação do pecador,
obviamente se refere a toda a lei de Deus, incluindo os dez mandamentos. No versículo 10, Paulo cita
Deuteronômio 27:26: 'Maldito todo
aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei
para praticá-las.' O 'livro da lei' incluem todos os mandamentos, não apenas os
mandamentos cerimoniais. Assim, quando, no versículo 11, o apóstolo nega que
alguém seja justificado 'pela lei', ele se refere à lei inteira.
Com relação à recompensa prometida,
respondemos que a Bíblia realmente nos promete uma recompensa por nossas boas
obras. Mas essa recompensa é uma recompensa da graça, não uma recompensa que
ganhamos, não uma recompensa que merecemos, e não um salário que Deus nos paga
por nossos trabalhos. A recompensa é da graça porque Deus em Sua graça ordenou
eternamente as boas obras nas quais devemos andar. (Efésios 2:10) A recompensa
é da graça porque por Sua morte Jesus Cristo ganhou para nós o direito de fazer
boas obras (Tito 2:14). É um privilégio
fazer boas obras a serviço de Deus.
A recompensa é uma recompensa da graça porque o
próprio Espírito de Cristo opera essas obras em nós e através de nós
(Filipenses 2:13). A recompensa é uma recompensa da graça porque quando Deus aceita
nossas obras, Ele primeiro justifica, ou perdoa, todas aquelas boas obras com
respeito à corrupção e pecado que mancha cada um deles. E a recompensa é uma
recompensa da graça porque quando Deus nos dá a recompensa (galardão); que é a
vida eterna e o lugar que temos na glória, Ele faz isso, não porque Ele nos
deve, mas em graça (Catecismo de Heidelberg, Q. & Art. 63).
No que diz respeito ao argumento contra a
livre justificação que apela ao julgamento final e ao fato de que seremos
julgados de acordo com nossas obras, certamente é verdade que o julgamento de
nós no último dia do mundo será a justificação de nós que cremos em Jesus
Cristo. Será uma justificativa pública. Hoje, quando creio em Jesus Cristo, sou
justificado em particular. Deus e eu sabemos que sou justificado pela fé em Cristo.
Chegará um dia em que estarei diante de Deus, o juiz, na presença de todo o
mundo, eleitos e réprobos, demônios e anjos, e então Deus tornará pública a
justificação que agora é
privada. Essa justificação do juízo final será um ato estritamente legal de
Deus. Isso não ocorrerá, nem as Escrituras nunca dizem isso, por causa de
nossas obras, ou com base em nossos trabalhos; mas, acontecerá de acordo com
nossas obras como uma espécie de padrão pré-ordenado.
Nesse julgamento final, a única base de nossa
justificação será o que é hoje, ou seja, a obediência de Jesus Cristo em nosso
lugar. Graças a Deus por isso! Se isso não for verdade, não temos esperança.
Mas naquele dia, as boas obras que fizemos pela graça de Deus serão exibidas
por Deus, perdoadas de toda a corrupção que as contaminaram, para que essas
obras exibam e demonstrem a realidade do julgamento gracioso de Deus e salvação
de nós para o louvor de Deus.
Ao ataque à justificação que surge da doutrina
de uma aliança condicional, respondemos, primeiro, que, com base em uma aliança
condicional, segue-se a negação da justificação somente pela fé e de todas as
doutrinas da graça. Se a aliança é condicional, a justificação é pela fé e
pelas obras. E se a aliança é condicional, a eleição também é condicional, a
expiação condicional, a salvação de um pecador condicional e a vida eterna
condicional.
Mas, segundo nossa resposta é que, o próprio
fato de que uma aliança condicional implica
justificação pela fé e obras prova que a doutrina de uma
aliança condicional é uma falsa doutrina. É a introdução nas igrejas reformadas
de um evangelho de salvação pela própria vontade e trabalho do homem e isso é
uma heresia nefasta e satânica.
Nossa resposta ao ataque à justificação pela fé
somente, em quarto lugar, é esta, que de nossa parte cobramos daqueles que ensinam
a justificação pela fé e obras que eles destruam a paz e a certeza da salvação
do filho de Deus, que eles roubam a glória de Deus, e que eles são, como
Calvino acusa a todos que ensinam a justificação pela fé e pelas obras,
fariseus e hereges. Todo aquele que ensina e crê na justificação pelas obras de
qualquer forma é um fariseu. De acordo com nosso Senhor, em Lucas 18:14, os
fariseus não são justificados. Como pode ser justificado alguém que
depende de suas próprias obras maculadas pelo pecado de Adão e ousa, como disse
Robert Trail, fazer sua própria santidade lamentável sentar-se no trono do
julgamento com o precioso sangue do cordeiro de Deus?
A verdade
de Tiago 2:
Até agora, ignorei deliberadamente o principal
argumento sempre usado para justificação pela fé e obras, e contra a
justificação somente pela fé. Este é um argumento bíblico. É o apelo a Tiago
2:14ss. Eu agora quero considerar o ataque à justificação pela fé somente
consistindo em um apelo a Tiago 2, e em conexão com este apelo, a verdade de
Tiago 2 concernente à justificação.
Tiago 2 ensina que tanto Abraão, ao oferecer
Isaque por ordem de Deus, quanto Raabe, ao receber e salvar os espias israelitas,
foram justificados pelas obras (vv. 21, 25). Tiago 2 ensina que a partir desses
importantes eventos na história do Antigo Testamento, explicados como justificação
pelas obras, vemos 'como o homem é justificado pelas obras e não somente pela
fé' (v. 24).
Aparentemente, Tiago 2 ensina que a
justificação é pelas obras, e não somente pela fé. E, aparentemente, no
capítulo 2, Tiago ensina uma doutrina que é totalmente contrária ao ensino do
apóstolo Paulo, que, em Romanos 3 e 4, em Gálatas 2, e em outros lugares,
ensina que a justificação não é por obras, mas por fé sozinho.
Não é de surpreender que os inimigos da
justificação pela fé apenas deem importância a Tiago 2. Tiago 2 é a passagem
decisiva para todos eles. Roma citou Tiago 2 a Martinho Lutero interminavelmente,
até que em certo ponto, exasperado, o reformador rejeitou Tiago como uma
"epístola de palha certa" - uma epístola de palha (uma acusação que
ele não manteve). Da mesma forma, os defensores contemporâneos da justificação
por obras nas igrejas reformadas sentam-se em Tiago 2. Isso por si só é
altamente significativo. Esses defensores da justificação pelas obras nas
igrejas reformadas se alinham com Roma contra o evangelho Ortodoxo da Reforma.
A explicação de Tiago 2 pelos inimigos da
justificação somente pela fé é a seguinte. Tiago ensina que a justificação,
como um ato de Deus pelo qual o pecador se torna justo, é realmente pelas boas
obras do pecador, de modo que a justiça do pecador é em parte sua própria
obediência à lei de Deus.
De acordo com esses defensores da justificação pela
fé e pelas obras, Deus
leva em conta as obras do pecador no ato da justificação. Tiago deve ser
harmonizado com Paulo desta
maneira, que, embora ambos estejam falando de justificação no mesmo sentido,
eles têm obras diferentes em vista. As obras que Paulo
exclui da justificação em Romanos 3:28 são apenas obras cerimoniais, e obras
que são feitas para merecer a salvação. Por outro lado, dizem eles, as obras
que Tiago tem em vista são as obras verdadeiramente boas que procedem da fé.
Esta foi a explicação de Tiago 2 que Roma sempre
deu. Esta é a explicação de Tiago 2 que os defensores da 'visão federal' estão
dando agora. Nossa justiça para com Deus é em parte a obediência de Cristo e em
parte nossa. Nossa justificação hoje e no dia do julgamento depende em parte da
obra de Cristo por nós e
em parte de nossas próprias boas obras. No ato justificador de Deus pelo qual
nos tornamos justos, nossas próprias obras entram em cena. Seu santo Olho cai
sobre elas, não como pecados a serem perdoados, mas como atos que devem ser
aceitáveis a Deus, para nos tornar dignos da vida eterna. E nós caminhamos
para o julgamento, agora e no último dia do mundo, com nossas boas obras em
nossas mãos, pleiteando essas obras como atos dos quais nosso destino eterno
dependerá.
Isso não é muito aterrorizante para contemplar? Você
e eu enfrentaremos o julgamento final dessa maneira? Devo morrer com este
pensamento aterrorizante em minha alma: meu destino eterno repousa sobre algo
que fiz, sobre mim mesmo? Isso não é um insulto grosseiro - o insulto da
incredulidade auto justificada - à justiça perfeita que Deus operou em Cristo?
O verdadeiro
ensino de Tiago 2:
Em primeiro lugar, tudo o que Tiago ensina no
capítulo 2 está em harmonia com o que Paulo ensina, porque o Espírito não pode
se contradizer na Bíblia. Paulo está ensinando sobre justificação no sentido de
um ato legal de Deus nos absolvendo da culpa e nos considerando justos. Isso
fica claro na linguagem de Paulo em Romanos 3 e 4: 'imputa'; 'perdoa;' 'àquele
que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio;' Abraão nosso pai não
foi 'justificado pelas obras' (Romanos 4:1-8).
Segundo, Tiago está falando de justificação em um
sentido diferente de Paulo. Tiago refere-se à prova e demonstração do crente de
sua livre justificação pela fé somente. O homem que foi justificado somente
pela fé mostrará essa justificação. Ele a mostrará a outros homens. Ele provará
essa justificação para si mesmo. E ele mostrará essa justificação a Deus seu
juiz. Ele mostrará sua justificação pelas boas obras que sempre são fruto da
justificação. Esta, sempre foi a explicação de Tiago 2 pelos pais reformados.
Em seu comentário sobre Tiago 2:14ss, João Calvino escreveu que a justificação
pelas obras em Tiago 2 se refere à 'prova que [Abraão] deu de sua
justificação'. A justificação pelas obras em Tiago 2 significa 'que a justiça é
conhecida e provada pelos seus frutos'. Que este é realmente o significado de
Tiago, a própria passagem mostra. Tiago está discutindo com membros da igreja
que, embora professem fé, na verdade têm uma fé 'morta', uma fé que não produz
nenhuma boa obra, mas se contenta em viver impenitentemente no pecado. Tiago
desafia esse tipo de membro da igreja:
'mostra-me a tua fé sem as tuas obras', e acrescenta:
'Eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras' (v. 18). O próprio Tiago chama
a atenção para o fato de que Abraão foi justificado pelo ato legal de Deus de
perdoar pecados e imputar a justiça somente pela fé, muito antes de Abraão
oferecer seu filho Isaque no monte. Bem no meio de sua doutrina da
justificação, Tiago cita Gênesis 15:6: 'e se cumpriu a Escritura que diz:
Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça'. Isso aconteceu
muitos anos antes de Isaque nascer. Abraão creu na promessa de Deus. E a fé de
Abraão, independentemente de quaisquer obras, incluindo o sacrifício de Isaque,
foi imputada a Abraão para justiça.
Tiago está ensinando exatamente o que Jesus ensinou
em Lucas 7:47 sobre a mulher pecadora que O amou, porque Ele havia perdoado
todos os seus pecados, e que ungiu Seus pés com o precioso unguento. 'Seus
pecados, que são muitos, são perdoados; pois ela amava muito.' Ele não quis dizer
que o amor dela era a base do seu perdão. Mas Ele quis dizer que o amor dela
era prova e evidência do perdão de seus muitos pecados. Que este era o
significado, é colocado sem dúvida pela segunda parte de Lucas 7:47: 'mas a
quem pouco se perdoa, pouco ama.'
Este é o ensinamento de Tiago 2. As boas obras, que
não fazem parte do pecador ser considerado justo diante de Deus (pois isto é
somente pela fé), são o fruto necessário e a demonstração da justificação.
Pelas boas obras de gratidão amorosa, àquele que graciosamente perdoou seus
pecados, Abraão, Raabe e todo crente verdadeiro são justificados
demonstrativamente. Tiago 2, portanto, é uma passagem importante, para nos
ensinar a relação correta entre justificação pela fé somente e uma vida de boas
obras pós regeneração.
A Relação entre Justificação e Obras:
Boas obras, na verdade uma vida inteira e
consistente de boas obras - boas obras na vida pessoal, boas obras no ensino
médio, boas obras na universidade, boas obras no namoro, boas obras no
casamento, boas obras no lar e na família, boas obras no trabalho, boas obras
na igreja, boas obras no meio e contra a cultura e sociedade ímpia e depravada
na qual temos o privilégio de brilhar como luz nas trevas – digo, boas obras
são os frutos da justificação pela fé somente. Eles são frutos e evidências de
nossa justificação pela fé somente. Nossas boas obras não são as condições para
a justificação, nem a base da
justificação, nem o conteúdo da justificação, mas, e sobretudo; os frutos dela.
As boas
obras são os frutos da justificação de duas maneiras.
Primeiro, a fé pela qual somos justificados é
uma fé verdadeira e viva. Como uma fé verdadeira e viva, ela nos une ao
ressurreto e vivo Jesus Cristo, para que por essa fé também recebamos a graça
purificadora e fortalecedora de Cristo para viver uma vida piedosa. A quem Ele
justifica, a esses também santifica. Embora sejamos justificados pela fé sem
obras, a fé que justifica nunca é sem suas obras.
Em segundo lugar, as boas obras são o fruto da
justificação desta forma, que o pecador perdoado, liberto da culpa e vergonha
do pecado, e, portanto, livre da morte e do inferno, e para quem agora o céu
está aberto, e sobre quem o rosto sorridente de Deus agora brilha, amará seu
gracioso Salvador. E este amor agradecido a Deus é o motivo de uma vida de boas
obras. Oh, é um poderoso motivo para zelo por boas obras. Este foi o
ensinamento de Jesus sobre a relação entre justificação e boas obras na
parábola dos dois devedores em Lucas 7:42: 'e quando eles não tinham nada para
pagar, ele perdoou a ambos. Diga-me, portanto, qual deles o amará mais?' Se formos perdoados, amaremos. E se
formos muito perdoados, amaremos muito mais. Sem amor a Deus para justificação
graciosa, nenhuma boa obra é possível. Devemos ouvi-lo dizer à nossa alma: 'Meu
filho, Minha filha, adotada na cruz, perdoo gratuitamente todos os seus
pecados. Eu lhe imputo a justiça de Meu Filho.' Então seremos zelosos por boas
obras - não podemos deixar de ser zelosos por boas obras.
Fato é, que os defensores da justificação pelas
obras ouçam, todo trabalho que é feito com o motivo de ganhar, com o motivo de
retribuir, com o motivo de cumprir uma condição, com o motivo de nos tornarmos
dignos. fora do motivo de fundamentar nossa salvação, a fim de tornar uma
promessa graciosa, universal e eficaz para si mesmo, toda obra desse tipo é má,
é pecado. O amor funciona da única maneira que agrada a Deus. E o amor confessa
a verdade da salvação somente pela graça. O amor obedece à lei. O amor atende
aos preceitos e segue o exemplo de Jesus no evangelho. O pregador não tem
motivos para temer que, se pregar justificação somente pela fé, a doutrina
gerará descuido em sua congregação. Isso não quer dizer que não haverá quem
abuse da doutrina mostrando-se descuidado em sua vida. Que alguns farão isso;
de certa forma explica, a presença de Tiago 2 na Bíblia.
Não pode ser esquecido que Tiago 2 é uma
advertência necessária sobre justificação e boas obras. Havia na igreja naquela
época aqueles que estavam confessando em voz alta a salvação graciosa, mas estavam
deixando de viver em boas
obras, especialmente pela crueldade para com seus companheiros de igreja, ainda
existem pessoas assim na igreja.
Eu mesmo lutei com essas pessoas, e esses
foram alguns dos conflitos mais ferozes em todo o meu ministério. Oh, quão alto
eles falaram da graça soberana. Mas então em suas vidas não mostraram frutos de
boas obras. O pregador e o consistório devem admoestá-los em linguagem forte:
'Você faz uma confissão ortodoxa reformada enquanto vive perversamente? Assim
como Satanás; você saberá, ó homem vaidoso, que a fé sem obras é morta?'
Por esta mesma admoestação, escrita nas
páginas da Escritura inspirada, que vem a todos nós, nós que temos uma fé viva
somos estimulados a uma vida de boas obras, para mostrar nossa fé. Isso
glorifica a Deus, que salva, não apenas da punição do pecado, mas também da
poluição e escravidão do pecado. E Ele salva da poluição e poder do pecado da
mesma forma que Ele salva da culpa do pecado: pelo evangelho da graça, não pela
lei.
A Justificação e o crente:
Uma coisa ainda permanece nesta análise oportuna
e enriquecedora sobre o assunto, 'Justificação somente pela fé'. Os oradores
anteriores explicaram cuidadosamente a verdade disso. E porque quase todos os
ataques contra ela através dos tempos tomaram a mesma forma, ou seja, injetando
as obras do pecador como base para nossa justificação, esses oradores
distinguiram cuidadosamente entre justificação e santificação, mostraram a
relação necessária entre elas e demonstraram que a justificação ocorre tanto
objetiva quanto subjetivamente sem qualquer respeito às
nossas obras, sejam boas ou más, no corpo ou na alma, da carne ou do espírito
regenerado. Foi demonstrado que quando se trata de justificação, nossas obras
simplesmente não têm lugar algum. O que foi ensinado é a verdade da justificação
como geralmente entendida pela igreja por cerca de 2.000 anos,
mas especialmente como desenvolvida, formulada e ensinada pela igreja da Ortodoxa
Reforma, contra os erros perniciosos de Roma e dos Arminianos. O que resta neste
capítulo é explicar o significado desta verdade para a vida cotidiana do
crente.
O significado geral desta verdade já foi observado.
O tema deste capítulo usa a descrição carinhosa dada pela igreja no passado, 'o
coração do evangelho'. Oradores anteriores notaram que Lutero o chamou de 'o
artigo sobre o qual a igreja se ergue ou cai' e Calvino, 'o principal
eixo sobre o qual a religião cristã gira'. Podemos acrescentar que o
significado geral da justificação também é indicado pela profundidade do tratamento que recebeu por
tais teólogos. Por exemplo, no Livro Três de suas Institutas
da Religião Cristã, Calvino dedica nove dos 25 capítulos à justificação
pela fé somente, comparados com um sobre fé e regeneração, e três sobre
predestinação – tanto para estereótipos.
Ele também dedica oito capítulos à
santificação, reduzindo a acusação de que os reformados não têm lugar para boas
obras, à calúnia direta. O significado geral da justificação também ficou claro
no texto que lemos, onde a Escritura não apenas defende essa verdade, mas chama
aqueles que tentam derrubá-la de 'cães' e 'trabalhadores do mal'.
É o propósito deste discurso, no entanto, demonstrar
a partir das Escrituras, das confissões e dos escritores reformados, os
benefícios práticos específicos que a verdade da justificação proporciona ao
crente, e fazer isso enquanto demonstra o que é perdido quando qualquer outra
noção de justificação é entretido. Além disso, é minha intenção me concentrar
naqueles aspectos da justificação que se aplicam à nossa vida terrena atual,
uma vez que os oradores anteriores mencionaram o significado da justificação
para nossa vida e glória eternas.
O significado prático desta verdade para nossa vida
terrena atual é importante demonstrar por duas razões. Primeiro, para que os
crentes sejam encorajados a lutar com grande zelo e custo pessoal por esta
verdade contra o erro. Mesmo nesta hora atual, líderes reformados
e presbiterianos supostamente conservadores afirmam com ousadia que esta
verdade, conforme desenvolvida, formulada e ensinada pela igreja da Reforma, é
deformada, ilegítima e doentia. Em sua opinião, milhares de crentes ofereceram
suas costas aos chicotes, suas línguas às facas, suas bocas às mordaças e seus
corpos ao fogo, não pela verdade da Palavra de Deus, mas por um colossal erro
teológico cometido por nossos reformados pais.
Este ataque mais recente, que atende pelo nome de 'Visão
Federa', faz mais do que menosprezar o caro custo pago no passado pelos crentes
reformados para manter esta verdade, uma coisa desprezível por si só. Mas ao atacar
a verdade bíblica da justificação, que é de fato o coração do evangelho, os
proponentes roubam do crente seus benefícios práticos e salvadores, e Deus de
Sua glória. Os crentes, portanto, devem conhecer esses benefícios da
justificação para sua vida cotidiana, para que sejam movidos pessoalmente a
mantê-la, mesmo com grande custo pessoal.
Em segundo lugar, os benefícios práticos da verdade
da justificação devem ser demonstrados para que os crentes se aproveitem deles.
Existe o perigo de que simplesmente vejamos a justificação como uma abstração
teológica e a batalha por ela como uma briga de família sobre a semântica. O fato é que onde a justificação é mal compreendida,
rejeitada ou derrubada, simplesmente não pode haver gozo dos ricos benefícios
que ela proporciona, apenas miséria.
A justificação pela fé somente, estabelece
a justiça de Deus e nosso relacionamento legal com todas as coisas:
Para entender o significado da justificação somente
pela fé para a vida cotidiana do crente, primeiro é necessário saber o que a diferencia
de todos os outros aspectos da salvação. O que é que faz da justificação o coração do
evangelho, a principal articulação sobre a qual a religião se volta e o artigo
sobre o qual a igreja permanece ou cai? Se você supõe que a razão é que a justificação
revela mais claramente a soberana discrição, graça e misericórdia de Deus na
salvação à parte da vontade, valor e obras dos homens, você estaria enganado. É
verdade que a doutrina da justificação revela claramente essas coisas, mas não
exclusivamente ou mesmo primariamente.
O amor eletivo de Deus, a regeneração vivificante, a
santificação transformadora e, de fato, todas as partes da salvação revelam
igualmente que Deus salva à parte da vontade, valor ou obra do pecador. O que
diferencia a justificação e lhe dá seu significado único é o seguinte: De todos
os aspectos da salvação que desfrutamos, a justificação revela e exalta o
direito legal do Deus trino, ou seja, Sua justiça tanto em Seu próprio ser
quanto em Seu trato com a humanidade. E esta questão da justiça de Deus é
fundamental para o desfrute da salvação na vida cristã e é o que faz da
justificação o coração do evangelho.
A justiça de Deus se refere à verdade de que
dentro de Seu próprio ser e em todas as Suas relações com a criação, particularmente
a humanidade, o Deus trino age de acordo com o padrão de Sua própria bondade
ética. Também está implícito o direito de Deus de insistir e manter esse
padrão. A justiça de Deus não é mais apreciada nas igrejas hoje. Na verdade,
seria justo dizer que a falha em honrá-la está por trás da maioria dos
movimentos para rejeitar a verdade da justificação. As igrejas de hoje podem
estar interessadas no aperfeiçoamento pessoal e até mesmo na libertação da
miséria financeira; Mas, como Abraham Kuyper certa vez acusou, toda a questão é
meramente de “chamar a assistência do Grande Médico, que recebe Sua remuneração e depois é dispensado com
alguns agradecimentos”.
A questão do direito não entra no assunto; enquanto
o pecador for santificado, A justiça de Deus é básica para a fé cristã. É uma
perfeição essencial do próprio ser e atividade de Deus; se Deus fosse injusto
ou agisse injustamente, Ele não seria Deus. Considere também que, juntamente
com o conhecimento e a santidade, é uma perfeição que Deus comunicou ao homem
quando o criou à Sua própria imagem, e é uma perfeição que Ele restaura
imediatamente por Cristo no novo homem. Além disso, a pessoa e toda obra de
Jesus Cristo tem como propósito revelar a justiça de Deus; Na cruz, ao invés de
deixar o pecado impune, Deus puniu o mesmo em Seu Filho amado, aceitaria apenas
o sacrifício de Sua justiça como satisfação pelo pecado, e o recompensou
justamente com a mais alta honra e glória por Sua obra. O Catecismo de
Heidelberg ensina que Jesus foi provido para nos restaurar à justiça (Q. &
Art. 16), sofreu para obter justiça para nós (Q. & Art. 37), morreu para
satisfazer a justiça de Deus (Q. & Art. 40), e surgiu e ascendeu para nos
tornar participantes dessa justiça (P. & R. 45 & 49). Ele, Jesus
Cristo, o mistério da piedade, foi Ele mesmo justificado no Espírito (I Tm
3:16) para revelar a justiça de Deus.
Deveria nos surpreender, então, que a justificação,
o ato forense, jurídico e legal de Deus nos declarando justos com base na cruz,
é o coração do evangelho? É assim porque estabelece a justiça de Deus. Ela
revela que Deus é o Legislador que estabelece o certo e o errado, o Juiz que
determina o que está em conformidade com essa lei e o Rei que governa em
justiça, punindo ou recompensando de acordo com Sua lei. E uma vez que estabelece
a justiça de Deus, revela a maravilha de Sua graça em justificar os homens
perdidos. Como Herman Bavinck, muito bem colocou, 'O que Deus mais estritamente
condena em Sua santa lei, ou seja, a justificação dos ímpios (Dt 25:1), o que
Ele diz de Si mesmo Ele nunca fará (Êxodo 23:7), que Ele mesmo assim faz. Mas
Ele faz isso sem comprometer Sua justiça. Esta é a maravilha do evangelho.'
O significado adicional da justificação, então, é
que porque revela a justiça de Deus ao estabelecer um relacionamento conosco,
serve como base legal para todo relacionamento do crente. Abraham Kuyper,
observou corretamente: “O direito regula as relações. O direito é a base especialmente
das relações interpessoais. Todos são primeiramente estabelecidos e
desenvolvidos em uma base legal, a do direito. E assim, nossa justificação
serve como base para nosso relacionamento com o mundo, relacionamento com o
pecado, com a morte, com a lei, com a igreja, com cada membro da igreja, com
cada membro do mundo, mas especialmente com nosso relacionamento para Deus.
Não pode haver relacionamento com Deus à parte da
justificação, e nenhuma mudança subsequente em nossa condição por Deus, a menos
que primeiro haja uma mudança em nosso status, que é nosso relacionamento legal
com Deus, o direito legal de Deus sobre nós.
Kuyper novamente: 'É evidente que a regeneração, o
chamado e a conversão, sim, mesmo a completa reforma e santificação, não são
suficientes. Pois, embora estes sejam muito gloriosos e libertem você da mancha
e poluição do pecado... ainda assim eles não tocam sua relação jurídica com
Deus. Todo membro da igreja deve… perceber sua posição jurídica perante Deus,
agora e para sempre, de que ele não é meramente homem ou mulher, mas uma
criatura pertencente a Deus, absolutamente controlada por Deus, e culpada e
punível quando não age de acordo com a vontade de Deus.' Vamos agora examinar
mais de perto o significado da justificação pela fé somente, para o crente
nestes relacionamentos.
A Justificação
e nosso relacionamento com a Igreja:
A justificação é básica para nosso relacionamento com a igreja de Jesus Cristo. Primeiro, isso implica que a membresia correta da igreja é essencial; para desfrutar dos benefícios da justificação somente pela fé, é preciso ser um membro onde ela é ensinada e crida. A razão é que a justificação é recebida por meio do culto oficial. Por suas palavras em adoração, o publicano foi justificado, e por suas palavras em adoração o fariseu foi condenado (Mt 12:37). A declaração de Cristo de que alguém é justificado é ouvida somente através da pregação correta e oficial do evangelho por ministros chamados e enviados. Cristo deve falar, pois somente Deus pode perdoar pecados. Só Deus pode justificar. E ele escolhe fazê-lo através da pregação. Além disso, a pregação que tem em seu cerne a declaração de que os pecadores que creem em Cristo são justificados é a marca primária da verdadeira igreja.
A importância da justificação para a membresia
da igreja explica por que Lutero a chamou de artigo sobre o qual a igreja
permanece ou cai. Uma igreja verdadeira é aquela que prega a justificação
somente pela fé, e nada contrário a ela. Uma igreja que não prega e não prega a
justificação somente pela fé não é igreja. Onde a justificação somente pela fé
é rejeitada e outra forma de justificação é ensinada, simplesmente não pode
haver justificação de pecadores. Pode ter a forma de religião pura e imaculada,
mas não justifica nenhum membro.
A esse respeito, acho que a pregação que declara os
pecadores justificados de outra maneira não é diferente de um clérigo muçulmano
radical que ensina seus seguidores que são recebidos no favor de Deus por matar
infiéis detonando uma bomba suicida amarrada à cintura. Pode-se acreditar que
alguns dão a vida por essa causa, mas o que eles pregam simplesmente não
acontece. Assim também, onde o pregador declara que alguém é justificado
pela fé e pelas obras da fé, ninguém é justificado. Eles podem
declará-lo, mas simplesmente não é verdade.
No que diz respeito ao nosso relacionamento
com a igreja, a justificação também serve como base para nossa unidade
essencial como membros da igreja e julgamento correto uns dos outros. É neste
contexto que Calvino falou do julgamento de amor ou caridade. Ele observou que,
como a impiedade e a hipocrisia sempre existem na igreja e em cada membro, a
santificação por si só não pode ser usada como uma marca da verdadeira igreja,
ou de qualquer membro.
O julgamento deve ser de acordo com o amor, isto é,
de acordo com como nós mesmos seríamos julgados por outros crentes à luz da
graciosa justificação de Deus para nós. É a isso que Jesus estava se referindo
quando disse: 'Não julguem segundo a aparência, mas julguem com justiça' (João
7: 24), e 'com o julgamento com que julgarem, serão julgados' (Mt 7: 2).
Devemos ter isso em mente ao lidarmos uns com os outros. Somos até obrigados a
orar: 'Perdoa-nos os nossos pecados, assim como nós perdoamos os pecados dos
outros'.
A razão pela qual a justificação serve como base
para a nossa unidade e para o julgamento correto uns dos outros é porque ela é
o grande equalizador na igreja de Jesus Cristo. A justificação é a base legal
para a igualdade espiritual. O Catecismo de Westminster toma nota deste fato
significativo: 'A justificação liberta todos os crentes da ira vingativa de
Deus e isso perfeitamente, nesta vida, para que eles nunca caiam em condenação.
A santificação não é igual em todos, nem perfeita nesta vida em homem nenhum' (P. & R. 77). A justificação é a única coisa que todos os membros da igreja, desde criancinhas até os santos mais velhos, têm em comum. Haverá diferenças de raça, sexo, dons, posição social, posição econômica e educação. Haverá diferenças de crescimento na santificação – crianças que amadurecem espiritualmente cedo e adultos que ainda são crianças espiritualmente – mas todos devem ser vistos e tratados como iguais com base em sua justificação.
Justificação e nosso relacionamento com o mundo com nossa carne e com o pecado:
A doutrina da justificação também é significativa
para nosso relacionamento com o mundo e as coisas que pertencem a ele. A justificação muda todo o nosso
relacionamento com a criação, com a lei, com o pecado e com os membros do
mundo. Essa mudança em nosso relacionamento com o mundo e as coisas nele é
indicada nas Escrituras. A frase operativa é que 'estamos mortos' para eles.
Por esta Escritura significa que nosso relacionamento legal com eles é cortado
para que eles não tenham
mais nenhum direito sobre nós, enquanto ao mesmo tempo um novo
relacionamento é estabelecido com Jesus Cristo para que possamos
derivar toda a vida e benefício dEle.
Observamos em primeiro lugar que as Escrituras
ensinam que a justificação muda o relacionamento com nossa própria carne, que tem
suas origens neste mundo, e os pecados que têm sua origem em nossa carne. A
justificação nos torna mortos para o pecado e para a lei do pecado em nossa
carne. Por exemplo, I
Pedro 2:24 diz que Cristo 'levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro,
para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver plenamente, para a justiça'.
E Romanos 6:1-2: 'Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? Deus me
livre. Como nós, que estamos mortos para o pecado, viveremos mais nele?'
A justificação, então, é a base, possibilidade e certeza
da santificação, a libertação do poder real do pecado em nossa carne.
Justificação e santificação, então, estão necessariamente e inseparavelmente
relacionadas; a relação é a do legal com o atual, do estado com a condição, do
direito de recepção, da imputação da habitação. E eles estão necessariamente e
inseparavelmente relacionados exatamente porque é Deus quem justifica. A
justificação dá ao crente o direito de ser liberto do domínio do pecado. Por meio
dela, o direito do pecado de reinar em sua carne é legalmente derrubado. E,
visto que a justificação ocorre por meio da fé – a conexão viva e orgânica com
Jesus Cristo estabelecida por Deus – o crente certamente será liberto do poder
do pecado. Isso explica por que o Catecismo de Heidelberg pode proclamar com
tanta ousadia que é impossível que a doutrina da justificação pela fé somente
torne os homens descuidados e profanos (P. & R. 64). Por causa de seu
relacionamento com Cristo pela justificação pela fé, o crente agora está morto
para o pecado, de modo que é
impossível que a vida de Cristo falhe em ativá-lo para uma vida nova e piedosa. A
justificação não depende da santificação, mas é a base jurídica e a certeza da
mesma.
Que alguém seja justificado não significa que o
pecado está morto na carne do crente. Isso deve ficar claro; não apenas pela nossa experiência, mas pelas Escrituras.
Jó falou das iniquidades de sua juventude e que ele se abominava por causa de
seu pecado. Enquanto Davi fala de sua integridade no Salmo 7:8, ele também
confessa sua iniquidade e depravação no Salmo 51. 'Eis que em iniquidade fui
formado, e em pecado me concebeu minha mãe'. E o apóstolo Paulo, um santo justificado,
observou: 'Com a mente eu mesmo sirvo à lei de Deus; mas com a carne a lei do
pecado” (Rm 7:25).
O crente também deve reconhecer a presença do pecado
interior porque a fé é contada como justiça no homem que 'crê naquele que justifica o
ímpio' (Rm 4:5). Acredito que isso seja verdade, mesmo quando
se fala de justificação subjetiva. Os benefícios da justificação são
experimentados continuamente em nossas vidas não apenas quando confessamos
humildemente nossos pecados e depravações passados, mas especialmente quando
confessamos que enquanto santos justificados e santificados, permanecemos
pecadores em nossa carne.
Devemos aceitar a responsabilidade pessoal por nossa
depravação (pecado original); e pelo pecado que dela brota como um dilúvio.
Caso contrário, nos tornamos 'o todo' que não precisa do médico e 'os justos'
que não precisam de arrependimento' (Marcos 2: 17-18). Nas palavras de Calvino,
'para obter a justiça de Cristo, Institutos 3.11.3; 3.12.7). Um exemplo é o
publicano, que foi justificado quando clamou: 'Seja misericordioso comigo, um
pecador' - não, 'seja misericordioso comigo, que costumava ser um pecador'.
O acima, explica por que o Catecismo de
Heidelberg inclui uma seção inteira sobre nossa miséria antes da seção sobre nossa
libertação onde a justificação é proclamada. Um pregador reformado não pula
esta seção e simplesmente passa a pregar nossa libertação com a atitude: 'Bem,
essas coisas sobre pecado,
nossa miséria e depravação são algo que costumávamos ser e costumávamos
precisar de libertação.' Ele também está lá para nosso conforto; está lá para
que nos avaliemos adequadamente como somos por natureza, porque é necessário
desfrutar da justificação.
É necessário porque Jesus liberta e dá justiça
aos pobres, necessitados, oprimidos, humildes, enlutados, cansados e
sobrecarregados, famintos e sedentos de justiça. Mesmo o apóstolo Paulo
justificado, regenerado e santificado ainda podia confessar: 'Cristo Jesus veio
ao mundo para salvar os pecadores; de quem sou chefe' (I Tim. 1:15). Bavinck
colocou o ponto desta forma: 'Mesmo que o crente participe do perdão dos pecados
(justificação), ele deve conscientemente, dia a dia, continuar se apropriando dele
pela fé para desfrutar da segurança e conforto dele. É verdade que há muitos
que continuam a viver com base em uma experiência passada e se contentam com
isso, mas essa não é a vida cristã.'
Compreender a mudança da justificação em nosso
relacionamento com o pecado (que estamos mortos para o pecado, mas o pecado não
está morto em nós) também é importante para não minimizarmos o pecado ou a lei
de Deus. Oradores anteriores apontaram o fato surpreendente de que aqueles que
atacam a verdade da justificação com base no fato de que ela impede a
realização de boas obras, geralmente não defendem o padrão da lei de Deus ou a
têm em alta estima. Isso era verdade para os fariseus que se auto-justificavam;
que davam palavrões à lei nos dias de Jesus. Isso era verdade para os
arminianos e seguidores de John Wesley; bem como, é verdade hoje, para os pentecostais,
neopentecostais e carismáticos católicos!!! Há uma razão para isto.
Se alguém é justificado em parte por suas obras de acordo com o padrão da lei de Deus, então esse padrão deve ser atingível. Caso contrário, nenhum pecador pode ser justificado. O resultado de tal pensamento invariavelmente é que a perfeição exigida pela lei é diminuída, seja dizendo que a lei exige apenas um desempenho exterior perfeito, ou que Deus aceita o desempenho imperfeito como base da justificação. Impressionante também que, quando isso é feito, as boas obras aos olhos dos homens se tornam más aos olhos de Deus, pois não são frutos de gratidão por nossa justificação, mas são meios para alcançar a justificação. Este fenômeno também explica a reclamação do teólogo presbiteriano John Murray. “Muitas vezes deixamos de considerar a gravidade do nosso pecado contra Deus. Esta é a razão pela qual este grande artigo de justificação não toca os sinos nas profundezas do nosso espírito. Esta é a razão pela qual o evangelho da justificação é a tal ponto um som sem sentido no mundo e na “igreja” do século XXI.
A Justificação pela fé somente e nosso relacionamento com o mundo e com a criação natural:
No que diz respeito ao significado da
justificação para nossos relacionamentos no mundo, a justificação também é a
base para o relacionamento do crente com a criação natural. Sendo justificados,
também somos mortos para o mundo nesse sentido. No entanto, devemos acrescentar
rapidamente que ao mesmo tempo somos reconciliados com o mundo, que também é
redimido em Cristo. Isso é apresentado em dois textos em II Coríntios. No
capítulo 4:14-15 Paulo diz que um benefício da justificação é que todas as coisas
são agora por sua causa. E no capítulo 5:17-18 ele diz: 'Se alguém está em
Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo. E todas as coisas são de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por
Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação.'
O que tudo isso significa? Primeiro, o crente
está morto para o mundo no mesmo sentido em que está morto para o pecado.
Estamos mortos para os efeitos de todo mal. Eles simplesmente não podem mudar
nosso relacionamento com Deus. O mal trabalha em nosso benefício, animando o
novo homem e crucificando o velho. Satanás, mesmo quando nos tenta, serve ao
nosso Senhor.
É a isso que Calvino se referia quando, no
contexto da justificação, observou que, embora sejamos redimidos de um mundo
que de outra forma nos confina e oprime, todas as coisas agora cooperam para o
nosso bem' (Institutas 3.15.8). Nosso conforto não está simplesmente na
providência de Deus. Nosso conforto, como o Catecismo de Heidelberg ensina, é
que o Deus da providência é meu Pai, que estabeleceu aquela nova relação
adotiva quando fui justificado (P. & R. 27). Bavinck novamente: 'A marca
dos justificados é que, em meio à opressão e perseguição a que estão expostos
por todos os lados do mundo, eles colocam sua confiança no Senhor e buscam sua
salvação e bem-aventurança somente nEle. Em nenhum lugar há libertação para
eles, nem em si mesmos nem em qualquer criatura, mas somente no Senhor seu Deus.'
Em segundo lugar, esta verdade da justificação
pela fé, significa que nossa atitude em relação às coisas desta criação terrena
é mudada. Como ensina Col. 3:2-3: 'Coloque sua afeição nas coisas de cima, não
nas coisas da terra. Pois vocês estão mortos, e sua vida está escondida com
Cristo.' Ou I João 2:15: 'Não ameis o mundo, nem o que há no mundo.' Esta
atitude para com o mundo que é o resultado de nossa justificação, é capturada
por Paulo em Fil. 3:8 lemos anteriormente:
'Considero [que já sou justificado] todas as
coisas como perda, pela excelência do conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor;
por quem sofri a perda de todas as coisas, e as considero como esterco.'
Calvino chamou essa atitude de desprezo real por esta vida, acrescentando: “De
fato, não há meio termo entre esses dois. Ou o mundo deve se tornar inútil para
nós, Institutas da religião cristã 3.9.1-2).
Em terceiro lugar, a justificação também
estabelece o uso correto do mundo pelo crente. É importante lembrar que esse
desprezo que devemos ter pelo mundo não é absoluto, pois a criação está sendo
redimida e dada para nosso benefício como crentes justificados. Assim, a
justificação serve como base para o que chamamos de liberdade cristã. Como
Bavinck colocou tão bem, 'O crente que é justificado em Cristo é a criatura
mais livre do mundo.' Essa conexão provavelmente explica por que em sua seção
sobre justificação Calvino também tratou do assunto da liberdade cristã. Ele
viu que, uma vez que estamos mortos para o mundo com base em nossa
justificação, a liberdade cristã condena quaisquer restrições antibíblicas
sobre o uso das coisas boas nesta criação. Já que estamos mortos com Cristo dos
rudimentos deste mundo, enquanto vivemos nele não estamos sujeitos a ordenanças
como não tocar, não provar ou não manusear (Cl 2: 20).
Calvino diz daqueles que querem restringir o
uso desta criação a tais leis ou mesmo seu uso necessário, que eles 'algemam as
consciências com mais força do que a Palavra' e 'nos privam do fruto lícito da
beneficência de Deus' (Institutas 3.10.1). No que diz respeito ao uso lícito
desta presente criação pelos justificados, Calvino é útil quando nos dá dois
princípios principais pelos quais devemos viver.
A primeira é que usamos esta criação como se não a
usássemos, ou desfrutamos de seus dons como se não os tivéssemos. A atitude
operativa para Calvino é a indiferença. Para ele, as adiáforas eram
verdadeiramente as coisas indiferentes, ou seja, só podem ser usadas legalmente
quando somos indiferentes a elas ou, para usar a linguagem bíblica, estamos
mortos para elas. Em segundo lugar, Calvino ensinou que sendo justificados,
devemos usar e desfrutar da criação conscientes de que somos mordomos que devem
prestar contas ao nosso Pai no dia de Jesus Cristo.
A Justificação opera em nossos relacionamentos para
que tenhamos paz com Deus; Passamos finalmente ao significado da doutrina da
justificação para nosso relacionamento com Deus. Em primeiro lugar, notamos que
a justificação é o meio exclusivo pelo qual somos reconciliados com Deus, isto
é, pelo qual desfrutamos de
qualquer relacionamento pacífico e abençoado com Deus. Negativamente, isso
significa que aqueles que se justificam não são e não podem ser reconciliados
com Deus. Agora não estamos tão preocupados com aqueles que o fariam
desculpando seus pecados, mas com aqueles que tentam alcançar a justificação
com base em suas próprias obras, no todo ou em parte.
Não faz diferença que tipo de obras eles
tentam fazer parte de sua justificação - se obras supostamente realizadas por
uma pessoa não regenerada, ou boas obras supostamente feitas com um coração
santificado. Aquele que acredita que desempenha algum papel em sua justificação,
simplesmente não está justificado, seja na realidade ou na experiência.
Bavinck novamente: 'Ou você tem toda a justiça
de Cristo ou nada dela. Você não pode obter uma parte e preencher o resto por
você mesmo. Em Lucas 18:44 Jesus declarou francamente aos fariseus que tentaram
isso, que eles não eram justificados. Sua palavra afiada para todos os que usam
suas obras como base para sua justiça diante de Deus é esta: 'Vós sois os que
vos justificais diante dos homens; mas Deus conhece os vossos corações; porque
o que é muito estimado entre os homens é abominação aos olhos de Deus” (Lucas
16:15). O resultado da autojustificação é a morte eterna sob a ira de Deus. 'O
homem que faz essas coisas viverá por elas', isto é, ele não viverá de forma alguma, mas morrerá
por elas (Rm 10:5). O julgamento oficial dos reformados ortodoxo é
que 'se devemos comparecer diante de Deus, confiando em nós mesmos ou em nossas boas obras, ou qualquer
outra criatura que não seja Cristo; inevitavelmente, seremos 100% consumidos"
(Confissão Belga 23).
Mas para aqueles que acreditam que são
justificados somente por meio da fé, o benefício preeminente é a paz com Deus,
de acordo com Romanos 5:1. Sobre este texto, Calvino observou: “Ali Paulo diz
que nenhuma paz ou alegria sossegada é mantida a menos que estejamos convencidos
de que somos justificados pela fé. Aqueles que dizem que somos justificados
pela fé auxiliada pelas boas obras, nunca provaram a doçura da graça” (Institutas
3.13.5).
Justificados, temos paz com Deus porque ele
remove a culpa do pecado de nossa consciência. A paz com Deus em relação à
culpa do pecado é o que Lutero tanto desejava e o que o levou a indagar sobre o
que a Escritura diz. Tentando alcançar a justiça por meio das obras, ele estava
apavorado em sua própria consciência. Mas abandonando tudo isso e sendo
justificado pela fé, tudo isso foi tirado.
Então também nos é concedida paz com Deus, porque ele nos concede o direito de desfrutar de todas as bênçãos em Jesus Cristo. A justificação é a base para nossa adoção como Seus filhos e filhas para desfrutar de todos os direitos e privilégios da herança que é o Seu reino, e viver em comunhão consciente com Ele que é a aliança da graça. Isso deve emocionar a cada um de nós nesta noite que amamos a aliança de Deus, aquela comunhão com Deus que desfrutamos e recebemos sendo justificados.
Justificação e nosso relacionamento com Deus, Adoração que glorifica a Deus e uma vida santa agradecida:
Finalmente, notamos que a justificação é a base para
a adoração adequada, louvor sincero, honra e glória de Deus, seja por palavra
ou ação. Sem justificação, não pode haver um viver santo em gratidão, que é uma forma de
adoração. Calvino notou isso também. Depois de chamar a justificação a
principal articulação sobre a qual a religião gira, ele continua explicando o
porquê: 'A menos que você primeiro compreenda qual é sua relação com Deus e a
natureza de Seu julgamento a seu respeito, você não tem um fundamento sobre o
qual estabelecer sua salvação, nem um sobre o qual construir piedade para com
Deus '(Institutas 3.11.1). Aqui, Calvino vira a mesa contra todos os defensores
da justificação por obras, fé e obras, ou fé e obras de fé. Contra a acusação
deles de que a doutrina da justificação pela fé
sozinha impede uma vida santa, ele afirma com razão que sem ela os homens não
podem e não viverão piedosamente.
A história confirma essa afirmação. Pois sempre que
a doutrina da justificação pela fé somente é derrubada, rejeitada ou
minimizada, os membros da igreja se tornam mais profanos. A razão é que uma
vida santa é fruto da gratidão a Deus por Sua graça gratuita em nos justificar.
Sempre que acreditamos que temos alguma parte, ainda que pequena, em nossa
justificação, não podemos ser gratos a Deus. Em vez disso, não apenas seremos orgulhosos e complacentes,
mas, como Calvino afirma, 'tentar para nosso grande dano roubar do Senhor os
agradecimentos que devemos à sua bondade gratuita' (Institutas 3.13.1).
Não pode haver adoração real, louvor sincero, honra e
glória a Deus, com uma doutrina de justificação pela fé e obras – somente a justificação
pela fé somente, glorifica a Deus. Ou como as Escrituras declaram: 'Se Abraão
foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar; mas não diante de Deus”
(Rm 4:2). E isso é abominável
aos olhos de Deus, pois rouba dele a glória de sua justiça. Calvino novamente:
'Quem se gloria em si mesmo, gloria-se contra Deus. O homem não pode, sem
sacrilégio, reivindicar para si mesmo uma migalha de justiça que seja, pois isso
é arrancado e tirado da glória da justiça de Deus' (Institutas 3.13.2).
Mas quando cremos que somos justificados
somente pela fé, haverá ações de graças, louvor, honra e glória verdadeiras e
aceitáveis a Deus expressas em nossas vidas e na adoração. Isso ocorre porque,
como dissemos anteriormente, quando Deus nos justifica, Ele estabelece e nos
faz experimentar da maneira mais maravilhosa sua justiça, que por sua vez magnifica
e exalta sua graça. É por isso que as Escrituras chamam o evangelho da justiça
de evangelho glorioso. O propósito do Senhor em conceder justiça a nós graciosamente
em Cristo por meio da justificação pela fé somente é 'declarar Sua própria
justiça' (Rm 3:26). Ele deseja que toda boca seja calada e todo o mundo seja
considerado culpado diante dEle (Rm 3:19ss.), porque enquanto o homem tem algo
a dizer em sua defesa, ele diminui a glória de Deus.
Sem ser justificado somente pela fé, também não pode
haver confiança diante da justiça de Deus. Calvino novamente: 'Pode-se fácil e
prontamente tagarelar sobre o valor das obras para justificar os homens. Mas
quando nos aproximamos da presença de Deus devemos afastar tais divertimentos.
Como responderemos ao juiz celestial quando Ele nos chamar para prestar contas.
Vamos imaginar por nós mesmos esse Juiz. Não como nossas mentes naturalmente O
imaginam, mas como Ele é descrito para nós nas Escrituras. Por cujo brilho as
estrelas escurecem, por cuja força se derretem os montes, por cuja ira a terra é abalada, cuja
sabedoria surpreende os sábios em sua astúcia, além de cuja
pureza todas as coisas estão contaminadas, cuja justiça nem os anjos podem
suportar, que não torna inocente o culpado, cuja vingança, uma vez acesa,
penetra nas profundezas do inferno. Vamos contemplá-Lo, eu digo, sentado em
juízo para examinar as obras dos homens. Quem ficará confiante diante de Seu trono?
A resposta é o homem que é justificado somente pela fé e somente aquele homem'
(Institutos 3.12.1).
Todos esses benefícios para o crente justificado no
que diz respeito ao seu relacionamento com Deus estão resumidos em uma das mais
belas passagens das Confissões Reformadas: "O resultado de ser justificado
gratuitamente por Sua graça é que o crente atribui toda glória a Deus, humilha-se
diante de Deus, e reconhecendo-nos como realmente somos, confia e repousa
somente na obediência de Cristo crucificado. Isso nos dá confiança para nos
aproximarmos de Deus, libertando a consciência do medo, terror e pavor.
Portanto, como diz Hebreus 4:16, podemos chegar com confiança ao trono da
graça, a fim de alcançarmos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião
oportuna' (Confissão Belga 23).
E se estes fossem os únicos benefícios da
justificação somente pela fé, deveria ser suficiente para nos motivar a lutar
contra o próprio inferno por esta doutrina. E muitos têm. Concluímos com uma
citação apropriada de Martinho Lutero: “Quem se afasta do artigo da
justificação não conhece a Deus e é idólatra. Pois quando este artigo foi
retirado, nada resta além de erro, hipocrisia, impiedade e idolatria, embora
possa parecer o ápice da verdade, adoração a Deus e santidade.' Dê graças a
Deus por este dom indescritível de sermos justificados gratuitamente em nosso Senhor
e salvador Jesus Cristo.